Motivação e Disciplina: José Eduardo Bispo fala sobre produtividade no ambiente de trabalho

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O Portal (En)Cena entrevistou o psicólogo José Eduardo Bispo (CRP 23/2691), agresso da Ulbra Palmas.  Sua formação foi caracterizada pelo envolvimento com a área da psicologia do esporte através de diversas práticas de estágio e extensão, somado a isso, fez sua ênfase na Análise do Comportamento e Desempenho. Atualmente foca sua atuação em assuntos relacionados à alta performance, motivação e disciplina. Nessa entrevista, falamos um pouco sobre Produtividade, Motivação e Disciplina no ambiente de trabalho e como isso tem afetado a saúde dos trabalhadores. 

(En)Cena: O que é ser uma pessoa produtiva, de acordo com a visão psicológica?

José Eduardo Bispo: A psicologia é bem generosa quanto ao conceito de produtividade. Inclusive, trabalha há diversos anos para desconstruir esse estigma de que trabalhar 11 ou 12 horas seja algum sinônimo de produtividade. Esse movimento é visto principalmente junto com as big techs, algumas em São Paulo inclusive, que já adotaram as medidas de menores cargas horárias de trabalho e perceberam que isso converteu-se em mais desempenho e mais trabalho apresentado para a empresa. Digamos que a psicologia foi uma das precursoras nessa tentativa de desconstruir que está acontecendo, devagar, mas ainda assim progredindo. Ocorre então a desconstrução do que seria desempenho e produtividade, do modelo antigo e baseado na idade média, de produzir o dia todo e trabalhar sempre. Por essa ótica, a motivação e a vontade de ir para o trabalho ou para uma coisa que é fixa e maçante diminui. Chega um momento onde há uma curva de cansaço e isso é normal, está dentro da nossa biologia. O que a gente tenta levar para esse indivíduo, é tirar esse senso de que estar cansado e exausto sempre é produtividade. A intenção é deixar com que esse indivíduo se sinta mais motivado e animado com a rotina de trabalho. 

(En)Cena: Como podemos encontrar motivação no ambiente de trabalho?

José Eduardo Bispo: Ao desconstruir a logística de trabalho exaustivo, desconstruimos também a ideia de que se algo que não foi concluído, tem que ser concluído no mesmo dia, se não a empresa/pessoa vai à falência. Desconstruindo esses conceitos que a gente tem um trabalhador mais descansado e mais motivado porque sabe que o trabalho vai ser mais descontraído, com menos pressões para bater metas que muitas vezes são irrealistas e a partir disso esse trabalhador vai ter mais produtividade por conta da sensibilização desse ambiente que a maioria das vezes é ligado à uma ideia de ambiente exaustivo que faz com que ele sempre saia cansado sem conseguir fazer mais nada. 

                                                                                                                                                   fonte PixaBay

(En)Cena: Como ser produtivo quando falta motivação?

José Eduardo Bispo: É importante desconstruir essa logística de que a motivação sempre vai estar no alto e que esse indivíduo sempre vai estar animado para produzir. Na logística do desempenho, a partir do livro “Psicologia Produtiva” ele pontua que essa motivação vai estar sempre atrelada a figuras mais associadas a lideranças do que a chefia nos princípios arcaicos. Essa liderança sai do papel de um chefe que fica sempre exigindo e não está junto com o trabalhador na maioria das vezes já a liderança seria uma coisa mais horizontal, em que existe um acompanhamento em relação ao desenvolvimento desse trabalhador e ao mesmo tempo também desenvolve esse senso de motivação, sempre tentando motivar o trabalhador com afirmações positivas. 

(En)Cena: Qual a relação entre motivação e disciplina? 

José Eduardo Bispo: A partir das motivações positivas, citadas nas respostas acima, esse ambiente de trabalho ficaria menos desgastante e estimularia um desempenho e desenvolvimento maior. Por um momento esse indivíduo chegaria em uma logística de tentar ser mais produtivo devido o ambiente mais estabilizado e a partir disso essa disciplina vai surgindo aos poucos, é claro que no momento que esse ambiente por algum motivo vinhesse a desestabilização, esse trabalhador pode voltar a ter uma indisciplina no sentido de baixa produtividade, então é importante sempre estar fazendo essa manutenção, tanto na equipe de liderança vertical, como na equipe horizontal, que é a equipe mais próxima do trabalhador. 

                                                                                                                                               fonte PixaBay

(En)Cena: Quais os pilares para alcançar a disciplina ?

José Eduardo Bispo: O estabelecimento de metas realistas pode estimular, cada vez mais a disciplina desse trabalhador que busca um melhor desempenho. A partir dessas metas realísticas acompanha também o feedback de grupo que é fundamental para que a equipe de liderança mantenha a motivação e empenho da equipe, pois a partir do feedback de grupo. O feedback de grupo é dar um retorno sempre que esse trabalhador tenha algum comportamento ou evento esperado por essa empresa, para essa organização. É importante que esse feedback seja dado tanto em grupo quanto no individual com ações afirmativas sobre o que ele está fazendo de certo para que estimule cada vez mais esse desempenho, e do contrário quando tem algo negativo que esse trabalhador precise desse feedback é importante o feedback também em grupo e individual, porque sabemos que o trabalho individual afeta o grupo também. Essas práticas de deixar o ambiente menos pressionado e mais sensibilizado estimula de forma significativa, as pesquisas das big techs e experimentos feitos vem acompanhado dessa afirmativa.  

