A sociedade da neve: a resiliência como uma questão de políticas públicas

O filme “A sociedade da Neve” foi lançado em dezembro de 2023 e chegou ao Brasil em janeiro de 2024. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, é inspirado em uma história real e baseado no livro de Pablo Vierci. Possui um enredo marcante, uma luta por sobrevivência que pode ser vista como uma “tragédia” e/ou como um “milagre”. Em 1972, um voo vindo do Uruguai, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, colide com uma geleira nos Andes e a partir de então os sobreviventes começam uma luta pela vida. 

Em meio a uma situação atípica, o filme enfatiza a forma como foi a luta pela superação da adversidade e sobrevivência após o desastre. O filme ilustra a resiliência como capacidade basilar, apoiada em um contexto de união grupal, onde os personagens trabalharam em equipe para conseguirem sobreviver e buscar resgate. 

Na trama, os sobreviventes decidem se alimentar da carne de pessoas que morreram para se manterem vivos. Assim, a sociedade recém formada passa por um momento de “crise”, aspectos relevantes se apresentam como, crenças, valores e identidade, gerando resistência e conflito de interesse.

No filme, os personagens Numa e Marcelo assumem papéis de liderança, tomam as iniciativas e buscam estratégias de enfrentamento. Em dado momento os personagens Nando e Roberto unem forças para irem atrás de ajuda, quando enfim conseguem. Assim, é perceptível a importância da rede de apoio e fica explícito que em um processo de enfrentamento de adversidades uma hora a pessoa ajuda outrora é ajudada, o que evidencia os benefícios da cooperação.

                                                                                                                                                                fonte: Netflix

Considerando o viés de que ao longo da vida podemos enfrentar crises humanitárias, desastres naturais e surtos de doenças, a resiliência se torna uma habilidade que precisa ser trabalhada pelas políticas públicas, é uma questão que deve ser desenvolvida dentro dos sistemas de saúde para as equipes que atuam nessa área.  As organizações de saúde podem desenvolver ações de educação permanente com enfoque na resolução de problemas, promoção da capacidade reflexiva, treinamentos comportamentais, melhoria da qualidade de vida no trabalho, entre outras (JATOBÁ & CARVALHO, 2022). 

Segundo Angst (2009) a resiliência não é adquirida, e sim aprendida de diversas formas, sendo uma delas a realização de programas voltados a diferentes populações. Assim, existem fatores de proteção e fatores de risco que estão diretamente relacionados ao desenvolvimento de comportamento resiliente que podem ser trabalhados principalmente na infância e adolescência. 

A importância da ênfase no desenvolvimento da estimulação da resiliência se dá pelo fato da maneira como cada pessoa lida com eventos adversos e traumas. Considera-se que quanto melhor a forma de enfrentamento, há mais possibilidades de minimização dos danos sofridos, o que pode corroborar para uma melhor qualidade de vida e saúde mental.  A resiliência se dá a partir da interação entre a vulnerabilidade e a proteção, determinada por atributos individuais, familiares e sociais, num processo dinâmico, que deve ser desenvolvido e estimulado (SANTOS et al. 2020). 

O autor enfatiza as dificuldades da sociedade, assim, podemos fazer alusão a complexidade que é para as políticas públicas e para  o SUS, se portar como um sistema resiliente frente a eventos extraordinários, onde precisa ser levado em consideração questões de diversidade cultural, vulnerabilidade social, determinantes sociais, papel do governo, poder estatal, entre outros. Um sistema com o nível de complexidade do SUS só terá seu potencial para a resiliência adequadamente representado se for por um arcabouço de indicadores capaz de agregar seus aspectos estruturais e funcionais (JATOBÁ & CARVALHO, 2022). 

Por fim, o filme é de relevância visto que aborda temas que dizem respeito a questões políticas e sociais. Às vezes pode ser algo que passa despercebido, mas em algum momento da vida precisaremos ser resilientes, e esta se mostra como uma habilidade desenvolvida não só em uma perspectiva individual, mas em sociedade. 

Referências

ANGST, R. PSICOLOGIA E RESILIÊNCIA: Uma revisão de literatura. Psicologia Argumento, [S. l.], v. 27, n. 58, p. 253–260, 2017. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/psicologiaargumento/article/view/20225. Acesso em: 19 abr. 2024.

JATOBÁ, A.; CARVALHO, P. V. R. de. Resiliência em saúde pública: preceitos, conceitos, desafios e perspectivas. Saúde em Debate, [S. l.], v. 46, n. especial 8 dez, p. 130–140, 2023. Disponível em: https://www.saudeemdebate.org.br/sed/article/view/7878. Acesso em: 17 abr. 2024.

Santos, LKP, Souza, MVO, Santana, CC. Ações para o fortalecimento da resiliência em adolescentes.. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2019/Mar). [Citado em 17/04/2024].  Disponível em: