CORRERIA: a sobrecarga de atividades e a luta contra o tempo.

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Não imaginava que escrever sobre si mesmo fosse tão difícil. Durante toda a minha vida, a palavra “correria” sempre esteve no meu vocabulário, e eu vou explicar o porquê no decorrer deste relato. Falando um pouco sobre mim, eu sou filho caçula de uma relação com três filhos, nascido e criado em regiões periféricas, em Porto Nacional, uma cidade vizinha da capital do Tocantins. Desde moleque, minha rotina sempre foi comprometida, e eu irei apontar aqui algumas experiências vivenciadas nas minhas fases de desenvolvimento.

Aos 4 meses de vida, meu pai faleceu e então, minha mãe se tornou mãe solo, e decidiu assumir esse posto até hoje, pois tinha muito medo de ter um novo homem dentro de casa que não tratasse bem seus três filhos. Desde que me entendo por gente, minha mãe trabalhou na educação, e foi naquela educação onde o profissional tinha que fazer de tudo, já foi professora do berçário até o EJA- Educação para Jovens e Adultos, e eu acho que a correria vem de berço, porque sempre vi a minha mãe muito atarefada, e vejo  essa mesma correria nos meus irmãos. 

Desde muito novo, eu sempre fui vizinho de locais marginalizados, onde a presença de crimes era bastante comum. No meu ensino médio, tinha vários colegas que apresentavam condutas condutas criminosas. Assim, minha mãe viu a necessidade de preencher esse período que eu não estava na escola com compromissos que ocupavam o meu tempo livre, de forma que me deixasse mais distante da rua. 

Quando criança, fui colocado em um instituto rodeado de policiais (risos) o Pioneiros Mirins, um local onde recebíamos auxílio escolar, acesso ao esporte, e tinha uma doutrina militar onde os alunos deveriam seguir um padrão de comportamento, educação e por aí vai. Então minha rotina nessa época se resumia em ir de bicicleta para a escola (junto com a minha mãe que trabalhava lá), retornar para casa e no período vespertino ir para esse tal Instituto também de bicicleta, não era tão perto e isso me deixava exausto. 

Aos 12 Anos, esse Instituto que citei anteriormente já não existia, e então, minha mãe decidiu que deveria procurar outra coisa para evitar esse meu contato com má influência na rua, e dessa vez foi auxiliando em um mercadinho do bairro, da amiga dela, e então, eu ficava pela manhã na escola e ao retornar eu ficava nesse mercadinho até a hora que minha mãe chegasse em casa. É importante dizer que nunca foi para completar renda em casa, não só a minha mãe, mas tias e primos mais velhos, sempre deixaram claro os perigos da rua, e a visão que as pessoas/autoridades tinham de jovens negros que moram em região periférica. 

Com 14 anos de idade eu fiz um processo seletivo para entrar no Instituto Federal aqui da minha cidade, e cursar o Ensino Médio Integrado a um curso técnico em Meio Ambiente, felizmente eu passei, mas a correria REAL começou aí, o ensino era integral dois dos três anos de curso/ensino médio eu percorria de bicicleta acompanhado de um amigo de infância, a rotina consistia em realizar esse percurso quatro vezes por dia, era em média 10 min de percurso, que quando considerado o sol Tocantins de meio dia e das 14 horas, pareciam horas (risos). Aqui o ensino era diferente, e o nível de exigência também, nesse período eu conheci pessoas muito importantes.

Após finalizar o Ensino Médio/ Técnico eu ingressei na faculdade a cerca de 60 km de distância da minha casa, em Palmas, no curso de Sistemas de Informação, em paralelo a isso eu também comecei a trabalhar como aprendiz aos 17 anos. No começo a minha rotina se baseia  em trabalhar como aprendiz em meio período, ter a tarde para estudar e descansar,  e pegar um transporte universitário no fim da tarde  para a cidade vizinha diariamente para fazer faculdade. Então eu tinha a minha manhã, noite e algumas madrugadas comprometidas. 