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O Tratamento do deficiente intelectual e múltiplo: um olhar profissional

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A primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) foi fundada em dezembro de 1954 na cidade do Rio de Janeiro, que na época era a capital do Brasil. Caracteriza-se por ser uma instituição responsável pelo cuidado com os deficientes intelectuais e múltiplos e tem como missão a promoção e articulação das ações de defesa de direitos e prevenção, orientação, prestação de serviços e apoio à família, direcionadas à melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência e à construção de uma sociedade justa e solidária. O trabalho com os deficientes intelectuais e múltiplos é algo de extrema importância mas bastante negligenciado e desconhecido, devido às dificuldades e falta de conhecimento sobre essa área poucos profissionais decidem por essa atuação. Devido a sua importância porém pouca visibilidade decidimos entrevistar parte da equipe multiprofissional da saúde da APAE de Paraíso do Tocantins. Convidamos a Terapeuta Ocupacional Talita Dias, formada pela facudade PUC do Goiás, e ingressou no mercado de trabalho na área dos cuidados com pessoas especiais, através da Apae de Paraíso há mais de 10 anos, e no ano de 2022 abriu sua clínica particular Integrar Paraíso (@integrarparaiso) que é um Centro de Reabilitação Infanto Juvenil, composta por uma equipe multidisciplinar com o intuito de trabalhar com esse mesmo público. Também entrevistamos a Psicóloga Savanna Ferreira Dala, formada pela faculdade Ceulp/Ulbra de Palmas – TO, já trabalhou na Secretaria da Educação como Psicóloga Escolar e atualmente trabalha com o público de deficientes intelectuais. 

(En)Cena: Como vocês chegaram até a Apae?

Savanna: Quando eu cheguei na apae eu já tinha uns dois anos de formada e trabalhava na Diretoria Regional de Ensino, na parte de psicologia educacional.  Após perder o emprego, a presidente da época me convidou para vir trabalhar aqui, eu não conhecia o trabalho das APAEs e nunca nem tinha trabalhado com crianças especiais apesar de trabalhar na área da educação, era voltado para crianças de ensino regular. 

Talita: Me formei em Goiânia na PUC, após 6 meses que eu estava desempregada  recebi a proposta aqui de paraíso, na época eu nem sabia que existia essa cidade, eu vim através da Dona Daura que era presidente na época e isso já faz 16 anos. Eu costumo dizer que caí aqui de paraquedas, já conhecia o trabalho das APAEs através de estágios na faculdade mas nunca tinha tido um contato tão profundo. 

(En)Cena: Como funciona a atuação profissional na APAE?

Savanna: O trabalho da psicologia aqui é bem versátil, tem muitas áreas da psicologia aqui que a gente trabalha aqui dentro, dois exemplos que podemos citar é a psicologia escolar e clínica porque a gente trabalha com orientação de professores, a parte cognitiva das crianças, a aprendizagem e também questões emocionais, familiares, orientação de pais, entre outros. Já tentamos algumas vezes fazer grupo de pais mas não é algo muito fácil de ser realizado porque eles não aceitam e não aderem ao trabalho, às vezes vem e param de vir mas o foco acaba sendo também a família e não somente o aluno.

As crianças que têm o entendimento para trabalhar o emocional, atividades voltadas para o convívio social a gente trabalha e as crianças que não tem esse desenvolvimento cognitiva a gente acaba trabalhando esse desenvolvimento cognitivo de aprendizagem, raciocínio, atenção, concentração, muito voltado para essas duas vertentes, então depende muito do desenvolvimento e do comprometimento cognitivo de cada um, a patologia e o CID que cada um tem. 

Talita: Eu trabalho a parte cognitiva de forma lúdica, a reabilitação física de membros superiores e trabalho a parte de AVDs (atividades da vida diária). 

(En)Cena: Quais os maiores desafios que você enxerga em relação ao seu trabalho? 

Savanna: Eu vejo que uma grande dificuldade é a falta de aceitação dos pais em relação à realidade do filho, porque quando o pai aceita, adere e abraça o história do filho, vê as dificuldades que o filho tem, aceita que aquilo é uma realidade e que se não ajudarem a criança pode não evoluir, se eles aceitam temos um tratamento mais eficaz e uma evolução melhor, mas quando o pai não aceita encontra-se muitas limitações, tanto emocionais quanto de fazer o que se pede, porque precisamos lembrar que o tratamento não é só aqui dentro, muitas vezes orientamos a uma mudança de rotina ou uma atividade diferenciada em casa pra dar continuidade ao que é ensinado aqui, tem pais que fazem e abraçam e tem pais que não. Outra questão que eu vejo também é a frustração que temos como profissional, no começo eu ficava bastante assim, porque o paciente, algumas vezes, não tem a evolução que esperamos devido a patologia, muitas vezes o paciente consegue atingir algo em uma semana e na próxima semana ele já regrediu novamente e quando eu cheguei aqui eu me cobrava bastante achando que eu ficaria a vida inteira trabalhando a mesma coisa sem alcançar uma evolução mas depois eu comecei a entender que é uma área diferente de atuação dentro da psicologia, não é como trabalhar em uma escola regular ou atender um paciente na clínica particular com uma criança sem deficiência intelectual, é totalmente diferente e por isso a gente entende que qualquer ganho é positivo. Eu vejo também que por causa desses fatores para trabalhar aqui é necessário ter um gosto pelo trabalho porque se não, dificilmente o profissional vai permanecer. 

Talita: O maior desafio aqui na clínica são os pais que não ajudam, a equipe multidisciplinar na clínica orienta os pais a dar continuidade no tratamento dentro de casa, e consegue-se enxergar  nitidamente diferença  da evolução dos pacientes em que a família dá esses suporte daqueles que não possuem esse suporte familiar. Outra dificuldade que temos aqui é a questão financeira, porque às vezes precisamos de um equipamento, algo que é mais caro, mas que a instituição não pode comprar e acaba tendo que passar por licitações que acaba sendo demorado ou nem chega. Tem coisas que vão além do que fazemos aqui, um exemplo disso é o desfralde, eu não consigo trabalhar um desfralde sem a ajuda de um pai, ou a seletividade alimentar também, são coisas que não podemos fazer sem a cooperação dos pais no processo. 

