A Substância: etariedade, autoestima, percepção corporal, envelhecimento e sexualidade.

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O filme “A Substância” propõe uma reflexão profunda sobre como o envelhecimento impacta a vida das pessoas, especialmente no que diz respeito à autoestima e à sexualidade. Ao longo de sua narrativa, o filme não só apresenta o desafio da etariedade (processo de envelhecimento), mas também como as mudanças físicas e emocionais associadas a essa fase da vida podem afetar a forma como os indivíduos se percebem e se relacionam com os outros.

Etariedade e a percepção do envelhecimento

A etariedade é abordada no filme de maneira a questionar os estereótipos e preconceitos frequentemente atribuídos à velhice. O envelhecer é muitas vezes visto de maneira negativa pela sociedade, com uma forte ênfase no declínio físico e na perda de vitalidade. No entanto, o filme propõe uma perspectiva mais humana e sensível sobre o envelhecimento, apresentando os personagens não como vítimas de sua idade, mas como indivíduos em processo contínuo de adaptação e reinvenção.

Os personagens do filme lidam com as consequências do tempo de formas diferentes, mas todos enfrentam a questão da percepção corporal ao envelhecer. Mudanças físicas, como a perda de habilidades motoras ou a alteração da aparência, geram uma reflexão sobre como a sociedade valoriza a juventude e como, muitas vezes, o corpo envelhecido é associado a uma falta de desejo e atratividade.

Autoestima e percepção corporal

A relação com o próprio corpo é central no filme, especialmente em relação à autoestima. Para muitos personagens, o envelhecimento traz inseguranças e a sensação de perda de valor, especialmente em uma sociedade que exalta a juventude e a aparência física. Isso levanta a questão: como o envelhecimento afeta a forma como uma pessoa se vê e se sente no mundo? O filme desafia essa visão ao mostrar que a autoestima não precisa depender exclusivamente da aparência física ou da juventude, mas sim de uma aceitação profunda da própria trajetória de vida.

À medida que os personagens enfrentam essas transformações, o filme nos lembra que a autoestima não deve ser apenas uma questão estética, mas sim uma questão de aceitação e valorização do indivíduo por completo – com todas as suas vivências e histórias.

Sexualidade e envelhecimento

Outro tema explorado é a sexualidade na velhice. Existe um estigma social que associa a sexualidade à juventude, levando muitas pessoas a acreditarem que a vida sexual termina com o envelhecimento. No entanto, o filme desafia essa noção ao mostrar que a sexualidade é uma parte importante da experiência humana, independentemente da idade. As cenas que envolvem a intimidade e o desejo na velhice mostram que, embora o corpo possa mudar, a necessidade de conexão e prazer continua presente.

Por meio dos personagens, o filme também aborda como a sexualidade pode ser influenciada pela autoestima e pela percepção corporal. Quando o envelhecimento é aceito de forma saudável, a sexualidade pode ser vivida de forma mais plena, sem os tabus e preconceitos que muitas vezes envolvem a ideia de que o desejo desaparece com a idade.

Em resumo, “A Substância” é um filme que oferece uma reflexão profunda sobre os desafios e as belezas do envelhecimento, abordando temas como etariedade, autoestima, percepção corporal e sexualidade. A obra sugere que, ao invés de encararmos o envelhecer com medo ou rejeição, devemos aceitar as transformações que ele traz e perceber que a vida, em todas as suas fases, ainda tem potencial para ser cheia de prazer, desejo e autoconhecimento. Com base no arrependimento da personagem quanto às escolhas feitas, é possível notar como essas questões atravessam a sociedade, além do filme trazer uma crítica quanto a “cobiça” pelo inalcançável ou uma cura do envelhecer. O envelhecimento não é uma perda, mas sim uma parte natural de nossa jornada, que deve ser vivida com dignidade e prazer.