A quase cinco anos atrás, eu deixei de ser aprendiz e deixei de cursar Sistemas de Informação, eu consegui uma bolsa para cursar Psicologia, um curso em que eu realmente me sentia motivado em cursar e passei a trabalhar efetivamente na empresa onde eu era aprendiz, atuando como Analista de controle de qualidade em um laboratório físico químico, em uma indústria de alimentos , esse período por mais tenha sido muito bom, foi de muito sacrifício, pois minha rotina passou a começar muito cedo, às 4:50 da manhã para ir trabalhar, retornar e me direcionar diariamente para Palmas estudar.

Afogado em livros
Fonte: Pixabay

Esse período foi marcado por muito esforço, em busca de me tornar um profissional acima da média, de me sentir útil/ relevante e poder dar orgulho para a parte da minha família que sempre torceu por mim, mas também, mostrar que sou capaz para outra parte da família e sociedade que sempre duvidou, então eu confesso que esse período foi de uma constante busca por espaço, com excessiva cobrança comigo mesmo, e alto nível de exigência. 

Atualmente eu sigo no curso de Psicologia, mas agora, na reta final do curso,  a correria é ainda maior, conciliar aulas, estágios, supervisões, e atendimentos, não é nada fácil e já não é mais somente em um período, os compromissos por vezes contemplam o dia todo, e o fato de morar em outra cidade potencializa ainda mais a dificuldade em concluir todos esses compromissos. Sigo na mesma indústria, mas agora trabalhando como  monitor de processo e auxiliando na gestão de uma equipe operacional, na linha de produção. Uma função que exige mais de mim, do meu tempo, do meu preparo físico e controle emocional. 

É importante lembrar que além de toda essa correria, ainda existem as responsabilidades sociais, com a família, os problemas pessoais, as relações no geral, hobbies e as outras coisas que permeiam uma vida normal. A luta contra o tempo sempre foi um desafio para mim, e por diversas vezes achei 24 horas tão pouco. No entanto, entendo que isso tudo foi e é importante para quem eu sou, e confesso que quando vivo fora dessa realidade de ter sempre muito o que fazer, me gera muita estranheza e inquietação.

Mesmo que eu tenha me adaptado a esse estilo de vida, com muitos compromissos, assumindo responsabilidades, e me enfiando em novas atividades, é inegável que isso resulta em algumas complicações, pois me vejo cansado por diversas vezes, com o nível de estresse elevado, dedicando poucas horas para o sono e boa alimentação, e até mesmo exagerando diversas vezes no uso de cafeína para auxiliar se manter ativo, e tudo isso tem um preço.

Andrews (2003) Trás o estresse como um dos fatores que podem trazer prejuízos para o equilíbrio do indivíduo, podendo então afetar a qualidade de vida. Selye (1936) completa dizendo que esse estresse se dá por uma reação do organismo frente a esse acúmulo de esforço, e que por mais que consigamos lidar com essas tarefas, ainda assim podemos ter dificuldade em ter uma sensação de bem-estar. E isso eu vejo em mim, eu sempre costumo cumprir metas, datas e horários, e por mais que eu consiga contemplar tudo isso, a sensação de estar estressado e agitado, é inevitável. 

Referências

ANDREWS, Susan. Stress a seu favor: como gerenciar sua vida em tempos de crise. São Paulo: Agora, 2003

SELYE, H.A. Syndrome produced by diverce nervous agents. Nature; 1936.

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Antônio Drauzio Varella: um exemplo de envelhecimento saudável

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Antônio Drauzio Varella é um renomado médico oncologista, escritor e divulgador científico brasileiro. Nascido em 3 de maio de 1943, em São Paulo, formou-se em medicina pela Universidade de São Paulo (USP) em 1968, especializando-se em oncologia no Hospital do Câncer de São Paulo. Durante a década de 1970, trabalhou no Hospital do Câncer, no Hospital do Servidor Público Estadual e no Hospital do Ipiranga.

