Tocado pelo fogo: o estigma da ansiedade

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Diz a lenda que Pã, o deus do horror, matou sua própria mãe quando esta o olhou pela primeira vez. Os gregos já tentavam explicar o horror, a ansiedade, a angustia e o pânico através de suas lendas. Certa noite eu acordei. Meu coração parecera parar. Não conseguia respirar, não conseguia me mover, apenas me contorcia para esquivar de uma dor invisível que eu mal pude explicar.

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Fonte: Google.

Eu não sabia o que estava acontecendo, apenas senti aquele momento, como se fosse o último, como se nada mais existisse. Durou alguns minutos e depois parou, mas o medo de dormir persistiu, me perseguindo durante a noite. Eu tinha medo que adormecesse e não acordasse mais. Aquele tinha sido meu primeiro ataque de pânico.

Então o mundo se desdobra em opções. Para cada opção existe um resultado: não previsível e ruim. A mente de um ansioso funciona assim. A tentativa de jogar com possibilidades que vão além do nosso controle. Para o ansioso é melhor não agir, para não ter que sofrer consequências. Mesmo com a perspectiva distorcida, e um ansioso reconhecendo isso, sua mente não para de tentar prever acontecimentos vindouros, sempre com a ideia fixa de que algo

Pouco tempo depois fui diagnosticado com síndrome do pânico, os episódios se tornaram recorrentes, especificamente quando eu estava em meio a grandes multidões. Sudorese, tremores, tontura, fadiga e medo, muito medo. Como posso descrever a experiência traumática de quem passa por um ataque de pânico. Mas o que é o pânico? De acordo com o dicionário é o que assusta e amedronta, sem motivo específico, ao passo que a ansiedade é o mal-estar físico e psicológico, ainda que sem motivo específico ou circunstância.

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Saatchi Art Artist Arturo Leal; Drawing, “Anxiety”.

Não há, até o momento, explicações cientificas para ambos, estamos atrasados em relação ao pânico e à ansiedade. Entretanto, sou grato por não viver na década de cinquenta para trás, onde tudo isso era tratado como desvios de caráter, de maneira brutal e desumana, diferentemente dos dias atuais.

Embora não haja explicação, é completamente crível que existe relação entre pânico e da ansiedade. Uma se inicia através da outra.

É preciso um estudo profundo e detalhado do histórico familiar, de depressão e de abuso de drogas, para que se possa chegar a um consenso da origem da ansiedade e do pânico. Ainda assim, o mistério permanece.

Primeiro vislumbramos a ansiedade, e em seguida, o pânico.

O ansioso, como eu, jamais viveu no presente. Pessimista e diversas vezes tenebroso. Não age com lógica, e mesmo que às vezes, só às vezes, reconheça sua visão deturpada, a ignora. Vivemos como um computador. Contabilizando possibilidades de coisas que nem aconteceram. Um futuro sombrio e incerto, que nos faz sofrer e pagar um preço caro por isso.

Falando por experiência própria, sempre fui ansioso. Quando criança, não podia esperar a meia noite de um natal para abrir um brinquedo. Se me disser “preciso falar com você”, e não falar na hora, é motivo para um infarto fulminante. A mente não racionaliza que poderia ser qualquer coisa, e sim, um milhão de possibilidades negativas. E todas elas, por mais absurdas que sejam, são completamente plausíveis para nós. São palpáveis e possíveis.

A partir disso começaram a vir as crises de pânico.

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Fonte: Google.

Ainda sobre minha experiência, entrei em um ciclo tão vicioso, que chegava a calcular meus atos para que pudesse obter resultados certeiros no futuro. Não vivia o hoje, e quando algo saia errado, eu tinha meus chamados “surtos”.

Vivia em um constante estado de terror e depressão. A ansiedade me induziu `a depressão – que considero o pior castigo. Palavras de pessoas importantes pareciam granadas prestes a explodir. A falta de controle as machucavam.

A sensação de morte iminente me perseguia. O descanso, possível apenas sob medicação pesada. Eu achava que ia morrer o tempo todo. Nada podia deter esse sentimento.

Então me isolei completamente de tudo e de todos. Vivi seis meses isolado, evitei trabalho, amigos, relacionamentos. Nunca fui muito fã de terapias, até porque eu conheço perfeitamente meus traumas, e os trabalho. Mas não aconselho que dispensem, meu conhecimento é relativamente grande para que eu possa me manter com a doença, por isso em caso de paralização total de suas atividades diárias, consulte um psicólogo ou psiquiatra, pois é indispensável na manutenção da mente para que você possa ter uma vida normal. No meu caso, descobri o esporte e seus benefícios.

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Social Anxiety. By Lightisfar

Comecei praticando muay thai, e sempre que os treinos acabavam eu conseguia sentir a endorfina rodando meu corpo, e o alívio iminente fazia com que os problemas já não parecessem tão grande (imaginários, no caso). Comecei então a focar cada vez mais e mais em atividades físicas. Você pode controlar suas crises, por respiração, dedicação e paciência.

Saiba que durante um surto, você está tendo uma visão deturpada da realidade, e que nada do que você imagina é real. Enquanto nada acontecer, tudo permanece possível, inclusive sua remissão.