                                                                                                                fonte pixabay

(En)Cena: Já aconteceu de um paciente estagnar nas respostas terapêuticas?, Se sim, como proceder? 

Savanna: Chegar ao ápice do desenvolvimento não é algo que acontece, o que pode acontecer é da família não aceitar que o paciente chega em uma certa idade em que ele não vai passar daquilo. Que ele já alcançou na parte cognitivo porque dentro da idade que ele possui para conseguir ir além. Vai ser em passos mais lentos do que já foi até o momento presente. Por exemplo às vezes o paciente tem trinta anos e não conseguiu falar, e a mãe quer que ele fale ou o responsável quer que ele leia, e o desenvolvimento cognitivo dele mostra que ele não vai ser capaz de ler fluentemente. Ele pode até reconhecer letras mas não consegue ler. Pode ser devido a idade ou questões cognitivas mesmo. Esse impasse existe muito e na maioria das vezes a família não aceita, então se a gente tira determinado paciente do tratamento para dar oportunidade para alguém que tem cinco anos de idade e que a gente sabe que vai conseguir desenvolver melhor porque ela ainda tem essa flexibilidade no cérebro de desenvolvimento. A elasticidade ainda está boa para aprendizagem e por isso ela vai conseguir e já um cérebro de trinta anos já se encontra com mais dificuldades, então acaba sendo melhor dar oportunidade para o paciente de cinco anos, sempre relacionando isso sobre as vagas, porque o atendimento na instituição é bem concorrido. Mas é claro que se pudéssemos atender a todos, essa seria a nossa opção. 

Outra coisa que a gente busca fazer é manter em sintonia com a área pedagógica da instituição, por que às vezes a professora vai conseguir evoluir com ele algumas coisas que seriam trabalhadas aqui com a gente, e isso acaba abrindo vaga para os novos pacientes aqui na clínica. 

Talita: Chegar ao ápice da evolução nunca aconteceu dentro da terapia ocupacional, o que aconteceu foi que o paciente conseguiu alcançar tudo o que eu tinha listado e de certa forma não tinha mais o que fazer. Teve um caso aqui na instituição em que a minha paciente já tinha alcançado tudo na parte sensorial, ela também tinha relações cognitivas para serem tratadasmas ela já estava em outra escola e instituições que trabalhavam as mesmas coisas, então para dar vaga pra outros eu acabei dando alta pra ela. Nesse processo a gente chama a família, orienta, explica os motivos da alta que estamos dando, isso acontece bastante nas crianças da estimulação precoce, quando elas conseguem alcançar os marcos principais como, subir escada, caminhar, correr, pular então nós chegamos nós pais e avisamos aquilo que ele já conseguiu fazer e damos alta orientando a família nos próximos passos a serem feitos.

(En)Cena: Quais os ganhos para vocês como profissionais trabalhando aqui na instituição?

Savanna: Na minha visão, vejo que abriu nossa mente para essa área do desenvolvimento, seja ele infantil, cognitivo, de que tem crianças lá fora que precisam da gente também. Tanto que acabei expandindo e abrindo um consultório particular nessa área.E aqui abriu muitas portas pra mim profissionalmente por que eu vejo que aprendi muita coisa que nem sabia que existia. E com o tempo eu aprendi coisas que não aprendi na faculdade, porque a gente acaba não aprendendo tudo lá, a gente fica mais no campo da teoria, mas na prática, a realidade é mais trabalhando mesmo e eu considero que eu fiz outra faculdade aqui. 

Talita: Entre tantas coisas que eu posso pontuar aqui, eu vejo que meu olhar clínico foi muito aguçado e melhorado ao decorrer dos anos., Hoje a gente  que trabalha nessa área da avaliação já consegue identificar com mais facilidade pessoas que possuem traços de atraso no desenvolvimento, claro que tem aquelas crianças que te deixam dúvida, mas a maioria dos casos é bem certeiro mesmo, e isso é muito bom até porque quanto mais cedo algo é identificado, mais cedo o tratamento pode ser iniciado e mais eficaz ele vai ser. Com todos esses anos aqui eu também tive meus olhos e desejo abertos para estudar mais esse mundo do autismo, que tem sido uma queixa que tem crescido cada vez mais. A gente acaba buscando muita qualificação fora da instituição, porque a gente sabe que muitas vezes a realidade da instituição não consegue proporcionar formações mais eficazes pra gente. muitas vezes por uma questão financeira mesmo, de tantas demandas. Eu estou aqui já há dezesseis anos e pra mim é quase uma vida e eu realmente pude aprender muito. 

                                                                                                                          fonte pixabay

Que dica você deixa para algum estudante ou  profissional formado que gostaria de seguir nessa área?

Savanna: Olha, eu digo que essa área é apaixonante para aqueles que pegam gosto, e essa área em especial não tem como ser feito sem amor, nao tem como fazer por obrigação ou pelo dinheiro, porque os desafios são diversos, não que em outras áreas de atuação não tenha desafios, mas quando se trata de crianças especiais a gente sabe que tudo tem que ser e dobro, a paciência, o amor, a dedicação. Então eu digo que primeiramente precisa existir um gosto mesmo pela área de atuação  para conseguir vencer todos os obstáculos que vem pela frente quando se decide por essa prática, é claro que eu também digo que é necessário, assim como todas as áreas de atuação dentro da saúde, buscar um conhecimento fora daquilo que é falado na faculdade, porque a gente sabe que o conhecimento que a faculdade nos passa é só a ponta do iceberg de um mundo de conhecimento que nós vamos precisar na hora da prática, então acredito que sempre buscar mais conhecimento é essencial também, e por último eu diria para não ter medo de praticar, sempre com muito respeito e zelo pela vida que está sendo confiada a você.