Drauzio também é autor de diversos livros, incluindo “Estação Carandiru” (1999), que relata suas experiências como médico voluntário no maior presídio da América Latina, e “Por um Fio” (2004), sobre o câncer. Seus livros já foram traduzidos para diversos idiomas e venderam milhões de cópias em todo o mundo.

Ao longo de sua carreira, Drauzio recebeu inúmeros prêmios, incluindo a Ordem do Mérito Cultural, concedida pelo governo brasileiro em 2018, e o Prêmio Jabuti, em 2000 e 2016, na categoria “Ciências Naturais e Tecnologia”e se tornou um importante divulgador científico e defensor da saúde pública no Brasil e no mundo, sendo amplamente respeitado por sua contribuição à medicina e à sociedade.

Além de câncer, Drauzio tem forte influência no combate da AIDS e na prevenção de outras doenças sexualmente transmissíveis, que se iniciaram em 1989 quando Drauzio foi voluntário no presídio Carandiru, no qual investigou a prevalência do HIV entre os detentos.

Hoje Drauzio Varella é um personagem de muita importância para a sociedade, através da comunicação. Com sua influência, Drauzio consegue promover acesso a informações para grande parte da sociedade de forma acessível, pela TV, revistas, sites e outros meios de comunicação, promovendo então a promoção de saúde e bem estar da sociedade. 

Com forte influência nos veículos de informação, Drauzio Varella ergue a bandeira do envelhecimento saudável, sendo não somente um ícone em comunicação, mas também um grande exemplo a ser seguido, Drauzio os 50 anos de idade, decidiu realizar sua primeira maratona, e atualmente aos 79 anos de idade, ele completa uma maratona em Londres de pouco mais de cinco 5 horas de duração, sendo um exemplo de envelhecimento ativo e de forma saudável, influenciando o público de todas as idades.

Fonte: encurtador.com.br/juLW4

Para Freitas (2011) o envelhecimento saudável é uma pauta extremamente relevante a ser discutida, principalmente em relação ao crescente de casos de inaptidão física e dependência, que podem acarretar doenças crônicas, sequelas , fraturas ósseas, doenças cardiovasculares e diversas outras complicações. Veiga (2016) completa que partir  de diversos fatores a importância de  estratégias como o exercício físico que buscam amenizar patologias e condições que afetarão diretamente o bem estar, desempenho funcional e cognitivo.

De acordo Nascimento (2011) a crescente no número de idosos, associada aos números de dificuldades que a idade pode acarretar, a atividade visita pode proporcionar um aumento na longevidade e um melhor enfrentamento acerca das demandas funcionais dessa população, podendo também  longo prazo pode promover uma melhora no desempenho cognitivo através de adequações cerebrais.

Ribeiro (2012) o exercício físico promove uma melhoria da capacidade física, proporcionando uma melhor disposição e interação social. Alguns idosos por diversas vezes se sentem sozinhos e fragilizados, a atividade física pode integrar esse idoso dentro de um novo contexto  onde eles podem conhecer e expandir o seu círculo de amizade, podendo evitar  também a tendência de isolamento.

Drauzio em entrevistas, reportagens e nos seus próprios meios de comunicação, estimula seu público a criarem hábitos saudáveis e garantirem um melhor envelhecimento. Mesmo aos 79 anos de idade, ele mantém o ritmo e enxerga na atividade física uma forma de se manter ativo. Este exemplo acaba se projetando em quem consome seus conteúdos, dada a influência desse personagem na comunidade em geral.