 

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Uma anatomia da cura

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Conselhos de qualquer forma são uma espécie de nostalgia para tentar resgatar o passado. Não digo que deverá seguir de maneira completa os métodos que eu cultivei para me ajudar, ainda não estou curado, porém mantenho a esperança de um dia poder ser como outra pessoa qualquer. A grande chave para iniciar é a paciência e mantenha em mente que esperança é realmente a única coisa que o fará respirar a noite.

Minha vida, após os acontecimentos se acalmou. Fiz de tudo para reduzir o estresse do dia a dia, me afastei por um pequeno período do trabalho e foquei em artes, hoje levo uma vida basicamente normal. Saio com meus amigos nos finais de semana, jogo, me divirto, mas sempre respeitando meus limites e nunca exagerando.

Cortei quase toda a medicação,

ainda tomo os antidepressivos e frequento meu médico

periodicamente para uma nova análise.

Consigo respirar, consigo produzir.

As coisas ainda permanecem em maior parte do tempo confusas. Então veja bem, releia meus textos, me escreva… Sempre haverá uma saída, sempre haverá alguém que passa o que você passa. Não estamos sós. E nunca estaremos.

É difícil entender isso quando se está em crise, e quando ela acaba parece que foi há milhões de anos, isso difere a mania do estado depressivo.

Não consegui resgatar a minha frustração e obviamente

aceitei os novos caminhos que frutificaram em minha frente.

Estava vivendo como uma pessoa aparentemente normal.

E no final temos todos um demônio em fuga.

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Uma anatomia da depressão

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A minha terapia cognitiva comportamental não deu os frutos que eu esperava. Novamente me abasteci de raiva de todas as terapias, e decidi que sozinho iria encontrar um modo me livrar, ou no mínimo acalmar, aquela doença.

De fato não havia um modo de se livrar, eu teria que aprender a viver com isso. A depressão é uma doença como outra qualquer, deve ser tratada e controlada. Eu teria que aprender a respeitar meus limites, respeitar meu corpo e mais do que qualquer um, eu teria que ter paciência comigo mesmo. No estado depressivo encontramos uma angustia grande, seguida da ansiedade por não conseguirmos melhorar logo, fazendo uma hora em crise depressiva parecer durar por anos.

Minha vida foi se estabelecendo devagar novamente, eu aprendi a me socializar mais e logo quando há uma melhora a sensação é tão boa e agradável que faz parecer que o estado depressivo havia acabado há muito tempo que você já nem se lembra mais.

Foram tantas horas sentado no chuveiro a noite, sentido dores imaginarias e agora, tudo estava bem. Para atingir essa ponderação, a primeira coisa é aprender a se equilibrar, admitir a doença e como já disse, seu limite.

Comecei a me exercitar a princípio, diferente das outras pessoas, a satisfação do exercício aeróbico não era constante em mim, mas felizmente a autoestima sempre ganha pontos com exercícios.

Reparei que sensação de prazer é mais comum é pessoas com depressão leve e nenhuma depressão, não entendi o porquê em pessoas com depressão severa os resultados permaneciam insatisfatórios.

Mas nada que o outro efeito da autoestima não possa dar uma ajudada, ver sua barriga judiada pelos sais de lítio que reteve água por anos desaparecendo aos poucos, ajuda qualquer um.

O primeiro método prático que me aliviou sem sombra de dúvidas foi este citado acima, não da maneira como eu achei que fosse, mas com seus outros efeitos. Posteriormente a alimentação saudável.

Substitui todo alimento cheio de condimentos, carnes pesadas, massas e refrigerantes por uma alimentação mais saudável e de resposta rápida, como castanhas-do-pará que são ricas em selênio, iogurte desnatado que é uma ótima fonte de cálcio que combate a tensão, abacate que reduz a ansiedade, além de ser fonte de vitamina B6.

Obviamente, a minha nova dieta não se baseia só nisso, são apenas exemplos que em 15 dias se mostraram bem mais promissores.

Reduzi o uso de bebida alcoólica, não por completo, mas o suficiente para não obter o famoso “dia azul”, que vem de maneira esperada após o uso excessivo de álcool, onde o sistema nervoso central é gravemente abalado deixando o indivíduo em estado depressivo.

Em alguns meses, eu já conseguia sair de casa ao ponto que não me sentia mais aflito e fosse atacado por uma onda de sudorese proporcionada pelo pânico. Isso antes já havia me prejudicado de maneira indescritível, ao ponto que dar uma volta no centro da minha pequena cidade, se transformasse em uma tarefa árdua e aterradora.

Sempre mantendo em mente que eu deveria “respeitar meus limites”.

Fonte: Google Imagens

Passei a evitar situações onde haviam muita tensão, parei de advogar e fui trabalhar com minha mãe, era bem mais calmo e ela sempre respeitava minha indisposição não pressionando para que eu realizasse algo contra minha vontade, porém eu temia que isso virasse vício, o que ainda bem, não ocorreu.

Sair da cama é uma tarefa gigante na depressão, voltar ao trabalho é digno de troféu, eu estava criando satisfação em coisas pequenas.