Ficha Técnica 

Título original: The Substance;

Título no Brasil: A Substância;

Ano de lançamento: 2024;

País: EUA, Reino Unido e França;

Duração: 140 min;

Classificação Indicativa: 18 anos;

Gênero: Terror corporal, feminismo, obsessão pela beleza e juventude;

Direção: Coralie Fargeat;

Roteiro: Coralie Fargeat;

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Parafilias: uma explicação clara e uma visão psicológica

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As parafilias são definições utilizadas para descrever padrões de comportamento sexual que envolvem fantasias, impulsos ou comportamentos atípicos, que geralmente envolvem objetos, situações ou pessoas que não são consideradas parte do padrão sexual normativo. Em uma análise psicológica, essas parafilias podem ser entendidas tanto como um desenvolvimento disfuncional da sexualidade humana quanto como uma forma de expressão individual dos desejos sexuais. 

Vamos explorar alguns tipos de parafilias com uma visão psicológica e teórica:

Definição de Parafilia:

De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição), para que um comportamento seja classificado como uma parafilia, é necessário que ele cause sofrimento significativo ao indivíduo ou a outras pessoas. Em outras palavras, uma pessoa com uma parafilia pode não ser diagnosticada com um transtorno se não houver um prejuízo significativo na sua vida pessoal, social ou profissional.

Classificação das Parafilias:

Fetichismo: Excitação sexual causada por objetos não sexuais, como roupas ou partes do corpo não genitais (Ex.: pés, couro).

Masoquismo Sexual: Excitação sexual causada por dor ou humilhação, sendo o indivíduo o receptor da dor.

Sadismo Sexual: Excitação sexual através da infligir dor ou humilhação em outra pessoa.

Parafilias em que o comportamento envolve pessoas (CONSIDERADOS CRIMES): 

Exemplos incluem:

Pedofilia: Excitação sexual voltada para crianças ou adolescentes em fase pré-púbere ou início da puberdade.
Hebephilia: Interesse sexual em adolescentes (normalmente em torno de 11 a 14 anos de idade).

Parafilias envolvendo comportamento socialmente inaceitável: 

Exemplos incluem:

Exibicionismo: Excitação sexual obtida ao expor os genitais a estranhos.

Voyeurismo: Excitação sexual ao observar outras pessoas se despindo ou se envolvendo em atividade sexual sem o consentimento delas.

Teoria do Condicionamento Clássico (Pavlov): Uma explicação para o desenvolvimento de algumas parafilias pode ser encontrada no modelo de condicionamento clássico. Por exemplo, uma pessoa que teve experiências de prazer sexual enquanto estava em contato com determinado objeto ou situação pode ter desenvolvido uma associação entre essa coisa e a excitação sexual, perpetuando o comportamento ao longo do tempo.

Teoria Psicanalítica (Freud): Sigmund Freud acreditava que as parafilias eram resultado de fixações nas fases do desenvolvimento psicossexual. Se uma criança tivesse experiências ou conflitos não resolvidos durante uma dessas fases (oral, anal, fálica), isso poderia resultar em padrões sexuais atípicos na vida adulta. Freud via essas manifestações como uma expressão de desejos reprimidos ou inconscientes.

Teoria do Aprendizado Social: Influências sociais e culturais também podem moldar a formação das parafilias. Por exemplo, um indivíduo pode aprender através de observação ou imitação que certos comportamentos (como o voyeurismo ou o exibicionismo) são excitantes ou socialmente aceitáveis.

É importante ressaltar que o que é considerado uma parafilia pode ser culturalmente relativo. O que pode ser visto como uma prática aceitável em uma sociedade pode ser considerado um distúrbio em outra. Além disso, as normas culturais e legais frequentemente influenciam a percepção de comportamentos sexuais atípicos, o que pode gerar conflitos quando a atividade é consensual, mas considerada inadequada dentro de um determinado contexto social ou legal.