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Jack e o mito da perfeição: como a busca pela perfeição pode nos prejudicar

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Em 2016 foi lançada a série “This is Us” que tem como enfoque contar a história geracional da família Pearson. A história da família inicia com o casamento de Jack e Rebecca que posteriormente engravidaram de trigêmeos. Após perderem um dos filhos durante o trabalho de parto, acabam adotando um bebê que coincidentemente foi abandonado na porta do hospital no mesmo dia. 

A série vai mostrar a vida da família, seus desafios e conquistas e a realidade dos três filhos que são carinhosamente apelidados de “The Big Tree” por seus pais. Por ser uma história conectada através das três linhas de tempo (passado, presente e futuro), conseguimos enxergar os impactos dos diferentes eventos em cada um dos personagens. Essas vivências geram uma conexão emocional entre a série e os telespectadores, causando muitas emoções naqueles que já assistiram. 

Dentro da trama, existe um evento que acaba sendo central para o desenvolvimento de diversas outras partes da história, que é a morte de Jack, o pai. O seu falecimento  e todo o desenrolar da história a partir desse evento acabam trazendo diversos ensinamentos, um deles é a análise que podemos fazer sobre o mito da perfeição. 

Durante a vida de Jack podemos ver o esforço que ele empenhou para ser um bom esposo. Desde o início da relação lutou para dar um estilo de vida que condizesse com o que Rebeca possuía, trabalhando para dar o melhor para ela, fazendo presente na relação deles o amor, respeito e companheirismo. Com o decorrer da história, também conseguimos perceber o grande esforço que ele fez para quebrar os padrões que vivenciou dentro de casa da sua infância até a sua juventude, como o alcoolismo e as práticas violentas de seu pai com ele, sua mãe e irmão.

                                                                  fonte: https://encurtador.com.br/FLRVW

Todo esse histórico de esforço e superação fez com que sua família o colocasse em um pedestal após sua morte, pintando uma imagem de homem perfeito. Fez-se muito presente nos filhos a ânsia em ser como o pai, o que gerava diversas frustrações quando algum deles se via errando em coisas que o pai supostamente não erraria. Ao invés  de se ajudarem quando o outro errava, muitas vezes havia mais críticas e julgamentos por  não conseguirem alcançar o que deveria ser a sua suposta obrigação : ser como o pai. 

Assim como a série passa a mostrar adiante, essa situação acaba por se tornar adoecedora para a família, pois esse mito de alcançar e/ou ser como as pessoas que admiramos é injusto. É impossível ser como alguém, mesmo que esse alguém seja uma figura parental central na criação, afinal todos nós somos diferentes. Essas diferenças não estão necessariamente relacionadas às vivências que possuímos e sim a como as enxergamos. 

Nichols (2007) afirma “as experiências são ambíguas”, ou seja, uma mesma vivência pode causar diferentes impactos sobre as pessoas. Muitas vezes não é sobre o que vivemos e sim sobre as histórias que contamos a nós mesmos a partir dessas vivências. Assim, buscar ser como outra pessoa seria partir da ideia de que os pensamentos sobre os eventos da vida são os mesmos para todos; e não vão ser. 

Pensamos diferente, logo, possuímos pontos de vista e construções de opinião diferentes. Se apegar à ideia de ser exatamente como outra pessoa também incorre em abrir mão da própria autenticidade, fazendo com que passemos a desvalorizar os nossos acertos e supervalorizar os erros. 

Além disso, é importante pontuar que Jack não era perfeito, na verdade ele estava muito longe disso. O personagem se esforçava sim em ser alguém melhor a cada dia, no entanto,  a narrativa apresenta  diversas ocasiões em que ele não conseguiu superar suas dificuldades, como quando ele se encontra em episódios de alcoolismo, ou como quando não conseguiu resolver suas questões com seu irmão e preferiu esconder esse problema. Esses eventos acabaram sendo esquecidos  por seus filhos, que se cobravam tanto por algo que nem o próprio pai conseguia dominar. McGoldrick (1995) enfatiza que os problemas da vida familiar não devem ser controlados e sim ajustados, e esses ajustes não são lineares, isso significa que as mudanças que queremos realizar não vão caminhar de forma crescente o tempo inteiro, e a falta de entendimento dessa premissa fez com que por muitas vezes os personagens da série se colocassem em um lugar de grande culpa, e nisso podemos refletir que a mesma coisa acontece conosco quando acreditamos não existir altos e baixos nos processos que vivenciamos na vida. Ao acreditar que um processo de mudança será sempre crescente, ao vivenciarmos um regresso, desanimamos e fortalecemos crenças erradas ao nosso respeito. 

                                                           fonte https://encurtador.com.br/lFWX3

Talvez ao ouvir “seja você mesmo”, já não levemos com tanta seriedade assim, por achar algo batido de se falar e ouvir. No entanto, nesse contexto podemos encaixar perfeitamente. Ao invés de gastar nossas forças imitando um outro alguém, podemos nos esforçar para melhorar quem já somos para enfim chegar a quem queremos nos tornar.

As informações apresentadas até aqui não tem o intuito de afirmar que não devemos ter pessoas nas quais nos inspirar. Ter alguém em quem se inspirar não é algo ruim. Muito pelo contrário, significa que temos respeito e admiração por essa pessoa e esses sentimentos com certeza nos agregam. Porém, inspiração não precisa ser imitação, podemos admirar e nos inspirar em alguém sem deixar de sermos quem somos ou desejamos ser.  Talvez seja essa uma das lições mais importantes que a família Pearson possa nos ensinar. 

Referências:

NICHOLS, Michael. Terapia Familiar: Conceitos e Métodos. Porto Alegre : Artmed, 2007.