O próximo método impulsionador veio de noites de reflexão e consiste em três coisas, três exercícios que desenvolvi para me controlar (não por completo): meditação, aceitação e o exercício da terceira pessoa.

A meditação se demonstra muito promissora na depressão, quando digo meditar não me refiro ao significado literal que remete a monges budistas, mas sim a simples orações, podendo ser de maneira religiosa ou não, falar com si mesmo é um trabalho espetacular. Quem melhor do que nós mesmos para nos entender? Eu particularmente não conheço ninguém que tenha algum problema e não precise conversar, mas quando o fazemos, jogamos para a outra pessoa avaliar ou julgar nossos obstáculos, gerando um vínculo vicioso de pressão. Então fale com você mesmo, sente-se, pense no que você gostaria de estar fazendo, pense na sua vida, pense no mundo ao seu redor se movimentando e em como nossos problemas são realmente tão pequenos para dedicarmos tanto tempo a eles.

Encontrei em pequenas orações um certo alivio que não consigo de maneira clara ainda descrever.

A aceitação, é sem sombra de dúvida um passo complicado, a maior parte das infelicidades vem das frustrações, sejam elas corriqueira sou não. Não conseguimos atingir nossos objetivos e passamos a nos culpar por isso, as vezes nem tentamos novamente. Deixamos a mercê do destino nossa raiva. A frustração devora pessoas e caminhos. Se não conseguimos, nos julgamos, nos enterramos e pronto.

Arte: Kyle Thompson

Não digo que devemos aceitar as coisas ruins que nos acontecem, mas devemos nos aceitar, aceitar aquilo que somos e entender como funcionamos. O passo principal é aceitar mesmo a doença e a ajuda. Reconheça que você não é como as outras pessoas, e isso não é ruim, quase todas as grandes mentes brilhantes, artistas e cientistas, eram depressivos. Então aceite o que você é e utilize isso a seu favor.

O exercício da terceira pessoa foi de longe o que mais barrou meus impulsos ansiosos. Sempre vivi em estágios de ansiedade tão amplos que era impossível dormir à noite bem, sempre ficava imaginando o que aconteceria amanhã e sempre na expectativa de acontecer algo ruim. A mente ansiosa é dotada de uma imaginação fértil, especificamente se for para pensamentos inúteis e malévolos. Saber controlar é um desafio complicado.

Quando eu estava muito ansioso, não tolerava conversas inacabadas, por exemplo: você não podia chegar e dizer “Pablo, tenho algo para te dizer, te digo depois”.

Isso era sinônimo de “você não dormirá esta noite”.

Aposto que muita gente ao ler isso vai simpatizar por já ter passado por isso, e aposto também que esperavam algo ruim. Bem, isso é o lado imaginativo inútil e malévolo da mente ansiosa.

O exercício da terceira pessoa foi uma experiência onde eu me colocava sob a visão do mais próximo e tentava ver como a mesma pessoa me via. Se eu estava perto de algum amigo, e fosse tomado por um súbito anseio, eu imaginava como meu amigo viria tal situação se fosse com ele e como ele veria se realmente estivesse acontecendo comigo. Quando fazemos isso vemos que nossos problemas são pequenos e que são completamente coisas da nossa cabeça.

A maior parte das pessoas não ansiosas não levam para frente coisas pequenas assim, ver todos os seus problemas como uma terceira pessoa ajuda muito na ponderação e avaliação da realidade, o maior bem por trás disso é que isso é uma avaliação realizada por você mesmo, que anteriormente era incapaz de fazê-la.

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Uma anatomia da dor

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Ah, o espirito ultrarromântico que toma conta da alma perturbada. Cedo demais comecei a compreender meus ídolos literários. Eu compreendia as dores de Álvares de Azevedo, a inconstância magnifica e tenebrosa de Augustos dos Anjos, a lascividade do Marquês de Sade e explosões do Lord Byron. Tudo me fazia sentido, não era o primeiro e muito menos seria o último.

Uma vez diagnosticado com depressão maior, eu vi que realmente a situação era séria e já não poderia mais passar despercebida. As coisas corriqueiras ainda não faziam muito sentido, a felicidade alheia me incomodava demais e eu não entendia o fato de eu ser o único em todos ambientes que não conseguia rir ou ficar feliz. Ausência de prazer. Sabe, falsas risadas, drinks, sexo sem prazer tudo se torna automático, e é possível perder a vontade.

Eu já não levantava mais da cama, de uma pessoa excessivamente caprichosa, cuidadosa e asseada para um monstro descuidado e com repugnância de sua própria aparência. Não tinha forças nem se quer para me barbear e ainda me pergunto como havia conseguido uma namorada.

No mesmo ano tomei uma decisão drástica que alteraria minha visão de vida: eu decidi me matar.

Em um dia especifico de agosto de 2010, havia uma festa, onde com muito esforço minha namorada e eu participamos. Encontrei vários amigos lá. Conversei com todos, em tom de despedida. Ninguém entendia muito bem o que estava acontecendo, pois só minha família tinha conhecimento da minha doença e para o resto do mundo eu era apenas um excêntrico.

Lembro que foi uma festa incrível, eu não estava triste no dia, o sentimento que persegue a pessoa na depressão maior não é bem a tristeza e sim a ausência de qualquer sentimento. Eu não me sentia angustiado e nem com vontade de chorar, não sentia nada. Estava decidido a me matar.