O tratamento de parafilias depende do grau de sofrimento ou dano causado ao indivíduo ou à sociedade. Quando os comportamentos param de ser consensuais ou causam sofrimento psicológico, a intervenção pode ser necessária. Abordagens terapêuticas comuns incluem: Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Que pode ajudar a identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais; Terapias baseadas em modificação de comportamento: Como a aversão (associar estímulos sexuais não desejados com um estímulo aversivo) ou recondicionamento sexual; Medicamentos: Em casos de transtornos mais graves, pode-se recorrer a medicamentos, como os antiandrógenos, para reduzir os impulsos sexuais.

A psicologia oferece diversas perspectivas sobre as parafilias, desde explicações baseadas em aprendizado e experiências passadas até teorias mais complexas que abordam fatores inconscientes ou psicodinâmicos. No entanto, a principal consideração em relação às parafilias é o impacto que elas têm na vida do indivíduo e em seus relacionamentos. O tratamento deve ser personalizado e focado no bem-estar emocional e social do paciente, respeitando a diversidade sexual dentro dos limites da ética e do consentimento.

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Crítica sobre as parafilias sexuais

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Críticas normativas e o conceito de “normalidade”

Muitas críticas às parafilias surgem de uma visão normativa sobre a sexualidade, onde o que é considerado “normal” é aquilo que segue certas convenções sociais ou biológicas. No entanto, essa definição de “normal” é fluida e muda ao longo do tempo e entre diferentes culturas. O que hoje pode ser visto como uma parafilia pode, em outros contextos históricos, ter sido considerado aceitável, ou até mesmo desejável. 

Uma crítica central às parafilias geralmente gira em torno da ideia de que elas podem ser prejudiciais, seja para o indivíduo envolvido ou para outros. O conceito de consentimento torna-se fundamental nesse ponto: práticas sexuais que envolvem adultos capazes de consentir, em um contexto de respeito mútuo e segurança, não deveriam ser automaticamente estigmatizadas. Isso levanta a questão de até que ponto a sociedade deve interferir nas escolhas sexuais de indivíduos, desde que essas práticas não envolvam abuso ou violação do consentimento.

A questão do estigma

As parafilias são muitas vezes estigmatizadas e associadas a comportamentos “desviantes” ou “perversos”. Esse estigma pode gerar sofrimento e discriminação para as pessoas que experienciam tais desejos. Um insight importante seria refletir sobre como a sociedade lida com o “diferente” e até que ponto a intolerância pode limitar o entendimento e a aceitação da diversidade humana. A evolução do entendimento sobre sexualidade traz que o estudo da sexualidade humana tem avançado ao longo dos anos e, com isso, a maneira como abordamos as parafilias também tem mudado. Psicólogos, sociólogos e estudiosos da sexualidade têm trabalhado para desestigmatizar esses interesses e compreendê-los de uma forma mais empática, contextualizando-os em uma gama mais ampla de experiências sexuais.

Quanto à medicalização das parafilias, muitas foram historicamente tratadas como doenças ou distúrbios mentais. Essa medicalização pode ser vista como uma forma de controlar comportamentos que fogem do “normal” ao invés de compreendê-los dentro de um espectro mais amplo da diversidade sexual. Em tempos recentes, há um movimento em direção a uma compreensão mais inclusiva da sexualidade, questionando se é realmente necessário tratar certos comportamentos como patológicos quando não há dano claro para os envolvidos.

Do ponto de vista psicanalítico, as parafilias podem ser compreendidas como manifestações do inconsciente que expressam desejos reprimidos ou formações substitutivas de conflitos psíquicos mais profundos. Freud, por exemplo, sugeriu que a sexualidade humana é intrinsecamente polimorfa e que certos impulsos desviantes poderiam estar ligados a experiências infantis ou mecanismos de defesa, como a formação reativa e a sublimação. Nessa perspectiva, a tentativa de patologizar as parafilias pode ser vista como um reflexo da dificuldade da sociedade de lidar com aspectos inconscientes e primordiais da sexualidade, muitas vezes projetando culpa e interdição sobre aquilo que não se encaixa nos padrões convencionais.

 

Por Letycia Coelho Valadares do Nascimento e Maria Victória Nunes Silva – Estagiárias do EnCena

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