CARTER, Betty; MCGOLDRICK, Monica. As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar: Uma estrutura para a terapia familiar. Artmed. Março de 1995. 

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1984: Um mundo utópico ou distópico, depende do ponto de vista

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Em 1949 o autor inglês George Orwell lança seu livro de ficção utópica e distópica intitulado “1984”, que relata uma realidade futurística. Para entender um pouco mais sobre os significados e críticas que o livro abrange é importante pontuar o que são utopias e distopias, a utopia é a descrição de uma realidade perfeita, algo idealizado, sem defeito algum. Já a distopia caracteriza-se pelo oposto, refere-se ao grau máximo de opressão, desespero, privação entre as diversas características ruins possíveis de serem colocadas aqui. Parece ser um tanto contraditório dizer que um mesmo livro apresenta essas duas características, mas se analisarmos a leitura por diferentes pontos de vista as coisas começarão a fazer sentido.

O romance se passa na Oceânia, onde um dia fora Londres. Nesta cidade existe o partido Ingsoc, que está constantemente vigiando os moradores por meio de diversas câmeras e muita monitoração. Todo esse sistema é chamado de “O Grande Irmão”. Esse partido é representado por quatro ministérios, sendo eles o Ministério da Verdade, que é responsável por todos os escritos do governo e é guiado pela premissa de que o Estado é infalível; o Ministério da Paz, responsável pela organização das guerras; o Ministério da Fartura, que detêm a economia; e por fim o Ministério do Amor, que tem como principais tarefas a espionagem e controle da população.

                                                                                fonte https://olavete.com.br/george-orwell/

Retrato do escritor George Orwell

Winston Smith, que faz parte da área de documentos do Ministério da Verdade, é o personagem principal da história. Sua função no departamento era de alterar todos os dados documentais e históricos a fim de deixar a imagem do estado intocável, para que nenhuma informação manchasse sua reputação e tudo apontasse para uma boa gestão do estado (mesmo que a realidade não estivesse de acordo com as informações). Assim toda verdade era editada e aquilo que não podia ser editado era destruído. Quando alguém questionava os documentos apresentados pelo governo, essa pessoa era acusada de cometer um crime de ideia, sendo de responsabilidade da Polícia do Pensamento eliminar o indivíduo. A fiscalização era tão grande que até os relacionamentos amorosos eram motivos de suspeita e monitoramento.

Ao decorrer da narrativa, o livro vai mostrar o desapontamento de Winston com o sistema, mas a sua incapacidade de lutar contra ele. Até que ele conhece Julia e acaba se apaixonando por ela. Ela trabalhava no Departamento de Ficção e compartilhava do mesmo sentimento que Winston em relação à realidade que viviam. Ao se juntarem, eles acabam acreditando cada vez mais na possibilidade de uma rebelião, plano que acabou não dando certo, pois ao final da história eles foram desmascarados, presos e torturados.

                                                                                                    fonte pixabay

Essa obra literária, tão rica e atual, mesmo que escrita há tantos anos atrás, nos traz diversas reflexões sobre nossa vida no coletivo. Um dos aspectos que podemos analisar é a maneira como as ideias divergentes não são respeitadas nesse mundo utópico, se visto do ponto de vista do governo, em que tudo deve ser como eles desejam, mas tão distópica se vista do ponto de vista da população que não tem a liberdade nem para pensar diferente, quem dirá expressar esses pensamentos.

Essa realidade não está muito distante do que vivemos atualmente, que a cada dia mais estamos sendo enviesados pelas informações da internet, um exemplo claro disso é o estudo do conjunto de dados e informações presentes na rede, conhecida também como big data, apesar do volume gigantesco de dados, ainda sim somos expostos apenas aquilo que nosso algoritmo nos mostra, ele é o responsável por decodificar e processar as informações a nós apresentadas nos limitando aquilo que pode ser classificado como do nosso agrado, e isso pode fazer com que cada vez mais nos fechemos aos pensamentos diferentes gerando intolerância.

Não podemos deixar de perceber e pontuar a evolução que conquistamos na luta pelo respeito das diferenças, seja em qual campo de ideia for, mas também não podemos deixar de pontuar a grande trajetória que ainda precisamos percorrer para alcançar cada vez mais o respeito em meio às diferenças. É importante sempre lembrar que a nossa liberdade de expressão não pode impedir que pensamentos opostos aos nossos também sejam expostos e que é possível haver discordância e respeito, o mundo intolerante em que vivemos faz essa missão parecer impossível, mas à medida que mudamos nosso olhar para as diferenças talvez as pessoas ao nosso redor também se despertem à isso.

 

REFERÊNCIAS

RWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia dasLetras, 2009.

FICHA TÉCNICA

fonte https://encurtador.com.br/efKX2

Autor: George Orwell

Páginas: 416

Lançamento: 21 julho 2009

ISBN: 8535914846

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(En)Cena realiza intervenção sobre Saúde Mental em Unidade Básica de Saúde de Paraíso

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Nesta terça-feira, 19, o (En)Cena realizou uma intervenção pública na Unidade Básica de Saúde Leste da cidade de Paraíso do Tocantins. O tema da ação foi o cuidado com Saúde Mental dos idosos com usuários que se encontravam na fila de espera para o atendimento.

                                        Fonte: arquivo pessoal.

As estagiárias Heloysa Dantas e Giovanna Bernardo conscientizaram a população sobre temas relacionados à valorização  da vida e hábitos saudáveis, tendo em vista as atividades de prevenção ao suicídio realizadas durante o “Setembro Amarelo”. O enfoque na saúde mental dos idosos têm se tornado relevante com o aumento dos números de suicídios na velhice. Fatores de riscos estão associados à negligenciada pela sociedade, ao cuidado em saúde mental voltado apenas da juventude/adultez, além das dificuldades e demandas próprias do processo de envelhecimento.

