Apaixonar-se por si mesma

Compartilhe este conteúdo:

“Você é espetacular”!!!
Foi o que eu disse a mim mesmo enquanto observava o meu próprio reflexo naquela moldura grande sobre a penteadeira (improvisada por uma mesinha de centro). Comecei a recitar galanteios para aquele perfil que eu via…  E logo pensei: se soubesse desenhar essa obra teria um valor (preço) impagável, Picasso perderia feio nessa disputa, sorte a dele. Percebi naquele momento que a beleza não tem forma nem cor: comecei a gostar de minha pele amarela e as sardinhas marrons que a enfeita; dos meus cabelos castanhos escuros e ondulados e até as cicatrizes adquiridas nas travessuras de criança ganharam seu encanto.

Sabe aquela coisa de deixar as unhas compridas e usar saltos altos da moda? Deixei pra lá, meus pés de gazela de nº.35, mas em todos os números somos belas, agora se mostram quase nus em um par de rasteirinhas e já tem ganhados muitos fãs. Putz!! Nem sabia que pés também eram fetiches.

Fonte: encurtador.com.br/ruEJ7

Outro dia, depois desse que eu me apaixonei por mim, ia passando numa calçada qualquer, desfilando meus traços e percebi cantadas e assovios vindas de admiradores. Nem me importei, quando a gente gosta da gente mesma percebe-se que elogios precisam ser sinceros para realmente surtir um efeito. É claro que eu dei um risinho para os rapazes, autoestima elevada não significa falta de educação ou descortesia.

Ouço declarações de que isso é egoísmo, mas os otimistas afirmam que isso é amor próprio. A Bíblia diz que devemos amar o próximo como a nós mesmo, então eu concluí que o amor ao outro começa em mim. E foi assim que esse amor surgiu e aflora a cada manhã quando me deparo de frente ao espelho.

Experimente!

Belle Atikum

Compartilhe este conteúdo:

Subjetivação e Trabalho na contemporaneidade a partir de um contexto histórico

Compartilhe este conteúdo:

Antes do golpe de 1964, os trabalhadores davam apoio aos movimentos de reformas urbanas e agrárias que lhes trariam melhores condições de desenvolvimento profissional, educacional e direitos diversos. Os trabalhadores se organizavam a partir do Comando Geral de Trabalhadores – CGT, fundado em 1962, e para atender às exigências dos trabalhadores o governo tenta equilibrar os interesses desses com os da elite. Mas ao se aproximar da data fatídica do golpe os militares reprimem qualquer ação dos trabalhadores prendendo, torturando seus líderes e representantes sindicais e depredando suas sedes para evitar aglomerações e motins.

Os latifundiários viam na ditadura uma forma de evitar a reforma agraria e assim controlar os trabalhadores para estes não o impedissem de acumular bens. Senhores de engenho e empresários apoiam o movimento militar na esperança de atingirem seus objetivos, assim se fez “o golpe de 1964, a despeito de mascarar seu propósito ditatorial, mediante uma intensa agitação e propaganda em torno da manutenção do regime democrático” (p. 63).

Nesse laço infiltra-se, entre os trabalhadores, os agentes de entidades governamentais (militares) para fins listar os representantes e marca-los, as empresas por sua vez financiavam as ações policiais e nessa colaboração mútua configurou um poder disciplinador, contribuindo para graves violações de direitos humanos tais como violências, ameaças, abuso de poder, crimes diversos, assédio moral, e a repressão, pois “os interventores de plantão, designados pelo governo, podiam identificar e denunciar o passado de militantes, o presente de trabalhadores inconformados e o futuro dos ativistas e das lideranças que planejavam a resistência e a luta” (p.65).

As articulações sindicais em prol dos seus filiados e trabalhadores em geral eram retaliadas e qualquer tentativa de movimentação era muito arriscada levando a consequências como demissões, invasões domiciliares para investigar militantes, tortura de seus parentes para arrancar informações. Os trabalhadores ativistas eram marcados e seus nomes passavam pelas fábricas na tentativa de lhes barrarem ainda na contratação. A vigília e monitoramento reforçam a exploração de trabalho, e põe em voga direitos outrora conquistados.

Fonte: encurtador.com.br/sBIUW

As greves passam a ter um rigor impossível de ser realizadas, salvo os trabalhadores que estavam a mais de três meses sem salários, os salários passaram a ter incidência inflacionária fazendo com que diminuíssem ao invés de aumentarem, isso levou ao aumento de horas extras, venda de férias, esposas e filhos (muito jovens) a ingressarem nas fábricas para compensar a perda dos salários que antes era de apenas um na família. O aumento das horas de trabalho leva ao esgotamento físico contribuindo para a elevação das taxas de acidentes de trabalho e até a mortes.

As violências e violações de direitos ocorriam não só com as lideranças, mas também com os trabalhadores em geral, muitos escondiam em regiões remotas e interioranas incentivados pelo medo da tortura, prisões e mortes, vivam precariamente e muitas vezes com a ajuda de outros colegas que ainda não perderam seus empregos.