Ao final da noite fui embora para a casa. Tomei um belo banho, acho que permaneci umas duas horas dentro do chuveiro. Comi um sanduiche incrível e assisti TV. Logo, eu sabia que já era hora, busquei um copo d’água e fui para meu quarto.

Peguei todos os meus comprimidos controlados (que não vou citar nomes). E fui removendo das cartelas, fazendo assim, uma pilha de comprimidos da morte. Fui colocando todos os comprimidos na boca e tomava um gole de água a cada momento.

Ao terminar eu não senti nada, fui para frente do computador e comecei a encerrar todas minhas redes sociais, ao passo que olhava para minhas coisas, para meu quarto, sabendo que nunca mais eu veria nada. Não pensava em vida após a morte ou em qualquer coisa, nada me impediria. O suicídio é um sentimento egoísta, onde você não liga para nada e ninguém.

Em mais ou menos meia hora eu comecei a me sentir literalmente burro, meus pensamentos já não faziam mais sentido. Eu pensava em coisas avulsas e junto com isso me deu uma moleza nas pernas e braços. Fui para a cama e me deitei, fitando o teto do meu quarto.

Meu telefone tocou. Um amigo do outro lado queria saber se eu ainda estava na festa, eu não me lembro exatamente o que falei para ele e desliguei e dormi.

Acordei dois dias depois, entubado no hospital da minha cidade. Lembro de abrir os olhos bem devagar e me deparar com toda minha família reunida, o único pensamento claro que me veio foi: merda.

O ato de tentar se matar e não conseguir é tão ruim em diversos aspectos, mas o pior é ter de encarar as pessoas e tentar explicar o que aconteceu, no meu caso foi a negação, quanto menos eu falasse ou fingisse que não aconteceu, melhor.

Ao fechar os olhos novamente, eu dormi, dormi por mais um dia inteiro. Eu acordava levemente diversas vezes, conseguia sentir o tubo na minha garganta e o desconforto daquilo.

Ao acordar definitivamente, eu vi o médico, ele conversou comigo, eu não entendi nada e respondi algo que ele possivelmente não entendeu também. Não foi frutífero.

Me levantaram da cama e me deram alta, eu saí do hospital em uma cadeira de rodas, eu vi vários estagiários de enfermagem da minha faculdade lá, eu achava que estava ferrado, que todos iam saber.

Um suicida realmente não quer falar sobre o assunto, ele evita, ainda mais quando a última coisa que eu queria era chamar atenção.

Ao chegar em casa, minha visão estava embaçada. Minha namorada foi me visitar, eu não falava nada com nada, eu me sentia burro, não conseguia pensar. Eu comecei a mostrar pra ela fotos de quando eu era criança, filmes, acho que no fundo eu queria desviar a atenção da tentativa de suicídio.

Fiquei por quase seis meses evitando festas familiares, todos me tratavam como uma boneca de porcelana, tinha medo do que poderiam falar. Achei a princípio ridículo, eu não era fraco e sabia disso, eu havia suportado a doença do século e havia sobrevivido a ela.

Meu problema não se resumia ao mundo exterior, mas a eu mesmo. Era existencial.

O médico que me atendeu achou que eu poderia ter ficado com sequelas cerebrais, pois havia faltado oxigenação no meu cérebro.

Então, resolvi conversar com minha mãe sobre o que havia acontecido naquela noite. Ela me disse que por volta das quatro horas da manhã o telefone tocou, e era meu amigo, pedindo que ela fosse ao meu quarto e verificasse se estava tudo bem, pois ele havia me ligado e eu desliguei.

Minha mãe disse que ao chegar no quarto, viu uma cena que ela jamais esquecerá, eu estava caído no chão, de costas pra cima e sem reagir a nada. Ela então apavorada, ligou para o corpo de bombeiros que veio imediatamente e me socorreu.

Isso explicou como de um sono “gostoso” eu fui parar no hospital.

Com esse episódio finalizado, eu havia chegado a uma conclusão: Sobrevivi, se estou aqui, agora quero ver o que acontece, quero ir até o final.

Todos estamos fadados a morrer, seja rico ou pobre, feio ou bonito, isso nos faz sentir estranhos e ao mesmo tempo como se não pudéssemos enganar o destino, a diferença é que uns veem isso, outros não.

Minha conversa com a psiquiatra foi, pela primeira vez boa, ela me recomendou Terapia Cognitiva Comportamental. Eu nunca fui fã de terapias.

Eu estava completamente consciente que meu cérebro deveria encontrar uma maneira de se restaurar. Comecei a ler “Curar” do Dr. David Servan-Schreiber e “O demônio do meio dia” de Andrew Solomon, nos dois livros encontrei experiências incríveis sobre o estresse, a depressão e a ansiedade e como eles se manifestavam nas outras pessoas.

E eu havia achado a minha chave para sair disso…

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Uma anatomia do ódio

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Como disse anteriormente, houve o funeral do meu primo, um funeral ao qual eu tive meu primeiro e único colapso nervoso público. Haviam tantos sentimentos perturbadores dentro de mim, que naquele lugar eu era o que mais gritava, o que mais chorava. Ainda tento analisar de uma forma menos parcial o que me aconteceu naquele dia. Estava eu tentando chamar atenção? Chamar atenção para o meu problema?

