Fantasias e Deslumbramentos em Mary Poppins

Concorre com 4 indicações ao OSCAR:

Melhor Design de Produção (John Myhre, Gordon Sim), Melhor Trilha Original (Marc Shaiman, Scott Wittman), Melhor Música Original (The Place Where Lost Things Go – Marc Shaiman, Scott Wittman), Melhor Costume Design (Sandy Powell)

‘O Retorno de Mary Poppins’ (2018), de Rob Marshall (o mesmo de ‘Chicago’, ‘Nine’, dentre outros), é um filme musical arrebatador. Na era digital conseguem-se efeitos visuais extraordinários, mas aqui estão servindo a uma belíssima história e não pairando, se sobrepondo a ela, como acontece bastante hoje, onde estes efeitos passam a ser os protagonistas das narrativas.

Até ‘Pantera Negra’ se perde nisto em correrias de carro e afins no país africano. O trabalho dos atores é excelente, principalmente o de Emily Blunt como Mary e do descendente de porto-riquenhos (do grande musical na Broadway, ‘Hamilton’) Lin-Manuel Miranda, como o acendedor de lampiões de ruas, numa Londres cinzenta dos anos 20, cenário de depressão econômica.

Os dois formam, como o filme precisava imperativamente, uma química surpreendente. Jack é quem mais entende Mary. A coreografia e as músicas são encantadoras. A interação com as animações também. E temos coadjuvantes de luxo como a prima Topsy de Mary, feita por Meryl Streep, que rouba a sequência toda, confirmando o quanto é uma excepcional atriz.

Fonte: https://glo.bo/2UuJdWj

Aparições de Dick Van Dick (o acendedor do filme de 1964) e de Angela Lansbury soam deliciosas; algo bastante próprio da personagem Mary é manter uma carinhosa distância de todos e só fazer seus sortilégios quando ela mesma decide. Não atende pedidos de outros.

Ela mantém uma pose de arrogância bem inglesa, mas light, nos momentos em que aparece. Fica atenta numa sequência crucial até que decide agir. Isto acontece em outras situações. O clássico anterior se passava nos anos 1910 e o grande conflito da família Banks era amolecer o coração do pai workalic, bastante tirano com os filhos.

Neste filme de agora temos uma era de depressão econômica, com desemprego, protestos dos anos 20, uma casa a ser logo encampada por um banco, na ausência de pagamentos etc. Tudo isto nos remete ao nosso 2018, antes e no horizonte depois que temos pela frente. Daí a necessidade de filmes assim que evocam os poderes da imaginação, da fantasia, como forma de mitigar, afastar por alguns momentos, as agruras da vida.

Fonte: https://glo.bo/2UuJdWj

Uma das coreografias musicadas com vários clones de Jack, bem longa, é arrebatadora. Só saberemos com o tempo se teremos um novo clássico, mas há um calcanhar de Aquiles neste filme de agora. Dentre outros trabalhos, Julie Andrews nasceu para fazer a noviça em ‘A Noviça Rebelde’ (The sound of music) e ‘Mary Poppins’!

Assisti ‘Mary Poppins’’ (1964) recentemente na sessão Clássicos Cinemark; por melhor que seja o trabalho de Emily Blunt como Mary em 2018, passa longe da grande magia de Julie em 1964. Inclusive, bem no final deste de 1964, Mary olha para trás e ela que sempre foi super-otimista, tem um leve e muito breve traço de melancolia, por ter de deixar a casa, os meninos, o pai já de coração amolecido, num breve e belíssimo plano, mas logo se recompõe e vai embora pelos céus com seu guarda-chuva e a valise. Não deixa de existir aí um elo bem forte entre os dois filmes.

Fonte: https://bit.ly/2RX5Eql

A favor deste de 2018 está a ideia de que Mary, em seu retorno, está tanto motivada pela saudade da família Banks, como quer ajudá-los numa era de depressão econômica, onde uma casa pode ser perdida. Um dos grandes encantos dos dois filmes é não sabermos nunca para onde vai e de onde vem Mary Poppins. A menos que isto seja revelado numa continuação futura que já pode ser tida como péssima, por quebrar este cativante mistério.

Houve um filme, que passou batido no circuito, onde havia discussões de Walt Disney (Tom Hanks) com a escritora do livro em que se baseou o filme de 1964, P.L.Travers, composta por Emma Thompson. Trata-se de ‘Walt nos Bastidores de Mary Poppins’ (2013) de John Lee Hancock. Ela quer mais fidelidade à sua história, mais realismo. Walt, grande gênio da fantasia no Cinema e Quadrinhos, claro que não concorda. E venceu esta queda de braços.

De certa forma gostei bastante de não ter visto este filme, para não receber uma ducha de água fria e perder o encanto destes dois trabalhos admiráveis.

Fonte: https://bit.ly/2FZgiGH

FICHA TÉCNICA:

O RETORNO DE MARY POPPINS

Título original: Mary Poppins Returns
Direção: Rob Marshall
Elenco: Emily Blunt, Lin-Manuel Miranda, Ben Whishaw;
País: EUA
Ano: 2018
Gênero: Comédia Musical, Fantasia

Engenheiro Mecânico Aeronáutico aposentado, formado pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), cinéfilo, dono do blog ''Pela luz dos meus Olhos'' e escritor por algum tempo do Jornal eletrônico Montblãat, dirigido pelo prestigiado jornalista, já falecido, Fritz Utzeri.