The 90’s are back! A Influência Midiática e a Perpetuação da Pressão Estética

O ressurgimento dos “anos 2000” e o impacto biopsicossocial da obsessão pelo emagrecimento.

Nos últimos anos, os padrões de beleza têm se mostrado quase impossíveis de acompanhar devido à sua constante evolução, que ocorre quase na mesma velocidade que as mudanças nas coleções de moda rápida. Este fenômeno reflete uma era onde a estética é transitória e altamente influenciada por ícones da cultura pop, como a família Kardashian-Jenner. Desde meados dos anos 2010, as mulheres deste clã estabeleceram um novo padrão estético com corpos voluptuosos e lábios carnudos, que não apenas mantiveram a atenção do público sobre elas, mas também contribuíram significativamente para a construção de seus impérios comerciais (Smith, 2017).

Um exemplo notável é a Kylie Cosmetics, lançada por Kylie Jenner em 2015. Em dois anos, a empresa foi avaliada pela Forbes em US$ 800 milhões, ilustrando o poderoso impacto de sua influência estética (Forbes, 2017). A própria Kylie, desde os 15 anos, popularizou os lábios preenchidos, influenciando uma geração inteira. A Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (2016) relatou que os procedimentos de preenchimento labial saltaram de 1,8 milhão em 2010 para 2,6 milhões em 2016, destacando a ascensão dessa tendência estética.

Recentemente, no entanto, observou-se uma guinada das irmãs Kardashian-Jenner em direção a um físico mais esguio, alinhado com a reemergente estética dos anos 2000 e o aumento do uso de medicamentos para emagrecer, como o Ozempic. Este retorno ao padrão de magreza extrema, ou “size zero”, levantou preocupações entre especialistas em saúde e moda (Johnson, 2020).

As interações complexas entre os ideais de beleza disseminados pelas plataformas de mídias sociais e o contexto do gênero feminino resultam em um aumento substancial nas taxas de insegurança e no surgimento de transtornos associados a essa dinâmica. A proliferação de imagens e representações de padrões estéticos irrealistas e estereotipados, amplamente difundidos nas mídias, exerce uma influência considerável sobre a autoimagem e a autoestima das mulheres, impactando negativamente seu bem-estar psicológico e emocional (Lira, 2017).

                Fonte: Miu Miu Fashion Show por Victor Boyko/ Getty Images

A magreza extrema dos anos 2000 foi marcada como um período de tendência no mundo da moda. E está de volta nas passarelas e nas telas.

A preocupação dos especialistas não é infundada. No TikTok, a hashtag Y2K já acumulou mais de 18 bilhões de visualizações, demonstrando a popularidade preocupante deste retorno à magreza (TikTok, 2020). Segundo a psicóloga Vanessa Tomasini, especialista em transtornos alimentares, esse padrão sempre se situa no que é inatingível para a maioria, movimentando uma grande indústria que explora a busca pelo corpo magro e pela juventude eterna (Tomasini, 2021).

Os riscos associados a esse padrão são numerosos e incluem transtornos alimentares graves como anorexia e bulimia, além de problemas físicos decorrentes de dietas extremas e uso de medicamentos sem supervisão médica, como perda de massa muscular, alterações hormonais e desidratação (Bello, 2019). Além disso, essas práticas podem agravar problemas de saúde mental, como baixa autoestima e isolamento social, especialmente em jovens que se veem bombardeados por essas imagens nas redes sociais (Costa et al., 2019).

A mídia, por meio de seus instrumentos de marketing, transforma o corpo em um produto, promovendo um padrão de “corpo perfeito” associado a sucesso, prazer e realização pessoal, evidenciando o poder da mídia como influenciador da percepção corporal (Vargas, 2014; Silva, 2014). As consequências dessas influências podem ser duradouras e devastadoras, como demonstrado pelos estudos sobre o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), onde indivíduos desenvolvem uma obsessão por defeitos percebidos em sua aparência, muitas vezes resultando em comportamentos compulsivos e tratamentos estéticos repetitivos (DSM-5, 2014).

Portanto, é vital que continuemos a promover um entendimento mais saudável e inclusivo dos padrões de beleza, considerando a diversidade corporal e a saúde mental, como maneiras de mitigar os danos causados por essas percepções distorcidas que ainda dominam nossa cultura de consumo. As reflexões propostas por Tomasini e outros especialistas são cruciais para o desenvolvimento de uma sociedade mais consciente e menos focada em ideais inatingíveis de beleza (Tomasini, 2021; Costa et al., 2019).

Referências

LIU, B. A estética das Kardashian-Jenner e a busca do ‘corpo trend’: como essa equação afeta as mulheres? Disponível em :< https://revistamarieclaire.globo.com/comportamento/noticia/2024/04/a-estetica-das-kardashian-jenner-e-a-busca-do-corpo-trend-como-essa-equacao-afeta-as-mulheres.ghtml >. Acesso em: 1, mai, 2024.

MUNIZ, C. Magreza anos 2000: os perigos da retomada do padrão de moda. Disponível em: > https://gshow.globo.com/moda-e-beleza/noticia/magreza-anos-2000-os-perigos-da-retomada-do-padrao-de-moda.ghtml >

SANTOS DE OLIVEIRA BASTOS, A. P.; ALVES BENEVIDES, A. L.; FERREIRA DA SILVA, M.; URZÊDO RIBEIRO, L. A influência das mídias sociais no Transtorno Dismórfico Corporal: Uma doença da era digital?. Revista Científica do Tocantins, [S. l.], v. 2, n. 1, p. 1–18, 2022. Disponível em: https://itpacporto.emnuvens.com.br/revista/article/view/48. Acesso em: 1 maio. 2024.

PAULINO, N. L.  Impactos Psicológicos Nas Mulheres Frente Aos Ideais De Beleza Determinados Nas Mídias Sociais. Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia  – Faculdade Fasipe Cuiabá.  Cuiabá, 2023.