Os dias na faculdade de Alfenas estavam se tornando tenebrosos. Havia voltado para São Lourenço, para estudar na faculdade local. Pois meus problemas com a depressão haviam se tornado mais peculiares. Toda essa mudança gerou uma grande frustração, uma vez que se eu tivesse concluído o curso na faculdade de Alfenas, eu poderia ter tido grandes oportunidades em São Paulo. Pensamentos sobre a garota que eu deveria ter me casado voltavam a tomar minha mente de uma forma sombria e eu tinha a ideia que deveria guardar dinheiro para poder vê-la. O que não aconteceu.

Voltar para São Lourenço foi de longe a pior das minhas escolhas.

Com vergonha pela minha escolha errada, eu decidi criar uma segunda versão da minha história, para justificar meu fracasso como pessoa. Dizia a todos que eu estava muito envolvido com álcool e que precisava me tratar, por isso voltei para a minha cidade natal.

Sonhos abomináveis eram os donos de meu sono. Terror noturno. Desejo de estar morto. Esses eram os novos sintomas dessa temporada. A noite que deveria ser meu único momento de paz, passou a ser assombrada por sentimentos negativos. Eu não tinha mais paz, evitava dormir para não ter que acordar. Evitava dormir para não sonhar.

Na faculdade nova, haviam vários olhos curiosos sobre mim. São Lourenço é uma cidade pequena. E como em toda cidade pequena a curiosidade é algo muito frequente. Todos me questionavam do porque eu havia voltado. Eu sempre sorria e entregava a segunda versão, com medo de ser crucificado por ter amado. O amor, o mais belo sentimento, o sentimento da união perfeita entre Deus e o homem, havia se tornado um motivo de vergonha e desprezo para mim.

Envolvi-me novamente com grupos ligeiramente misantrópicos, encontrei comunidades virtuais que adoravam publicar, identificar e constatar óbitos de pessoas estranhas. Meu maior e único prazer era fruto da estranheza e da desgraça. Era um reflexo de como eu me sentia perturbado por dentro.

Eu comecei a ficar doente frequentemente, e então descobri o transtorno obsessivo compulsivo que iria reinar sobre minha vida: Eu tinha TOC com doença.

Virei um fã de carteirinha de convênios de saúde, de laboratórios de coleta de sangue e hospitais. No início, ao desenvolver meu TOC, eu sofria calado. Achava que estava com meningite, AIDS, tuberculose e câncer. Passava horas pesquisando os sintomas e meu corpo passava por um período de psicossomatização. Toda semana eu estava morrendo, eu iria morrer. Não havia paz.

Jamais me livrei desse Transtorno, apenas evito os gatilhos que me levam a ele.

Certa vez – um fato curioso -, eu dei dinheiro a um sem teto que clamava ter AIDS. Achei que havia sido contaminado. Acredite se quiser, até a contagem dos meus leucócitos diminuíram.

Eu tinha fé sem fato.

Eu não conseguia mais ter relações sexuais normais sem achar que seria contaminado, na minha cabeça o HIV poderia ser transmitido pelo ar.

De três em três meses eu estava lá, presente, sentadinho no laboratório de coleta de sangue e mesmo quando recebia os exames, todos negativados, eu ainda achava que algo poderia ter dado errado e o exame me mostrara um falso negativo.

Naquela altura, eu só saia de casa para ir para a faculdade. Não conseguia mais frequentar academia. Eu evitava aparecer em qualquer lugar que fosse. Não queria ser visto, nem tocado. Eu estava conhecendo a agorafobia.

O terceiro psiquiatra me diagnosticou com depressão maior e transtorno de ansiedade generalizada. Um decorrente do outro. A medicação foi risperidona® com venlafaxina (e eu sempre dava um jeito de conseguir mais receitas azuis para meu ansiolítico para sustentar o vício).

Eu não conseguia mais sair da cama, permanecia inerte, assistindo filmes de terror o dia todo, sem disposição.

Comecei a ganhar muito peso, em mais ou menos um ano, ganhei 30 quilos. Isso me afetou diretamente e contribuiu para que eu não quisesse mesmo sair de casa. Fiquei isolado. Aquilo não era tão ruim. O isolamento até me fazia bem.

Obtive uma onda de criatividade, onde eu desenhava, pintava e escrevia muito.

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Uma anatomia da destruição

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Primeiramente, eu diria, minha história é mais extensa do que eu poderia descrever aqui. Sempre haverá uma brecha, um espaço vazio para mais algumas palavras. Eu me lembro bem da minha infância, na verdade eu me lembro do meu primeiro dia de vida, achava que isso não era possível até ver um programa de televisão sobre memórias e traumas.

Nascer é um trauma.

Lembro-me das luzes no teto do hospital e de enxergar tudo de maneira embaçada, como me lembro dos meus gostos estranhos quando ainda possuía pouco (ou quase nenhum) discernimento. Diferente das outras crianças que gostavam de ouvir histórias infantis na TV Cultura, eu preferia histórias sobre assombrações, demônios e lobisomens contadas pela minha avó. Casinhas, sol, flores e um morro gramado não eram nem de perto meus alvos artísticos, eu gostava mais de esqueletos e cemitérios os quais eram basicamente a composição de meus desenhos.

