“A invenção da Psicanálise”: entre o documentário e algumas curiosidades

Este documentário nos traz a rara oportunidade de ouvirmos a voz de Freud.  Para quem admira tanto a obra, quanto o homem, é quase como uma catarse. Deparamo-nos com fotos e vídeos, tais como o depoimento de Carl Jung descrevendo seu encontro com Freud. Curiosidades: Neste encontro épico, eles tiveram 13 horas de conversa sem intervalos, se afinaram sobremaneira, e Freud viu em Jung um sucessor em seus estudos, porém como todos sabem, as divergências os afastaram.

Sigmund Freud, Stanley Hall, Carl Gustav Jung; Abraham Brill, Ernest Jones, Sandor Ferenczi. Encontro de Titãs. Fonte: encurtador.com. br/ouCHZ

Foi um episódio digno de nota acompanhar momentos tão significativos para nossa história, e além de tudo isso, sabermos a fundo toda a trajetória deste homem ímpar e conhecermos mais a cerca do nascimento da psicanálise e seus desdobramentos posteriores.

O documentário “A invenção da Psicanálise” é um filme que visa compreender os primórdios criativos da psicanálise e da vida e morte de seu autor e criador Sigmund Freud. Todo o contexto do documentário chama muito a atenção, todos os acontecimentos são dignos de nota, porém vamos nos ater aos acontecimentos mais relevantes, embora, toda esta história seja de grande valia para todos que se debruçam a esta obra tão significativa em todos os seus seguimentos.

Freud, um neurologista judeu, relatou pela primeira vez em seu discurso seu interesse pelos pacientes neuróticos, fazendo com que surgissem algumas descobertas a respeito do inconsciente, aliado a isto sua curiosidade em descobrir a cura para uma psicose chamada histeria. Histeria na época era considerada uma doença nervosa, supostamente originada no útero, era marcada por convulsões, identificada em mulheres.

Curiosidades: Não poderia deixar de levar ao leitor uns apontamentos que fiz a cerca da histeria, que muitos julgam ter vindo à tona com estudos de Freud, no entanto, é bem relevante que se saiba que o termo histeria vem de longa data, mais precisamente no século IV a.C, com Hipócrates, que também dizia que esta doença, ou mal era causado através do útero, logo, (hystéra, útero em grego).

Para Platão, a mulher  tinha no útero um ser de autonomia, assim como um animalzinho que pode ir de um lado para o outro do corpo, sendo desta forma, dependendo do lugar que ele se aloja,  pode  reprimir o órgão, e a partir daí  gerar uma histeria, ou outros males tais como desmaios, falta de ar, entre outros. Aqui existe muita similaridade com a repressão em Freud. Para os médicos Galeno e Sorano, na Roma antiga era a falta de sexo que causava a histeria nas mulheres (faz sentido). Já na idade média, a histeria era o domínio do mal que possuía as mulheres. Na renascença, a culpa era dos vapores que chegavam ao cérebro (apenas no cérebro das mulheres. Pobre de nós.)

Com Charcot e Freud a história da histeria tomou outros rumos.

Freud e Charcot. Fonte: encurtador.com.br/oyE48

Freud então vai para Paris e lá conhece Jean-Martin Charcot, um grande neurologista que vinha conseguindo resultados positivos com o tratamento da histeria usando métodos hipnóticos. Charcot acredita que durante a hipnose os sintomas de histerias deixavam de existir e que não estavam relacionadas ao útero, mas a uma neurose funcional. A partir de Charcot, Freud faz novas descobertas sobre histeria e sexualidade. Através desta descoberta ele associa o homem a suas feridas, ele acredita serem geradas desde a infância.

Freud conhece Josh Breuer em Viena, médico judeu que é especialista em doenças nervosas. Breuer tinha uma paciente, Anna O. e Freud se interessou demais pelo caso de Anna O., uma jovem mulher que apresentava histeria aguda. Os estudos de Breuer foram bastante significativos para Freud, ele se atentava a tudo que o médico desenvolvia e a partir disso ele desenvolve sua teoria psicanalítica sobre sexualidade, e deste encontro nasce o livro Método cartático” que narrava métodos sobre como tratar a histeria.

Quando Freud abandona a hipnose e em 1889 inventa o divã, para que o método terapêutico tivesse como interesse e fosse focado nas palavras, no que o paciente tinha a narrar. Ao deixar os pacientes livres para falarem o que quiser, Freud atribui a sexualidade um lugar crucial para definir a vida psíquica e suas conexões com o passado.

Foi em sua relação com Wilhelm Fliess que nasce a psicanálise, junto com teorias da bissexualidade, teoria da sedução e sua primeira teoria do aparelho psíquico. Fliess teve grande influência na vida de Freud, neste ínterim ele já atestava que atrás de todo trauma, existe uma neurose. Mais tarde ele cria a teoria das fantasias, ele acredita que o inconsciente carregaria lembranças e fantasias na qual o indivíduo inventa seduções do seu imaginário, e isso faz com o indivíduo sofra.

Fonte: encurtador.com.br/hsBLW.

Curiosidades: Freud e Fliess trocaram cartas que vão de 1887 a 1904, período que se inicia o início e desenvolvimento da psicanálise. Foram 17 anos de correspondências. 133 documentos nunca trazidos a público anteriormente, e mais 139 publicados apenas em parte.

Segundo Sulloway os amigos partilhavam de crenças similares, e entre elas estavam a idealização das ciências da natureza e das explicações de cunho reducionista, o caráter determinista dos fenômenos naturais e psíquicos, a importância primordial do domínio da sexualidade e, também, a expectativa no uso benéfico da cocaína (Sulloway, 1981, p. 129-130).

Diante de todos estes acontecimentos e encontros fez com que ele, Freud se concentrasse no sujeito; então nestes episódios se dá a revolução Freudiana e o surgimento da psicanálise de Sigmund Freud.

A psicanálise traz a tona uma nova forma de tratar pacientes neuróticos, abandonando métodos de cura por banhos, eletro choques entre outros, dando lugar a um tratamento humano através da fala. “A qualidade de ser consciente… permanece sendo a única luz que ilumina nosso caminho e nos conduz através da obscuridade da vida mental” (1938/ 1964, p. 286)

Referências:

DRAWIN, Carlos Roberto, et.al. 2020. Freud e Fliess: considerações sobre uma supervisão imaginária. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/347454466_Freud_e_Fliess_consideracoes_sobre_uma_supervisao_imaginaria. Acesso em 01/09/2022.

GOMES, Gilberto. 2003. A Teoria Freudiana da Consciência. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/jdXnRPyk9NFzfRSf9fHtQYS/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 01/09/2022

LOPES Liliana. Canal Meditacinco. A invenção da Psicanálise – documentário. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7JabKzJZXZ0. Acesso em 01/09/2022

Masson, Jeffrey Moussaieff A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess — 1887-1904 / Jeffrey Moussaieff Masson; tradução de Vera Ribeiro. — Rio de Janeiro: Imago, 1986.