Cafarnaum: dignidade e maturidade surpreendentes

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Concorre com 1 indicação ao OSCAR:

Melhor Filme Estrangeiro (Líbano)

O filme poderia ter resvalado para um mundo-cão, mas as sequências irrompem com excelente montagem

Nesta fase de escolhas de finalistas para Oscar de Melhor Filme Estrangeiro ‘’Cafarnaum’’ (2018) de Nadine Labaki pode não ganhar este prêmio, mas dificilmente há um filme tão corajoso, crudelíssimo, contundente, muito bem realizado, com autenticidade impressionante, como este.

E com um jovem ator de 12 anos, Zain Al Rafeea, completamente integrado ao projeto, onde compõe o protagonista Zain, com sua máscara bastante triste, forte determinação, que diante de um juiz (não é spolier, pois surge logo no início), diz que está processando os pais pôr o terem colocado no mundo sem ter a menor condição de criá-lo.

De cara já é atordoante e o como se chegou a esta situação e seu desfecho será bem mais, obviamente. O filme poderia ter resvalado para um mundo-cão, mas as sequências irrompem com excelente montagem, onde poesia crua espanta qualquer noção de morbidez.

Fonte: https://bit.ly/2WrtObr

Se o Zain se destaca, seus pais, vítimas de educações completamente equivocadas que receberam, são defendidos por excelentes atores, que nos passam justamente esta corrente da ignorância, de geração para geração, mesmo que na prática seja de degradação para degradação.

Mas claro que o filme não exime de grandes responsabilidades, uma sociedade que leva a este estado de coisas e que é mostrada em suas outras mazelas como superlotação carcerária, fora a perseguição a imigrantes que tem papel bastante relevante na trama. Merece destaque também a atriz que faz a refugiada negra, com seu pequeno filho, com a sobrevivência tão ameaçada que não temos espirito para dizer que é uma gracinha, o que é mesmo.

‘’Carfanaum’’, pesa a mão, sugerindo, pela dramaturgia (independente de que a realidade seja igualmente terrível ou pior), mais exploitation da miséria do que a dignidade de clássicos que abordaram a infância abandonada – ou mais do que isso, maltratada. Referindo ao ‘’Pixote’’ e ao clássico de Luís Bunuel ‘’Los Olvidados’’ que já eram barra pesada de se ver. Este filme fica sendo quase insuportável tamanha a soma de desgraças pela qual o personagem do menino Zain passa. O pequeno ator é extraordinário. Ele não é libanês, como o filme e restante do elenco, mas sírio (supondo que seja refugiado e, portanto, deve saber bem do que o filme está falando). No mais, super premiado e reverenciado pela crítica em geral.

Fonte: https://bit.ly/2SaWqq3

FICHA TÉCNICA :

CAFARNAUM

Título original:  Capharnaüm
Direção: Nadine Labaki
Elenco: Zain Alrafeea, Nadine Labaki, Yordanos Shifera;
Países: Líbano, França
Ano: 2019
Gênero: Drama

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Fantasias e Deslumbramentos em Mary Poppins

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Concorre com 4 indicações ao OSCAR:

Melhor Design de Produção (John Myhre, Gordon Sim), Melhor Trilha Original (Marc Shaiman, Scott Wittman), Melhor Música Original (The Place Where Lost Things Go – Marc Shaiman, Scott Wittman), Melhor Costume Design (Sandy Powell)

‘O Retorno de Mary Poppins’ (2018), de Rob Marshall (o mesmo de ‘Chicago’, ‘Nine’, dentre outros), é um filme musical arrebatador. Na era digital conseguem-se efeitos visuais extraordinários, mas aqui estão servindo a uma belíssima história e não pairando, se sobrepondo a ela, como acontece bastante hoje, onde estes efeitos passam a ser os protagonistas das narrativas.

Até ‘Pantera Negra’ se perde nisto em correrias de carro e afins no país africano. O trabalho dos atores é excelente, principalmente o de Emily Blunt como Mary e do descendente de porto-riquenhos (do grande musical na Broadway, ‘Hamilton’) Lin-Manuel Miranda, como o acendedor de lampiões de ruas, numa Londres cinzenta dos anos 20, cenário de depressão econômica.