Quando criança eu queria ter sido um cientista ou escritor. Meu desejo era ficar mexendo com frascos coloridos, misturando formulas, inventando remédios ou debruçado em cima de um monte de folhas, colocando as mais absurdas ideias para fora. Não imaginava que o absurdo iria se tornar parte da minha vida.

A minha doença, como sempre e com todo mundo, passou despercebida durante quase toda minha vida e só obteve a atenção necessária quando finalmente eu comecei a ceder.

Na escola, nunca fui dos melhores alunos e as matérias que mais me atraiam eram história e literatura. As outras disciplinas eu banalizava, assim como quaisquer outras coisas em minha vida que eu julgava trivial.

Então, como um fantasma, ela apareceu quando eu menos esperava. Começou leve, como uma brisa. Eu a ignorava, apesar de sentir pouco entusiasmado com a vida. Eu a descreveria como aquela preguiça de domingo – qual adolescente não é preguiçoso? Entretanto, a fadiga era permanente, por dias, semanas e às vezes, até meses.

Eu que havia sido uma criança feliz, correndo para cima e para baixo nas ruas pequenas da cidade que nasci, uma criança que se sentia completa simplesmente por tomar café com leite pela manhã e assistir desenhos, não conseguia mais ter prazeres, tanto nas coisas simples, quanto nas mais complexas.

Aos quinze anos minha vida já estava bagunçada suficientemente para eu perceber que estava sendo devorado pelo mal do século. Minha família passava por problemas financeiros, perda de entes queridos e meu mundo estava sendo atordoado por relações amorosas infernais.

A solução para mim? Comecei a me envolver com pessoas extremamente problemáticas, que como eu, estavam perdidos dentro da própria mente. Participei por curtos períodos de gangues juvenis e sem propósitos, que viam graça na violência. Automutilação nunca foi algo que me atraiu, mas um humor mórbido tomava conta de mim e eu me deleitava. Talvez eu ainda conseguisse encontrar certo tipo de prazer no obscuro.

Arte: Michael Taylor -Lumen

O meu primeiro psiquiatra era, com certeza, mais louco que eu. Ele parecia querer me provocar e me deu na época o meu primeiro antipsicótico junto com outro remédio para dormir. O resultado foi: o antipsicótico não fazia efeito e o para dormir me dava alucinações.

Explosões de ódio começavam a se tornar parte do meu dia a dia cujas horas eu passava irritado. Minha reação aos outros e suas palavras eram quase sempre agressiva, verbal ou física.

O segundo psiquiatra era um homem mais estranho ainda. Obcecado por Don Quixote, o consultório dele aparentava um livro encenado, qual me causava incômodo. Mas nada incomodava mais que os atrasos frequentes das consultas e o riso irônico que ele sempre carregava em sua boca.

O diagnóstico dele para mim foi interessante: bipolar.

O remédio obviamente foi o depakote, quase um padrão na psiquiatria moderna para os transtornos de humor.

No entanto, meu temperamento não houve melhoras. Oscilava entre a calma e a ira. Eu desconhecia a alegria, desconhecia a felicidade.

Então comecei a faculdade. Fui cursar direito na cidade de Alfenas em Minas Gerais, e como todo adolescente, fiz muitos amigos, fui a festas, bebi e namorei. Tenho a sensação de ter tido um sorriso ensaiado por quase todo esse tempo. Fingindo estar tudo bem, cedendo à pressão de amigos e no fundo, almejando a solidão e o isolamento.

Arte: Salvador Dali – Antropomorphic Cabinet (1936)

Os sentimentos negativos durante os dois primeiros anos desaceleraram e quando senti que eu estava obtendo o controle da minha vida novamente, decidi sair em tour pelo mundo. Coloquei a mochila nas costas e fui para a Europa.

Na Europa conheci o que deveria ter sido o amor da minha vida e como dizem, tudo que é bom, sempre acaba. Isso marcava o início da segunda temporada da minha doença. A culpa não foi dela nem minha. Havia nisso tudo uma disposição genética e os acontecimentos daquele ano marcavam o início, apenas o início, da minha luta.

No primeiro ano após voltar da Europa, eu me sentia deprimido. Achava que era pelo simples fato de ter um relacionamento que deveria ter sido bom, finalizado de maneira brusca. Após longos 10 meses, eu já não pensava mais nela, mas também eu não havia retomado minha energia. Eu permanecia inerte. Um estado lisérgico permanente.

Então conheci meu terceiro psiquiatra. Fui diagnosticado com depressão leve e ansiedade. Comecei a tomar uma bomba de tricíclicos que não me faziam efeitos positivos, apenas me tornavam mais violento e inconstante. Viciei-me no Frontal®. Achava que não conseguiria viver sem tomar ao menos seis comprimidos da dosagem mais alta por dia. Além disso, gostava da sensação de estar bem com o mundo, de estar bem comigo mesmo. Eu descreveria a sensação como: Se chovesse meteoros eu apenas me maravilharia ao olhar. Na ausência de tal medicamento eu ficava ainda mais irritadiço, tonto, nauseado, com sudorese e com mãos bem tremulas.