Drauzio também é um exemplo na luta contra o tabagismo e é uma referência na luta pelo antitabagismo, expondo os prejuízos do hábito de fumar. Por sua vez, Drauzio foi fumante dos 17 aos 36 anos de idade, e com frequência encoraja o seu público a abandonar esse hábito. Fumar em qualquer uma de suas formas causa a maior parte de todos os cânceres de pulmão e contribui de forma significativa para acidentes cerebrovasculares ataques cardíacos e diversas outras condições críticas de saúde (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2020).

Esse hábito também contribui com os surgimentos de doenças crônicas, impotência sexual e diversos outros prejuízos que diminuem a qualidade de vida dos indivíduos e quem está ao seu redor. Martins (2022) aponta que a disseminação da  nicotina se dá para todos os tecidos do corpo, tais como pulmão, cérebro e outros. Sendo também encontrado na saliva, no suco gástrico, leite materno, e com isso podemos entender a onda de prejuízos que esse hábito pode acarretar para a sociedade.

A partir do exposto, evidencia-se que Antônio Drauzio Varella é uma figura nacionalmente importante, pois além de levar educação popular em saúde para a sociedade brasileira, ainda é um exemplo vivo daquilo que acredita e defende. 

 Referências 

FREITAS, E.; PY, L. (Org.). Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 3ª ed., 2011. p.1507-1521

VEIGA,  Bruna  et  al.  Avaliação  de  funcionalidade  e  incapacidade  de  idosos  longevos  em  acompanhamento ambulatorial utilizando a WHODAS 2.0. Rev. bras. geriatr. gerontol., Rio  de Janeiro , v. 19, n. 6, p. 10151021, Dec. 2016 .

NASCIMENTO, S. R. C. Nível de Atividade Física e Qualidade de Vida de Idosos. Monografia apresentada ao curso de Educação Física da Universidade Estadual da Paraíba. Paraíba, 2011. 

RIBEIRO, J. A. B. et al. Adesão de idosos a programas de atividade física:motivação e significância. Revista Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 34, n. 4, p. 969-984, out./dez. 2012.

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Health Effects of Cigarette Smoking. Disponível em <:  https://www.cdc.gov/tobacco/data_statistics/fact_sheets/health_effects/effects_cig_smoking/ >. Acessado em 28 mar. 2023.

MARTINS, S. R. Nicotina: o que sabemos? Nota técnica sobre a nicotina. ACT Promoção da Saúde. Rio de Janeiro: 2022. 48p. Disponível em: <https://actbr.org.br/uploads/arquivos/ACT-Nicotina-NotaTecnica-%284%29.pdf> Acesso em: 28 Mar. 2023.

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Awake: não durma no ponto

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Um jogo em que o sono deixa o sonho de 1 milhão de dólares mais longe.

 

Divulgação Netflix

Não Durma no Ponto (Awake: The Million Dollar Game) é um reality show apresentado por James Davis, lançado em 2019 pela a Netflix cuja a ideia do jogo  principal é fazer com  que os jogadores efetuem desafios relativamente simples, em extrema privação do sono. Os participantes são submetidos a ficarem mais de 24 horas acordados, passando por provas em que exige uma capacidade de atenção, equilíbrio, memória, coordenação motora e diversas outras condições a fim da tão desejada premiação de 1 milhão de dólares.

Inicialmente todos os jogadores são colocados em uma tarefa tediosa de contar moedas por 24h, e no final os participantes que tiveram uma quantidade maior de erros são eliminados e os demais seguem para o próximo desafio, que irá pôr em prova outro aspecto que podem ter sofrido com essa privação.  É interessante que todas as provas anteriormente são testadas por testadores descansados, e a partir dos resultados deles diante das mesmas provas, é possível notar a discrepância de desempenho em relação aos participantes em privação do sono.

É possível notar que os vencedores das provas, são aqueles que melhor conseguem lidar com essa privação. Entre as provas, diversos relatos de falta de atenção, dificuldade motora, de equilíbrio, memória e raciocínio são apresentados, com isso, podemos através deste divertido jogo enxergar os efeitos da privação do sono em tarefas simples que podem estar presentes no nosso dia a dia.