As prisões ocorriam individual e em massa de forma sorrateira, o texto mostra alguns relatos particulares de como os trabalhadores eram surpreendidos dentro de seus ambientes de trabalho sem a menor chance de defesa. As prisões coletivas aconteciam durante movimentos como greves e reuniões, ocorriam em todo país sendo em maior número nas regiões onde havia mais trabalhadores. As torturas eram pesadas, intimidantemente punitivas e irracionais, se justificava seu uso como meio de evitar prejuízos maiores. Porém, era essa a estratégia militar para paralisar os trabalhadores e humilhá-los. As mortes eram causadas pelos mus tratos, torturas e falta de recursos, mas também por aniquilação. Muitos suicídios foram computados, bem como aniquilamento e desaparecimento.

A leitura do texto nos coloca a pensar o quão sofrido foi para as pessoas daquela época poder lutar por uma garantia de melhora para seus descendentes, sim, para os descentes pois eles mesmos já se viam imerso em dificuldades que os atormentariam toda a vida. Ainda hoje se vê trabalhadores humildes que reclamam seus direitos com medo de ficarem marcados como ficavam antes. Essa leitura nos instiga a continuar por busca de políticas públicas que nos apoiem como trabalhadores e como cidadãos.

Referência:

BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório. Brasília, 2014. Violações de Direitos Humanos dos Trabalhadores.  [RESENHA].

Compartilhe este conteúdo:

Crenças e valores pessoais

Compartilhe este conteúdo:

Estar na sala de aula para a disciplina de Gênero e sexualidade é um anseio semanal. A professora é inovadora e audaciosa. Logo nas primeiras semanas após a discussão do texto WEEKS, Jeffrey:  O corpo e a sexualidade, ela solicita para a turma que traga na a próxima semana um objeto pequeno de valor sentimental que a gente possa deixar com ela durante o decorrer do semestre. – Mas o que tem a ver esse objeto com a disciplina? – Perguntei a mim mesma. Não tentei responder, pois confio nela. É experiente, linda e, como já dito, audaciosa. Fiquei tão tranquila que me esqueci da atividade, mas no dia predestinado uma colega nos lembrou no grupo da turma (Bendita seja!) – Putz! O que levo? – Me ocorreu na mente vários objetos: um dominó musical, o véu que usava na igreja, os pares de meias dos sobrinho quando bebês, um copo de côco vindo da Serra Umã/PE, o menor livro legível do mundo, outros objetos, e todos foram descartados. E de repente me lembrei de um – Tomara que eu encontre, pensei. Revirei a estante de livros, as gavetas no armário, mas só o encontrei numa caixinha de objetos que não consigo desfazer. Assim quando o peguei tive certeza que era ele: um diapasão de garfo. O diapasão de garfo é um instrumento metálico em forma de forquilha (garfo de dois dentes), que serve para afinar instrumentos e vozes através da vibração de um som musical de determinada altura.

Pensar em um objeto que tenha valor sentimental e que eu possa “emprestar” para alguém por uns tempos, mesmo que seja para ficar guardado, é um exercício que nos força a pensar o desapego, pois por uma ironia do destino esse objeto pode não voltar para você. Então escolher o diapasão para esta atividade teve haver com a facilidade que eu teria para encontrar outro no mercado e pôr de volta na minha caixinha e que me remetesse às mesmas lembranças. Este garfo, para mim, me faz lembrar da minha adolescência onde se deu minha iniciação na música fazendo parte de uma orquestra juntamente com meus irmãos (que são 5), meu pai e outros parentes. Eu não o usava, pois meu instrumento era de teclas, órgão eletrônico, mas os demais instrumentistas sim. Também me lembro de um tempo não muito distante, exatamente um semestre antes de ingressar na universidade, onde eu participei do coral municipal da Capital do Tocantins. A maestrina regia com maestria!

Fonte: encurtador.com.br/bpPVY

Depois da exposição individual de cada um chegou a hora de abrir mão do apego. Fui a primeira a deixar o objeto na caixa – se não voltar eu compro outro- pensei. E depois fiquei pensando nessa afeição que nos faz ter objetos que não nos servem mais, mas que não conseguimos desfazer. Daí me lembrei da pergunta inicial: “Mas o que tem a ver esse objeto com a disciplina?” Valores e crenças enraigados em demasia, sem reflexão, nos fazem ter um conceito formado antecipadamente nos causando cegueira moral, o que é conhecido por pré-conceitos. Faz sentido, pois para quem era acostumada a ouvir instrumentais e gospel na adolescência eu tive dificuldade para aprender a ouvir determinados ritmos populares. O mesmo vem acontecer a temas tão melindrosos como os da sexualidade. Se não tivesse me despido de opiniões pré-formadas em outros tempos, hoje estaria apontando para determinados grupos e pessoas e os considerando impuros, patológicos, imoral e doente. Penso que estou em um momento de formação de novas opiniões, mas consciente de não abrir mão de meus princípios. Para surpresa da turma passados 15 dias do dia em que a professora recolheu nossos pertences ela os trouxe de volta, devolveu a todos. Ninguém precisou ficar longe de seu objeto de estimação! Mas cientes que precisamos nos distanciar de opiniões julgadoras e estigmatizadas.

Compartilhe este conteúdo: