A Teoria de Tudo: Stephen Hawking e seu universo com Jane

Com cinco indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Ator (Eddie Redmayne), Melhor Atriz (Felicity Jones), Melhor Roteiro Adaptado (Anthony McCarten) e Melhor Trilha Sonora.

“Desde o começo da civilização, as pessoas tentam entender a ordem fundamental do mundo. Deve haver algo muito especial sobre os limites do universo. E o que pode ser mais especial do que não haver limites? Não deve haver limites para o esforço humano. Enquanto houver vida, haverá esperança.” (Stephen Hawking)

 

Mesmo sem entender as teorias de Stephen Hawking, muitos já ouviram falar sobre os conceitos apresentados em seus livros, que vão desde buracos negros e o início do universo, até a teoria das cordas. Isso porque Hawking conseguiu a proeza de colocar o livro de um cientista teórico na lista de best-sellers (Uma breve história do tempo). Essa façanha só foi possível porque, seguindo o conselho de seu editor, elaborou um livro sobre alguns dos princípios da física teórica sem o uso de fórmulas matemáticas nas explicações (ou melhor, com uma única fórmula: E=mc2). Um livro que deu ao público em geral a oportunidade de apreciar conceitos complexos sem a estranha sensação de estar olhando para um enigmático conjunto de números e símbolos.

Mas quem buscou encontrar no filme longos relatos sobre as teorias de Stephen, provavelmente foi surpreendido. Em “A teoria de Tudo” vimos a história de Stephen e Jane (sua esposa) que, como muitas matérias que se atraem na natureza, parecem estar em campos opostos. Ele, um estudante de Física, que só acredita na ciência como forma de entender os mistérios do universo, ela, estudante de artes e uma cristã devota.

 

Jane: Você não falou por que não crê em Deus.
Stephen: Um físico não pode deixar que a crença em um criador sobrenatural atrapalhe seus cálculos.
Jane: É um argumento contra físicos, não contra Deus.

 

O filme foi baseado em um livro publicado por Jane Hawking, Travelling To Infinity: My Life With Stephen, e roteirizado por Anthony McCarten. Nele, vimos duas pessoas compartilhando uma vida com desafios complexos. A premissa da história poderia muito facilmente cair em uma ode piegas à superação humana e ao amor conjugal, mas graças a atuação impecável do casal principal, ao roteiro e a bela fotografia, o que presenciamos é um filme mais crível, logo mais interessante.

Claro, é uma história real contada em um filme hollywoodiano e isso já muda a perspectiva de muitos fatos, mas, ainda assim, com o desenrolar dos acontecimentos podemos ver o ser humano por detrás do gênio ou da pessoa portadora de uma doença tão devastadora, logo podemos enxergar, além de tantos aspectos positivos (perseverança, resiliência etc.), uma dose de egoísmo e orgulho. Aos poucos, vimos também que há uma certa melancolia crescente em Jane por algo que ela tem a impressão de ter deixado para trás, talvez um pouco de sua própria vida.

 

 

Jane e Stephen se conheceram no início da década de 1960 e foi logo depois disso que os sintomas da doença que iria mudar a vida de Hawking começaram a aparecer, primeiro em forma de pequenas dificuldades motoras até o momento de sua queda em Cambridge e do diagnóstico fatal: a doença do neurônio motor (DNM), ou de Lou Gehrig, que dava-lhe, no máximo, dois anos de vida (ele estava com 21 anos).

Observação: a denominação atual (e mais específica) da doença de Hawking é Esclerose Lateral Amiotrófica.

A esclerose lateral amiotrófica (ELA), também conhecida como doença de Charcot ou doença de Lou Gehring, e pertencente ao grupo das doenças do neurônio motor, é caracterizada pela progressiva degeneração dos neurônios motor superior (NMS) e inferior (NMI), geralmente associada ao envolvimento bulbar e do trato piramidal.Os sinais clínicos da ELA são evidenciados nos membros inferiores, superiores e, posteriormente, nas demais regiões do tórax e pescoço.(LIMA & GOMES, 2010)

 

 

O que vimos depois disso é a história de Stephen e Jane como casal, mesmo que todas as predições lógicas tentassem mostrar que tal história seria impossível na realidade. Eles se casaram em 1965, acreditando que o amor que sentia um pelo outro merecia ser vivido, mesmo que brevemente. E o “breve” imaginado pelos médicos e pela família só teve sentido se pensarmos que talvez todas as histórias humanas na Terra sejam breves, considerando o tempo e o espaço que nos cercam.