Em uma das provas, os jogadores tinham que passar uma linha por dentro de todas as agulhas fixadas em uma base, em um determinado período de tempo, nesse desafio é possível notar que após mais de 24 horas de privação do sono, os participantes tiveram uma grande dificuldade de exercer suas capacidades motoras, tendo um deles que relata ter dificuldade na visualização do furo. Cardoso (2020) apontou a associação entre a menor duração do sono com o rebaixamento de desempenho em tarefas manuais, podendo então associar com a demora na execução da tarefa.

Em um dado momento do jogo, os participantes têm os seus reflexos testados: um ovo é fixado próximo ao rosto, e quando um sinal de luz é acionado eles precisam quebrar o ovo o mais rápido possível. Os testadores descansados dessa prova tiveram um tempo de reação de em média 0.30 segundos, no entanto, um dos participantes teve a com média de 1.14 segundo, e nenhum deles se equipara a média dos indivíduos descansados, mostrando então o quanto o sono pode prejudicar o tempo de ação frente a uma atividade simples.

Divulgação Netflix

Trazendo aspectos das provas anteriormente citadas, essa extrema privação pode trazer prejuízos na concentração, na coordenação e no tempo de reação. De acordo com as informações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, pessoas com mais de 24 horas de privação do sono, podem sentir efeitos semelhantes a 0,10%  de concentração de álcool no sangue. Neste sentido, é possível evidenciar que a privação de sono se relaciona com aumento da exposição a riscos de acidentes de trânsito, por exemplo, bem como se associa com o envolvimento em outras atividades potencialmente perigosas, já que a área cerebral responsável pelo juízo crítico é afetada pelo sono insuficiente (CDC, 2020).

Na dinâmica seguinte, os participantes devem arremessar em uma base perfurante, balões com moedas no interior, o desafio consiste em pegar o maior número de moedas, antes que elas caiam no chão, em um determinado tempo. No decorrer do desafio, os participantes relatam a dificuldade visual em enxergar as moedas caindo, e alguns deles inclusive, confundem as moedas com um pedaço de balão. Gazzaniga, Ivry e Mangun, (2006) traz através de estudos de neuroimagem que essa privação pode afetar áreas do cérebro relacionadas ao processo visual, podendo prejudicar a localização de objetos em movimento.

A dinâmica a seguir consistia em desparafusar a tampa de um chimpanzé de brinquedo que emite um som, a fim de retirar as pilhas dos brinquedos. Os jogadores durante a realização dessa prova relataram uma enorme dificuldade motora em desparafusar o brinquedo, principalmente com a presença do som que o mesmo emitia, com isso, podemos entender o prejuízo da privação de sono nesse aspecto, pois se trata de um tipo de atividade que diariamente pessoas estão expostas, seja em casa ou no trabalho. Os testadores descasados tiveram uma média de oito brinquedos desparafusados, enquanto o participante em privação com o melhor rendimento, conseguiu retirar as pilhas de apenas 4 brinquedos.

                                                                                                         Divulgação Netflix

Isso ocorre devido ao período ativo do indivíduo e com a falta de sono, os participantes não conseguem restabelecer suas funções motoras e cognitivas, e por isso é comum identificar diversas dificuldades que os jogadores encontram no decorrer da dinâmica, considerando o decréscimo no desempenho. Jansen (2007) assinala que o sono é um um processo essencial para o equilíbrio do funcionamento humano, assim como outras necessidades básicas como alimento e água.

Assim, a falta de sono, seja ela decorrente de uma privação voluntária ou devido a condições específicas de saúde, pode causar alterações significativas nas dimensões físicas, emocionais, sociais, ocupacionais e cognitivas do indivíduo.

