Mundo Pré-Apocalíptico e a Sociedade de Controle (Deleuze)

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O motivo para a associação entre a tese deleuziana de Sociedade de Controle e o filme disponível no Netflix ‘Onde Está Segunda?’ é bastante claro ao usarmos a ótica de que grandes instituições desenvolvem técnicas absolutamente criativas para o controle da sociedade como um todo. É um processo de massificação planificada que se manifesta por meio da sociedade de consumo, onde se inclui mídia, jornais, propagandas e até mesmo o discurso dos próprios alvos destas técnicas.

A distopia em que se mostra o filme faz referência à uma possível problemática de superpopulação do planeta em que podemos algum dia enfrentar. A política do filho único não é uma invenção mirabolante e foi utilizada na China para tentar resolver este mesmo problema e perdurou até 2015 quando outra problemática surgiu no país, que embora ainda em desenvolvimento, enfrenta um problema de países desenvolvidos: o envelhecimento da população.

Fonte: encurtador.com.br/sOPZ4

Mas, o enfoque do texto não é exatamente esse. O ponto é a estratégia utilizada pelas agências de controle do filme para convencer a população da eficácia daquele projeto. Foram inseridos métodos extremamente invasivos as pessoas, como a identificação de cada cidadão por meio de pulseiras rastreáveis pelo governo e a técnica de criogenia para supostamente preservar os organismos dessas crianças a fim de acordarem em um mundo menos populoso e com mais oportunidades.

Similarmente como ocorreu na Segunda Guerra Mundial, em que a propaganda do Partido Nazista sobre os campos de concentração era extremamente falsa e fantasiosa, a propaganda desta distopia mostrava um processo muito poético no congelamento destes seres, mas esconde a crueldade da incineração de todas essas crianças objetivando solucionar a superpopulação.

Fonte: encurtador.com.br/buMU1

A estratégia utilizada para esconder as sete gêmeas idênticas refere-se muito ao processo de generalização referido no texto, em que cada uma podia ter sua individualidade internamente, mas ao serem expostas àquela sociedade altamente controlada tinham de usar uma máscara, um personagem altamente alienado que servia de força de trabalho para a alimentação daquele sistema (o que não difere muito da sociedade contemporânea).

O que se mostra fundamental é o questionamento e a posição de confrontadores da realidade nas condições impostas, afinal, o dever de todos como viventes deste sistema é de serem cidadãos críticos, pensantes e ativos para justamente dificultar esse controle pelas grandes agências e tornar assim uma sociedade potencialmente mais justa e preservar o princípio da equidade de direitos, tendo a informação genuína como principal forma de alimentação do senso crítico, sendo essa informação proveniente somente de uma educação honesta, livre de alienações.

Fonte: encurtador.com.br/ijqu4

Claramente é uma ideia utópica no sentido de que o capitalismo coíbe o pensamento crítico, uma vez que só é permitido essa “liberdade de ser” quando o bem-estar causado por ele gera um mercado consumidor. Enfim, a liberdade dentro do sistema controlador não existe. Cria-se uma rede de liberdades apenas para incluir os mais diversos constituintes da sociedade no grupo de compradores, ou seja, a diversidade virou produto.

A inclusão de minorias dentro das propagandas midiáticas se tornou mais um meio de aprisionar esse grupo – antes marginalizados e ávidos por aceitação – no rol de consumidores. Por fim, a liberdade só existe quando se toma consciência desses artifícios e cria-se julgamento sobre eles, feito quase inatingível na contemporaneidade. O maior ato de resistência é se posicionar contra eles, questionar é resistir.