Tão difícil quanto explicar as teorias sobre as estrelas que entram em colapso ou a singularidade é entender como as pessoas se conectam, vivem juntas e superam dificuldades quase intransponíveis. O desempenho excepcionalmente crível de Eddie Redmayne transporta-nos através da trajetória de dor, vitórias e perdas (não somente a muscular) vivida por Stephen Hawking. Enquanto isso, vimos em Jane, interpretada no tom certo por Felicity Jones, toda a complexidade que é viver um casamento em que sua entrega e dedicação têm que ser tão intensa.

 

“Então Einstein estava errado quando disse que ‘Deus não joga dados’. Considerando o que os buracos negros sugerem, Deus não só joga dados, Ele às vezes nos confunde jogando-os onde ninguém os pode ver”. (Hawking)

 

No início da década de 1970, Hawking não conseguia mais falar, nem se movia sozinho da cadeira. Seus três filhos, ainda pequenos, mais sua necessidade de cuidados básicos, exigiam de Jane uma dedicação extrema. Talvez fosse mais poético se na história o amor superasse todas as barreiras, mas o amor é interessante justamente porque não nos dá certezas. É mais provável que entendamos através dele nossa própria fragilidade e os artifícios que criamos para nos reinventar a cada dia.

Se na teoria clássica, segundo Hawking, “não há como escapar de um buraco negro” porque as leis são regidas pela teoria da relatividade; na teoria quântica esse cenário é mudado radicalmente, o que tornaria possível, por exemplo, “que energia e informação escapassem”. Não havia como sobreviver, naquela época, com um diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica, ao menos, a medicina até aquele momento não permitia enxergar além da primeira conclusão, ou seja, o diagnóstico fatal. Hawking talvez seja a melhor metáfora para a analogia da informação que escapa do buraco negro. O seu amor pela vida, por Jane e pela ciência contribuíram para sua sobrevivência, foi o movimento necessário para sua fuga da morte.

 

 

Hawking refutou sua própria tese de doutorado, ou melhor, ampliou as premissas mudando o alcance de suas concepções iniciais. Fez isso porque tudo é dinâmico, principalmente, o conhecimento humano. Seu casamento com Jane também sofreu modificações, por um tempo viveram uma relação aberta até se separarem na década de 1990. Mas mesmo sem um “viveram felizes para sempre”, a sensação que fica depois do filme é de termos presenciado uma profunda história de amor. De um amor que, como as teorias da física, não é estático, nem totalmente compreensível, mas essencial para mantermos o mínimo de equilíbrio nessa vida em constante movimento.

A Teoria de Tudo, ou melhor, a explicação do universo através de uma fórmula matemática geral, ainda não foi encontrada por Hawking. O menino de caligrafia terrível que nasceu exatamente no dia dos 300 anos da morte de Galileu e que ocupou a cadeira que antes havia sido ocupada por Isaac Newton em Cambridge, está com 73 anos e continua, como ele mesmo costuma dizer, com uma curiosidade infantil pelo universo. Seus filhos com Jane e sua própria história de vida evidenciam uma de suas principais teorias, que o universo não tem limites (nem a natureza humana).

 

Referência:

LIMA, S. R.; GOMES, K. B. Esclerose lateral amiotrófica e o tratamento com células-tronco. Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2010 nov-dez;8(6):531-7.

 

Mais filmes indicados ao OSCAR 2015: http://ulbra-to.br/encena/categorias/oscar-2015


FICHA TÉCNICA DO FILME

A TEORIA DE TUDO
Título Original: The Theory of Everything
Direção: James Marsh
Roteiro: Anthony McCarten (screenplay), Jane Hawking (book)
Elenco Principal: Eddie Redmayne e Felicity Jones
Ano: 2014
Doutora em Psicologia (PUC/GO). Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Ciência da Computação pela UFSC, especialista em Informática Para Aplicações Empresariais pela ULBRA. Graduada em Processamento de Dados pela Universidade do Tocantins. Bacharel em Psicologia pelo CEULP/ULBRA. Coordenadora e professora dos cursos de Sistemas de Informação e Ciência da Computação do CEULP/ULBRA.