Em um dos episódios, os jogadores foram levados a ouvir os sons de animais, e em seguida, separar as cartas que representam cada animal, o participante com a maior quantidade de acertos, venceria a prova. Nesse desafio os participantes relataram a dificuldade de concentração e até mesmo alteração na audição.  Babkoff (2005) entende que a diminuição da percepção auditiva pode haver relação com a privação do sono, em um estudo apontam o rebaixamento de em média 28% na resolução de estímulos auditivos após uma noite mal dormida.

No decorrer do programa os desafios mostram aos espectadores a importância de manter uma boa noite de sono, pois os prejuízos dessa privação podem influenciar diretamente no desempenho dos indivíduos em exercer tarefas simples, prejuízos esses que podem inclusive expor as pessoas a uma condição de risco e ao desenvolvimento de doenças. O reality consegue de forma divertida gerar reflexão dos espectadores acerca das complicações cognitivas e fisiológicas em indivíduos com extrema privação do sono.

Referências

BABKOFF. Effect of the diurnal rhythm and 24 h of sleep deprivation on dichotic temporal order judgment. 2005.

CARDOSO, L. R. L. et al. Sleep Restriction Effects on a Robotic Guided Motor Task. In: 8th International Conference on Biomedical Robotics and Biomechatronics , Anais 2020.

CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. NIOSH Training for Nurses on Shift Work and Long Work Hours. 2020. Disponível em <: https://www.cdc.gov/niosh/work-hour-training-for-nurses/longhours/mod3/08.html#print >. Acessado em 14 mar. 2023.

JANSEN JM, et al. Medicina da noite: da cronobiologia à prática clínica. SciELO – Fiocruz: Rio de Janeiro. 2007

Gazzaniga, M.S., Ivry, R.B. & Mangun, G.R. (2006). Neurociência cognitiva:  a  biologia da  mente,  (2ª  ed.).  São  Paulo:  Artmed Editora.

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Os prejuízos da privação de sono

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Pesquisas recentes apontam que ⅓ dos adultos relatam dormir menos de 7 horas por noite.

Engin_Akyurt / Pixabay

Atribuições do dia a dia fazem com que as pessoas durmam cada vez menos.

Assim como se alimentar bem, se hidratar e praticar exercícios físicos, dormir é uma necessidade fisiológica fundamental para o nosso funcionamento. Noites mal dormidas podem gerar diversos problemas que são capazes de afetar todo o corpo, o humor e favorecer os surgimentos de condições patológicas.

É muito comum ver grandes empresários e influenciadores nas redes sociais justificarem suas poucas horas de sono com a necessidade de produzir cada vez mais, no entanto, isso parece ser uma ideia saudável a ser seguida. Isto porque uma baixa quantidade e qualidade do sono pode atrapalhar o bom funcionamento das pessoas em diversos cenários da vida.

A privação do sono se caracteriza quando o indivíduo dorme menos do que é necessário.  Ao contrário do que é muito disseminado por aí, não existe uma quantidade fixa de horas ideal para todas as pessoas. Figueira (2021) essa  privação quando aguda em pessoas  saudáveis gera consequências a nível neurobiológico, podendo afetar o comportamento, a cognição, o apetite e outras alterações.

É importante considerar a idade e como a pessoa lida com a quantidade específica de horas dormidas por noite. Apesar de ser um fenômeno variável e individual,  existe uma média que varia de 7 a 8 horas por noite. E novamente, não só a quantidade de horas importa, mas a qualidade do sono também, que deve levar o indivíduo a acordar de manhã com a sensação de que a noite foi restauradora.

Para Cirelli, (2021) Essa privação é entendida quando há no indivíduo uma deficiência na restauração do corpo e no bem estar subjetivo. Em uma pesquisa, foi levantado que 1/3 dos adultos que participaram dessa amostra constataram que dormem menos de 7 horas diárias.