Os dois formam, como o filme precisava imperativamente, uma química surpreendente. Jack é quem mais entende Mary. A coreografia e as músicas são encantadoras. A interação com as animações também. E temos coadjuvantes de luxo como a prima Topsy de Mary, feita por Meryl Streep, que rouba a sequência toda, confirmando o quanto é uma excepcional atriz.

Fonte: https://glo.bo/2UuJdWj

Aparições de Dick Van Dick (o acendedor do filme de 1964) e de Angela Lansbury soam deliciosas; algo bastante próprio da personagem Mary é manter uma carinhosa distância de todos e só fazer seus sortilégios quando ela mesma decide. Não atende pedidos de outros.

Ela mantém uma pose de arrogância bem inglesa, mas light, nos momentos em que aparece. Fica atenta numa sequência crucial até que decide agir. Isto acontece em outras situações. O clássico anterior se passava nos anos 1910 e o grande conflito da família Banks era amolecer o coração do pai workalic, bastante tirano com os filhos.

Neste filme de agora temos uma era de depressão econômica, com desemprego, protestos dos anos 20, uma casa a ser logo encampada por um banco, na ausência de pagamentos etc. Tudo isto nos remete ao nosso 2018, antes e no horizonte depois que temos pela frente. Daí a necessidade de filmes assim que evocam os poderes da imaginação, da fantasia, como forma de mitigar, afastar por alguns momentos, as agruras da vida.

Fonte: https://glo.bo/2UuJdWj

Uma das coreografias musicadas com vários clones de Jack, bem longa, é arrebatadora. Só saberemos com o tempo se teremos um novo clássico, mas há um calcanhar de Aquiles neste filme de agora. Dentre outros trabalhos, Julie Andrews nasceu para fazer a noviça em ‘A Noviça Rebelde’ (The sound of music) e ‘Mary Poppins’!

Assisti ‘Mary Poppins’’ (1964) recentemente na sessão Clássicos Cinemark; por melhor que seja o trabalho de Emily Blunt como Mary em 2018, passa longe da grande magia de Julie em 1964. Inclusive, bem no final deste de 1964, Mary olha para trás e ela que sempre foi super-otimista, tem um leve e muito breve traço de melancolia, por ter de deixar a casa, os meninos, o pai já de coração amolecido, num breve e belíssimo plano, mas logo se recompõe e vai embora pelos céus com seu guarda-chuva e a valise. Não deixa de existir aí um elo bem forte entre os dois filmes.

Fonte: https://bit.ly/2RX5Eql

A favor deste de 2018 está a ideia de que Mary, em seu retorno, está tanto motivada pela saudade da família Banks, como quer ajudá-los numa era de depressão econômica, onde uma casa pode ser perdida. Um dos grandes encantos dos dois filmes é não sabermos nunca para onde vai e de onde vem Mary Poppins. A menos que isto seja revelado numa continuação futura que já pode ser tida como péssima, por quebrar este cativante mistério.

Houve um filme, que passou batido no circuito, onde havia discussões de Walt Disney (Tom Hanks) com a escritora do livro em que se baseou o filme de 1964, P.L.Travers, composta por Emma Thompson. Trata-se de ‘Walt nos Bastidores de Mary Poppins’ (2013) de John Lee Hancock. Ela quer mais fidelidade à sua história, mais realismo. Walt, grande gênio da fantasia no Cinema e Quadrinhos, claro que não concorda. E venceu esta queda de braços.

De certa forma gostei bastante de não ter visto este filme, para não receber uma ducha de água fria e perder o encanto destes dois trabalhos admiráveis.

Fonte: https://bit.ly/2FZgiGH

FICHA TÉCNICA:

O RETORNO DE MARY POPPINS

Título original: Mary Poppins Returns
Direção: Rob Marshall
Elenco: Emily Blunt, Lin-Manuel Miranda, Ben Whishaw;
País: EUA
Ano: 2018
Gênero: Comédia Musical, Fantasia

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