                                                                              Fonte: arquivo pessoal.

Durante a ação, as acadêmicas de psicologia conversaram com as pessoas da fila de espera da Unidade Básica de Saúde e entregaram panfletos informativos, perguntando sobre hábitos e costumes que auxiliam no cuidado com saúde mental e sobre pilares essenciais nessa busca, como uma alimentação saudável, laços afetivos, busca por novas atividades/hobbies e atividades físicas. Além disso, conscientizaram a população sobre o Serviço Escola de Psicologia da Ulbra Palmas (SEPSI).

O portal (En)Cena foi lançado em 2011, idealizado e mantido pelos cursos de Psicologia, Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia de Software da Ulbra Palmas. A proposta deste projeto tem como objetivo maior o fomento para a criação e a publicação de relatos de experiências que se caracterizam como estratégias substitutivas ao modelo hegemônico em saúde em produções textuais, imagéticas e sonoras que perpassam o campo da saúde mental. Trata-se, de maneira mais específica, de um Portal aberto ao compartilhamento de produções de narrativas textuais e imagéticas de professores, acadêmicos e usuários dos serviços de saúde que colaboram em diversas seções (Narrativas, Cinema, TV e Literatura, Personagens, Séries, Comportamento e Galeria).

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Gabriel Primo: especialista em neurociência fala sobre relações adoecedoras

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Gabriel Primo é psicólogo egresso da Ulbra Palmas, atualmente atua com foco no trabalho clínico com jovens adultos de forma presencial e online. O profissional fala em suas redes sociais (@primogabriel) sobre dependência emocional e como lidar com esse mal, já levantou discussões importantes como despersonalização, ciúmes e o fortalecimento pessoal dentro das relações. O Portal (En)Cena o convidou para responder algumas perguntas sobre o impacto dos nossos relacionamentos na nossa saúde.

(En)Cena: Muito se fala sobre bons hábitos, como boa alimentação, regulação de sono e atividade física para construção de uma vida saudável. Pouco se fala sobre a construção de relações saudáveis para uma boa qualidade de vida. Como as relações saudáveis podem influenciar na construção da saúde do indivíduo ?

Gabriel: Afeta diretamente. A relação amorosa ou afetivo/sexual está como parte natural do ser humano. Aquela ideia de que o indivíduo “nasce, cresce, reproduz e morre” dá o tom que o objetivo dessa vida é procriar, e para procriar precisamos do outro. A sociedade evoluiu e assim também as relações, o procriar ficou em segundo plano e o relacionar tomou posição principal. Mas a ideia de que precisamos “achar” alguém ainda permanece como sendo objetivo de vida.

Os comerciais, as empresas, os filmes e séries usam essa narrativa para vender e retroalimentam essa necessidade de encontrar alguém pra vida fazer sentido. E é aí que o bicho pega: se encontramos e aceitamos alguém que nos faz mal, sem mesmo percebermos, a vida piora exponencialmente. É comum encontrar casais mais antigos, com os quais ocorre a separação e a pessoa se cura da depressão, ou melhora o humor e a vontade de viver.

(En)Cena: Como podemos nos desvincular de relações que nos adoecem mesmo quando a convivência não pode ser impedida ?

Gabriel: Essa é a resposta de um milhão de reais, quem tiver que venda bem. Mas olhando para o cotidiano, cada história é uma e cada pessoa também é única, então aqui temos diversas saídas. Se desvincular de um relacionamento sempre será doloroso ou (mesmo que minimamente) será complicado. O primeiro ponto é aceitar que nesse momento é chegado o fim (estando ou não na relação ainda) e a partir daí traçar uma rota de saída com o menor dano possível. E quando falamos de dano, são os emocionais, mas também financeiros, familiares. Fora possíveis danos físicos, as pessoas podem se mostrar muito diferentes no fim das coisas. Costumo falar para as pessoas que me ouvem que precisamos ser espertos, mas não da parte ruim ou dar uma rasteira em alguém. E sim ser esperto para pular caso alguém dê uma rasteira. No fim das relações, a emoção tem que ficar em segundo plano (sei que é muito difícil) e dar lugar para algo mais racional. A terapia ajuda demais aqui, mas uma amiga(o) sensata também ajuda.

                                                                                                                    fonte pixabay

(En)Cena: E quando somos nós os responsáveis por gerar adoecimento nas nossas relações, como identificar nossos padrões e mudá-los ?

Gabriel: Geralmente quem tem um comportamento hostil na relação, não percebe mas é avisado pelo outro da relação ou pelas pessoas ao redor. Costumo dizer que o mais difícil na terapia é “aceitar”, e nesse ponto, a pessoa hostil da relação geralmente não aceita que é o maior responsável pelo adoecimento da relação ou da outra pessoa. O caminho é ouvir a emoção. Quais são as emoções que dominam essa relação? A relação é pautada no amor, companheirismo, atração e admiração? Ou pautada em raiva, ciúmes, mágoa e descontentamento?

A conta nunca fica de um lado só, mas é necessário que a maior parte seja do lado bom da força. Se a pessoa consegue aceitar que seu comportamento afeta a relação, a busca por melhoria através de terapia pode ser muito positiva, mas para além de terapia, a busca por conhecimento e novas vivências e perspectivas também são caminhos.

                                                                                                                                          fonte pixabay

(En)Cena: Como estabelecer limites nas nossas relações para que não haja esgotamento emocional/físico?

Gabriel: Estabelecer limites virou frase de 10 em cada 10 terapeutas. É muito importante colocar limites em todas as relações, mas que seja feita de forma comum. Costumo dizer que nossa vida é terapêutica e as relações o são também. Colocar limites não é obrigar alguém a respeitar um pedido. Limites são colocados em todo o tempo, a grande diferença está naquilo que você aceita e aquilo que não. E isso é mostrado através do que você diz, do que se cala, para que abaixa a cabeça ou não. Do que obedece ou não. O que faz bem feito mesmo não querendo ou não… e por aí vai. Você está ensinando todo mundo ao seu redor a como te tratar o tempo inteiro. Então estabelecer limites é o manejo que você tem com sua própria vida, a rotina daquilo que se aceita e não aceita. É como escovar os dentes, é um hábito. Freud tem uma frase que reverbera sempre na minha cabeça. “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda.” O que quero dizer com esse exemplo, é que ninguém fica numa relação ruim a toa, os ganhos secundários (geralmente) são maiores do que a força de mudança para colocar limites, mas uma hora a conta chega. E novamente esse manejo é individual.

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Prazer, um ansioso

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Guilherme Mourão (Autor)

 

 

Dentro do meu peito

Um universo de coisas

Das pequenas à grandes

Conhecidas e desconhecidas

Tudo em um só lugar

Querendo se dissipar

Tudo sem sintonia

Buscando se acalmar

 

Dentro da minha mente

Um universo de pensamentos

Coisas que queria dizer

Outras que nem queria pensar

E de todas elas

Tenho tentado me livrar

                                                                                       Fonte:pixabay

Mas quanto mais eu tento

Mais eu falho

E fico aqui pensando

Será se existe uma solução

Será se tem uma saída

Para a dor do meu coração

E quanto mais eu sinto

Mais eu quero me livrar

 

 

E mais ainda eu não consigo parar

Quando converso comigo mesmo

Só consigo ouvir ruídos

Da pressa da vida

Da comparação das pessoas

Dos julgamentos que batem na minha porta

Mas a minha própria voz

Não estou reconhecendo mais

                                                                                            Fonte:pixabay

 

E se eu falo pra você

Sei que não vai entender

Mas não te peço que entenda

Nem que resolva minha situação

Sei que só eu poderia fazer isso

Sei que não vão existir heróis nessa história

 

Só eu posso sair do poço que me coloquei

Mas se você, de alguma maneira

Tiver uma corda que me ajude a subir

Não existe em jogar

Outra coisa te peço também

Quero que me respeite

E que não julgue minha condição

 

E mesmo com todos os julgamentos

Não te desejo a mesma situação

Desejo sair dessa

E não te ver entrar

Desejo saúde, leveza e amor

Que você saiba estender um ombro amigo

E que, apesar da minha dor, eu também

 

Quando eu sair dessa

Quero ajudar a quem precisa

E enquanto ainda estou aqui

Digo para mim e para todos que também estão

Desistir, não é uma opção!

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“Ele não está tão a fim de você” – expectativas sobre as relações e novas maneiras de viver

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À medida que as gerações vão passando novas maneiras de viver vão sendo estabelecidas, e as antigas percepções vão se transformando, mas ainda sim, quando se trata de relacionamentos amorosos, muitos de nós somos levados a acreditar que a nossa felicidade terá início quando encontrarmos alguém para passar o resto de nossas vidas, e isso pode nos levar a pensar que uma vez que encontramos esse alguém, nossa satisfação enfim será concretizada. Muitos de nós ainda somos levados pela ideia de que o sucesso, no âmbito relacional, está associado à formação daquilo que conhecemos como a família tradicional (pai, mãe e filhos), e tudo o que foge desse padrão acaba sendo taxado como um fracasso pessoal.

O Filme “Ele não está tão a fim de você” originalmente conhecido como “He’s just not That into you”, dirigido por Ken Kwapis e lançado nos cinemas no ano de 2009 veio para trazer uma reflexão de maneira leve e até certo ponto cômica sobre esses padrões estabelecidos sobre a vida amorosa. O filme vai contar quatro histórias diferentes que estão ao mesmo tempo interligadas, nelas encontramos Gigi, interpretada por Ginnifer Goodwin, que é uma romântica incurável buscando encontrar o grande amor da sua vida, nessa busca acaba se tornando amiga de Alex, interpretado por Justin Long, logo após não receber a ligação de Connor um cara que ela saiu na semana anterior, Alex apresenta a ela uma visão mais realista sobre relacionamentos amorosos e como eles funcionam. Também conhecemos a história de Beth e Neil, interpretados respectivamente por Jennifer Aniston e Ben Affleck que namoram há sete anos, Beth sempre demonstrava desejo pelo casamento, mas Neil nunca concordou com a ideia. As outras duas histórias que conhecemos são as de Connor (Kevin Connolly) que é apaixonado por sua amiga Anna (Scarlett Johansson), uma cantora que o vê apenas como um bom amigo, Anna por sua vez acaba se interessando por Ben (Bradley Cooper) que está casado com Janine (Jennifer Connelly).

Fonte: Divulgação HBO

Trazendo um enfoque na história da Gigi e da Janine, podemos refletir um pouco sobre os diferentes processos emocionais na vida de ambas as personagens. Vemos que a busca de Gigi desde sempre foi estabelecer uma relação amorosa algo que já havia se estabelecido na vida de Janine, que era casada com um homem dentro dos padrões de beleza e aparentemente bem sucedido financeiramente, ou seja, estava em uma relação que se encontrava dentro dos padrões construídos socialmente, mas mesmo assim não se via satisfeita devido vários problemas matrimoniais que possuíam.

Janine se coloca em um lugar de lutar pelo casamento, acreditando na melhoria da fase que se encontravam, isso é muito comum, pois uma vez que estamos em uma relação aquela realidade na maioria das vezes é considerada como nossa homeostase, ou seja, nosso equilíbrio e uma vez que isso precisa ser quebrado, nosso equilíbrio também precisará ser refeito, e nós naturalmente buscamos nos esquivar disso.

No final esperamos por vários desfechos, sendo que alguns personagens acabam conseguindo o que queriam, Gigi por exemplo encontra aquilo que ela tanto buscava, um grande amor, Beth é finalmente pedida em casamento por seu namorado Neil. Mas quando olhamos para o desfecho de Janine somos tentados a pensar que foi algo triste, pois o casamento que ela estava tentando “fazer dar certo” acaba chegando ao divórcio após a descoberta de uma traição.

Da mesma maneira, trazemos essas interpretações para a realidade que nos cerca ao impor que a satisfação e felicidade está em um relacionamento e acabamos perdendo a percepção de que muitas vezes há uma maior felicidade em fins do que em começos. Como por exemplo, alguém que há tempos se encontra sem saída dentro de algum relacionamento tóxico, o sentimento de realização ao conseguir sair dele pode vir a ser muito maior do que o de alguém que está prestes a se casar.

Fonte: Divulgação HBO

Não podemos nos encaixotar em ideias tão simplistas na construção da satisfação emocional e achar que apenas um modelo estático pode trazer essa felicidade, mas assim como apontado no filme devemos entender que cada pessoa vive um processo diferente, e buscar a cada dia mais nos afastar da ideia de que existe um modelo de relacionamento ideal e até mesmo de um momento ideal para entrar em um relacionamento, o que precisamos fazer é sempre levar em consideração que cada pessoa possui uma história de vida diferente, logo cada um terá processos diferentes.

Essa mudança de pensamento vem a partir das nossas reflexões sobre a realidade e a flexibilidade dos conceitos a nós apresentados ao decorrer da vida, por isso precisamos refletir sobre a rigidez dos padrões a nós apresentados e abrir portas para novos modelos de realidade.

 

 

 

 

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Abrindo espaço para as diferenças

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Relato de experiência sobre o encontro entre religião e psicologia

Fonte Agência Brasil


A religião sempre fez parte da minha vida de maneira significativa, eu nasci em uma família que tem valores cristãos como norteadores, e pais pastores; quando criança a maioria das minhas lembranças foram construídas em ambientes como na igreja, retiros e eventos semelhantes, além da maioria das minhas amizades também serem construídas a partir dessa realidade.

Hoje, posso dizer que grande parte do que sou e acredito está baseado nessa construção e nesses valores a mim apresentados desde cedo. Por essa realidade sempre ser a maior parte daquilo que eu vivia, isso nunca gerou em mim conflitos e questionamentos tanto sobre as crenças que eu acredito, como sobre os costumes e pensamentos que carrego durante tantos anos.

Quando entrei no curso de Psicologia, foi um dos primeiros contatos com um meio em que tive a oportunidade de conviver com diversas pessoas que pensam e possuem crenças totalmente diferentes da minha, hoje em dia eu encaro isso como um grande privilégio, mas nem sempre foi assim.

O curso de psicologia é caracterizado pela discussão de diversos temas que podem ser vistos como delicados dentro da sociedade em que vivemos, além disso também é caracterizado pela diversidade de pessoas que optam por estudá-lo, construindo um ambiente de diferentes ideias, pensamentos e crenças. E isso começou a me causar crises de identidade sobre aquilo que eu passei uma vida toda aprendendo.

Teve determinados períodos e matérias que eu comecei a me perguntar se a psicologia realmente era para mim, por achar que para me tornar uma boa profissional teria que abrir mão daquilo que eu acreditava, e isso me gerou bastante sofrimento, em achar que iria me formar e nunca conseguiria atuar, e esse dilema foi crescendo em mim ao decorrer do tempo.

Fonte Agência Brasil

Quando eu entrei no sexto período do curso, comecei a fazer terapia, e lembro que em uma determinada sessão começamos a conversar sobre meus medos como futura profissional, lembro-me de ser a primeira vez que conversava com alguém sobre aquilo que pensei durante tanto tempo, e essa conversa foi essencial para mim.

Naquela sessão eu pude entender como a psicologia realmente funcionava, sem o peso que eu sempre coloquei sobre ela. Eu entendi que a psicologia não era sobre eu abandonar minhas crenças e ter a mesma opinião que meus pacientes, também não era sobre eu conseguir me conectar apenas com pessoas que pensam como eu, pois isso pode ser muito limitador, não apenas como profissional mas também como pessoa.

Comecei a entender que como prática clínica eu posso sim atender e ter um vínculo com alguém que pensa diferente de mim, sempre entendendo que o espaço terapêutico é do paciente e que eu jamais irei induzi-lo a nada, e sim ajudá-lo a despertar nele aquilo que ele pensa ser melhor, pois seria muita arrogância pensar que o diploma conquistado me dá o direito de ditar aquilo que é melhor ou pior para alguém, por fim, quando estava em supervisão clínica escutei uma frase que foi a cereja do bolo que faltava dentro desse processo: “Precisamos nos afastar ideologicamente e nos aproximar afetivamente”, isso abriu os meus olhos para entender as diversas possibilidades que a psicologia nos dá quando nos preocupamos com a pessoa que está a nossa frente e não com as ideologias.

Fonte Agência Brasil

Hoje eu vejo que essa experiência vivida no decorrer do curso me ensinou uma lição muito valiosa, a de que uma das coisas mais incríveis que nós temos na vida é o privilégio de conviver com pessoas que pensam diferente de nós, também pude ver o quanto perdemos quando escutamos o outro sem genuinamente se interessar em conhecer o mundo daquela pessoa e simplesmente como intuito de convencê-lo a pensar como nós.

Em suma, pude perceber que uma das coisas mais valiosas que existe é a diversidade, as diferenças, e quando elas são respeitadas conseguimos ser melhores e tornar o mundo um pouco melhor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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