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

  • https://razaoinadequada.com/2017/06/11/deleuze-sociedade-de-controle/ (acesso em 31/10/2017)
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Kill Bill Vol. 1: A vingança na ótica de uma mãe interrompida

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Kill Bill: Volume 1 é um filme norte-americano de 2003 criado e dirigido por Quentin Tarantino, sendo o mesmo considerado uma de suas obras-primas. O filme é estrelado por Uma Thurman que dá vida à Noiva, personagem principal que busca sua vingança por ter sido “morta” no dia do seu casamento. Um grupo de assassinos e seu líder Bill, são os alvos desta poderosa mulher – ferida e amargurada por ter perdido sua filha, a quem ainda não tinha dado à luz – e não tem medo de utilizar suas notáveis habilidades de assassina.

O ponto de destaque em Kill Bill é que nada é original e isso dá ao filme um toque especial de peculiaridade e personalidade de seu diretor e criador. Vemos traços do terror italiano e francês, filmes de artes marciais chinesas e japonesas, cinema trash e até características de filmes do velho oeste norte-americano. Essa conjuntura de ser um filme baseado em outros filmes com um senso estético único e trilha sonora impecável dão à Kill Bill seu momento de glória.

O plot da obra não é o que podemos chamar de surpreendente, é um filme de vingança com desfechos típicos de novela mexicana que conta a história de uma noiva grávida que foi “morta” pelo seu ex-chefe e sua trupe de assassinos no dia do seu casamento, mas acabou sobrevivendo ao atentado deixando para trás sua filha e tendo a vingança por essa perda como o único motivo para viver. A cadeia de acontecimentos em torno disso é rica, multicultural e particularmente peculiar.

Kill Bill Volume: 1 não é o início nem o final da trama, mas sim o meio. Sendo dividido em capítulos e tendo seu enfoque em planos-sequência, este filme se caracteriza pela importância das cenas e Tarantino cria atmosferas únicas para os violentos feitos da Noiva, desde as sombras em sua luta, no anime utilizado para narrar a história da assassina japonesa Cottonmouth e os litros de sangue jorrados por suas vítimas (inerente aos filmes de Tarantino) dão a essa criação uma estética completamente única e cativante.

A dor muito bem representada por Uma Thurman pela perca de sua vida perfeita e de sua filha mostram como a mulher pode assumir qualquer papel que ela quiser, a Noiva (ou Black Mambo, seu nome de assassina) desempenha tanto o papel social designado para a mulher quando quis se casar e cuidar de sua filha, como assume o papel de uma profissional feroz obstinada pela sua sede de vingança e também pelas possibilidades que lhe foram tiradas por aquela bala.

A força e destreza com as artes marciais e principalmente com a katana dão a ela um ar de perigo e ao mesmo tempo de vulnerabilidade. Em sua atuação, a atriz transparece a dor de sua personagem ao encontrar aqueles que a fizeram sofrer e suas cenas de combate são empolgantes e ricas em sensibilidade.

Kill Bill é um clássico, sua estética é definitivamente incopiável. Quentin Tarantino fez questão de usar toda a sua experiência com o cinema nesta obra e deu aos espectadores cenas memoráveis. A trilha sonora foi de extrema qualidade, tornou-se parte do filme e mais importante é vermos este outro lado da mulher que por muitas vezes é suprimido por papeis sociais inerentes de uma organização social culturalmente machista é, no mínimo, interessante. A perda e a dor da personagem dão a ela uma personalidade intrínseca aos olhos do espectador e certamente é um filme que vale a pena ser visto e revisto não apenas pelo seu plot instigante, mas também pela sua qualidade estética.

“ A vingança nunca é uma linha reta. É uma floresta, e como numa floresta é fácil sair do caminho…. Se perder…. De se esquecer por onde entrou. ”

Hattori Hanzo – Kill Bill Volume: 1

REFERÊNCIAS:

Kill Bill: Volume 1 – http://www.imdb.com/title/tt0266697/, acesso em 02/10/2017.

http://www.adorocinema.com/usuarios-B20141124134004210273688/movie/28541/, acesso em 02/10/2017

FICHA TÉCNICA DO FILME:

KILL BILL

Diretor: Quentin Tarantino
Elenco: Uma Thurman, Sonny Chiba, Lucy Liu, 
País: EUA
Ano: 2004
Classificação: 16

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