Houve uma vez em que uma simples briga com minha mãe, me levou a destruir um jarro de vidro grosso na cabeça. Minha mão havia sido dilacerada e eu me comportava feito um lunático. Não conseguia dormir.

 

No ano de dois mil e dez, perdi um primo que era muito próximo e quase um irmão (eu sou filho único). Aquilo pareceu não ter me atingindo da maneira que deveria, fiquei em choque e tive um ataque de nervos em seu funeral. Não era necessariamente pela morte dele, mas junto aos meus próprios sentimentos que eu já não podia mais controlar, estava tudo mudando.

Eu estava obcecado pela morte.

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Demônio em Fuga: a luta continua

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Esse foi o texto mais demorado da minha vida. Protelado. Aquilo que deveria ter sido o grande final, não foi. Não há final. Não enquanto eu lutar.

No meu último texto, que francamente ficou horrível, eu estava sob o domínio da mania. Eu desdenhei e não fui humilde em relação a doença. Além disso, quis dar a impressão de vitória, talvez uma ideia de esperança. Não estou aqui para tirar toda fé. Pelo contrário, quero que você entenda, a simples frase que já citei acima e que citarei no final.

Foto: Brooke Shaden

Tive dois longos anos desde a última vez que escrevi para o Encena. Escrevi algo vergonhoso que não foi digno de ser publicado e mesmo assim foi.

Tive novos psiquiatras, novos diagnósticos e novas descobertas.

Minha vida saltou, deu pulos altos e mergulhos profundos e contraditórios. Bem, eu desisti de encontrar uma maneira de sair desse labirinto que a genética e a filosofia me colocaram. O que eu poderia dizer é que devemos resistir.

Hoje não tenho mais tantas crises como antes, levo uma vida saudável e aprendi muito com a doença. Aprendi a evitar gatilhos como álcool, emoções, impulsos e desespero.

Foto: Brooke Shaden

Hoje vivo apenas como o escitalopram que é um antidepressivo mais fraco e o aripiprazol, que é um excelente estabilizador de humor. Não bebo mais, mas ainda fumo muito – isso me ajuda a controlar a ansiedade.

Não tenho a vida que gostaria de ter e provavelmente nunca a terei. A depressão é um demônio em fuga, que devemos policiar sem questionar. Mantenho-me longe de tudo que seja estressor e qualquer ambiente que possa engatilhar uma crise. E sugiro que você, meu leitor, faça o mesmo.

                                  O que me salvou?

                                                            Como consegui lidar com isso?

                                                                                                Como aprendi a viver com isso?

Bem, aceitando a doença.

E aprendendo com ela. Aprendi que endorfina é um dos bens mais preciosos que nosso corpo pode produzir através de exercícios aeróbicos e por isso sugiro a todos pacientes depressivos que façam uma forcinha, mesmo que seja praticamente impossível sair da cama… Saia!

Vá dar uma corrida, caminhe 15 minutos e prossiga até que isso se torne horas de caminhada. Seu corpo irá agradecer muito.

Eu sou muito grato por tudo, sou grato pelo tempo que tenho vivido atualmente, mesmo com nossa medicina psiquiátrica estando tão longe de solucionar problemas, talvez eu tenha nascido 50 anos antes de poder ver algum progresso significativo para nossa doença química e filosófica ao passo que sou grato por não ter nascido 50 anos atrás, onde os tratamentos eram brutais e desleais.

Faça exercícios, nossos medicamentos atuais são cheios de efeitos colaterais e o mais temido deles é engordar e possivelmente você irá passar por isso ou no último caso emagrecer demais.

Mas faça-os!

Foto: Brooke Shaden

Os benefícios são incalculáveis. A endorfina liberada fará você se sentir pelo menos 80% melhor, falo por experiência própria.

Quando comecei a praticar exercícios era uma lamúria, sair de casa parecia um tormento, mas depois de mais ou menos 3 dias eu estava me encaixando e me sentia bem melhor com minha aparência e comigo mesmo.

Não desista de você. Hoje vivo bem e você também poderá viver, não se deixe aprisionar pelo ciclo vicioso da indústria farmacêutica, faça algo por você mesmo.

                                                          Resista! 

                                                                               Lute! 

                                                                                        E depois, lute com mais força!

Há uma saída para tudo. Pratico hoje muay thai, jiu jitsu, defesa pessoal e academia convencional. Viciei-me em mim mesmo e acredite, nada melhor que isso, nada melhor do que começar a sentir um amor incondicional por si mesmo.

Não se prenda.

Não seja devorado.

E acredite, todo meu relato foi verídico e minha luta continuará. Na depressão não há cura, apenas remissão e lembro todos que temos problemas de serotonina, noradrenalina e endorfina, precisaremos sempre de acompanhamento e tratamento, seja ele exótico como a eletroconvulsoterapia ou não.

Foto: Brooke Shaden

E acredite, todo meu relato foi verídico e minha luta continuará. Na depressão não há cura, apenas remissão e lembro todos que temos problemas de serotonina, noradrenalina e endorfina, precisaremos sempre de acompanhamento e tratamento, seja ele exótico como a eletroconvulsoterapia ou não.