Em pesquisa nos Estados Unidos,  Chattu (2018) evidenciou que as poucas horas de sono aumentam o risco de mortalidade e tem sido associada com um pouco menos que a  metade das principais causas de morte no país, como a diabetes, hipertensão e outras doenças. Em meio aos compromissos do dia a dia, dormir é visto como algo não tão importante para muitos, e com isso, utilizam da privação voluntária do sono um tempo extra que podem utilizar para se dedicarem cada vez mais às suas demandas, sem pensar nas complicações desse hábito.

Essa privação pode ocorrer em todas as fases da vida, desde uma mudança de rotina na gestação, ao excesso de exposição às telas de celulares e equipamentos eletrônicos, e até mesmo associados ao consumo abusivo de cafeína e outras substâncias estimulantes, fazendo com que as pessoas durmam menos, mas por um preço.

                                                                                                                           Lukasbieri/ Pixabay

A exposição abusiva de telas prejudicam a higiene do sono.

A internet vem mudando a forma como nos relacionamos, e a partir dela temos uma vasta fonte de informações e possibilidades. Por mais que a internet trouxe diversos benefícios, Amra (2017) entende que o uso abusivo dessa ferramenta tem levantado preocupação a saúde,  prejudicando a higiene do sono. É comum que em meio ao contexto social em que vivemos, onde assumimos diversas responsabilidades acadêmicas, sociais, de trabalho e relações, acabamos expostos a telas de smartphones, TV´s e outros meios de informação, onde o indivíduo por diversas vezes trocam por horas de sono.

                                                                                                                                        Pexels/Pixabay

A cafeína não substitui uma noite de sono.

O abuso no consumo de cafeína ou outras substâncias estimulantes também são utilizados como uma tentativa de driblar o sono, mantendo os indivíduos mais ativos e dispostos para dedicarem horas de noite em claros em busca de cumprir com as diversas demandas de suas vidas, maratonar algum conteúdo de entretenimento e assim por diante (BOUER, s/d).

Embora a sensação de está em alerta, de ter aumentado a disposição e reduzido a sonolência, o uso de cafeína ou de outras substâncias estimulantes não são capazes de substituir uma boa noite de sono, ou seja, essa prática não deixa o indivíduo livre dos efeitos negativos da privação do sono, podendo então acarretar prejuízos no desempenho acadêmico e das atividades rotineiras.

A partir disso, podemos ter uma dimensão do quão prejudicial pode ser ter o hábito de dormir mal, e não se importar com a qualidade do sono. Não entender a importância de dormir bem, é se expor a alterações fisiológicas, mudanças de humor e desempenho de tarefas.

Referências

AMRA, B., Shahsavari, A., Shayan-Moghadam, R., Mirheli, O., Moradi-Khaniabadi, B., Bazukar, M., Yadollahi-Farsani, A., & Kelishadi, R. (2017). The association of sleep and late-night cell phone use among adolescents. Jornal de pediatria, 2017.

BOUER, Jairo. Cafeína não é suficiente para combater efeitos da privação do sono. Disponível em <: https://doutorjairo.uol.com.br/leia/cafeina-nao-e-suficiente-para-combater-efeitos-da-privacao-do-sono/ >. Acessado em 02 mar. 2023.

CIRELLI, C. sleep: Definition, epidemiology, and adverse outcomes. Disponível em <: https://www.uptodate.com/contents/insufficient-sleep-definition-epidemiology-and-adverse-outcomes?search=sleep%20deprivation&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1.>. Acessado em 01 mar. 2023.

CHATTU,  V. The Global Problem of Insufficient Sleep and Its Serious Public Health Implications. 2018. Disponível em <: https://doi.org/10.3390/healthcare7010001>. Acessado em 01 mar. 2023.

FIGUEIRA, L. G.; ZANELLA, I. V.; FAGUNDES, M. .; NASCIMENTO, C. B. do .; SOUZA, J. C. de. Effects of sleep deprivation on healthy adults: a systematic review. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 16, p. e524101623887, 2021. Disponpivel em <: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/23887>. Acessado em 28 fev. 2023.

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