Aceite bem sua doença e a trate com o devido respeito. Lembre-se que você é doente como qualquer outra pessoa – como um diabético que tomará insulina para o resto da vida -, você terá que se medicar e procurar ajuda de profissionais para terapia. Não há outra forma. Ou se há outras formas, ainda não as descobri. Sei que daríamos tudo para sermos normais, mas lembre-se de seus atributos que foram dados só a você e a mais ninguém. Você é capaz de resistir a coisas que ninguém imagina que exista. Você luta contra fantasmas que ninguém vê. Sente dores que ninguém pode curar.

E vê o mundo com magnifica beleza – digna de um escritor ultrarromântico -, quando melhora. O mundo é sua tela, seu livro, sua arte. Você é mais sensível que os demais e nem por isso, isto lhe torna mais fraco, lhe torna um sobrevivente, um ser forte capaz de suportar pesos que nenhum outro suportaria.

                                                                Acredite na remissão.

                                                                                                Acredite em si mesmo.

Sei que demorei para completar essa saga e não terminei ainda. Em um dia claro e menos confuso eu volto para contar sobre meus novos tratamentos, minhas novas experiências. Vocês terão mais notícias.

Aqui me despeço de todos e obrigado por terem acompanhado minha trajetória dolorida.

                                                                                                                                                                                        Abraços.

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A depressão: os remédios e porquê não funcionam em mim?

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Ao longo dos anos tenho feito várias pesquisas com o público de nosso grupo (Saúde Mental) a respeito da medicação e seus efeitos. Observei vários integrantes impacientes com o desgaste emocional que causa a dependência química dos remédios além de se frustrarem pela ineficácia desses. Após anos sendo medicados, desistiam do tratamento por acreditar que não pudessem melhorar.

Baseando-me sempre na pesquisa de Andrew Solomon (na qual este diz que transtornos mentais são 20% filosóficos e 80% genéticos), pergunto sobre a família do paciente, procurando saber se existe algum outro caso de doença mental conhecido.

Leia-se como filosofia, experiências e traumas, reais ou fictícios.

A realidade é una, estamos mais evoluídos na psiquiatria do que há 50 anos atrás e muito atrasado pelo que virá nos próximos 50 anos. Medicações novas e aparentemente milagrosas tem sido testadas, um exemplo é como a cetamina que promete curar a depressão em uma hora.

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Retirado de: socialspirit.com.br

Então qual é o parâmetro para escolha da medicação e por que não está fazendo efeito? Lembre-se: cada organismo, lida de uma maneira diferente frente à uma medicação. Os psiquiatras em geral começam com as dosagens mais baixas dos medicamentos mais comuns. A ideia é que o medicamento faça efeito em 15 dias e após o retorno, o paciente relate alguma mudança que possa favorecer seu tratamento.

Porém há casos em que o paciente toma por mais de anos o mesmo medicamento e não obtém os efeitos esperados, principalmente em casos de depressão. Pessoalmente, após dez psiquiatras pude conseguir fechar meu diagnóstico como bipolar, e então algo: a farmácia inteira foi testada em mim. Psiquiatria vive de chute e acerto, mas acerta. Se seu remédio não faz efeito, fale ao seu médico sobre a possível troca, fale sobre as dosagens, converse sobre seu tamanho e peso, para que seu aquele possa ajustar a dosagem correta de acordo com seu físico. O importante é não pare de tentar. Por mais complicado que seja seus tratamentos e os efeitos colaterais desse, o conforto que procura está ao alcance de seus dedos.

Um erro comum é acreditar que o oposto da depressão é a felicidade. Errado. A depressão é a falta de vitalidade, como por exemplo levantar da cama e realizar tarefas rotineiras. A felicidade e a tristeza são apenas estados de espírito momentâneos, passageiros.

A depressão é mais comum do que parece, uma em cada cinco pessoas a possui, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, o que pressupõe que 25% do mundo tem depressão, sendo essa a doença mais incapacitante da atualidade, ao lado da síndrome do pânico.

O que destila essa pesquisa são as condições sociais do sujeito, ou seja, o índice da depressão em indigentes é maior do que em outras classes, pouco tratado por ser pouco observado. Relaciona-se, através do preconceito, a condição da pessoa (de morar na rua por exemplo) com seu estado de humor deprimido. Leia-se “sua vida é um lixo e por isso você se sente como um lixo.”

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Retirado de: noticias.uol.com.br

Em contrapartida, isso não se vê em classes médias e altas, pois um novo tipo de preconceito iminente vem à tona. Quando em condições melhores, o fato de estar em depressão significa, para ignorantes, que a pessoa é mal-agradecida ou carente. “Se você tem tudo, por que age e se sente assim?”

A depressão não escolhe indivíduos, ela existe. E deve ser tratada.

Não se sabe por onde começa. Pode ser súbita, como pode demorar. Eu fui diagnosticado aos 16, mas conheço pessoas diagnosticadas com 49. Independente do quando ela aparece, deve ser tratada com fármacos e auxílio terapêutico para assim, obter-se o efeito desejado: sua remissão.

 

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