A importância da atenção plena no processo terapêutico e no bem-estar psicológico dos indivíduos.
Como usar o mindfulness na clínica
Esse livro, aborda uma temática que está sendo bastante explorada nos dias de hoje, a atenção plena. É fácil perceber que a quantidade de informações hoje, estão tirando a atenção das pessoas sobre as coisas simples, e que essa distração traz inúmeras consequências desastrosas, como ansiedade, estresse entre outros, esse conjunto de autores trazem uma nova forma de enfrentar esses sintomas. Além disso, esse livro leva o leitor a uma nova visão com relação à clínica, pois ele tira um pouco do olhar para o cliente/paciente e volta o mesmo para o próprio terapeuta.
Ansiedade, depressão e estresse estão sendo bastante discutidos hoje, e muitas vezes as pessoas diagnosticadas, estão a procura de medicamentos a fim de sair dessas demandas. Mas… e se tivesse uma outra saída, uma solução menos invasiva? Uma das propostas deste livro se baseia nisso, em enfrentar a ansiedade e estresse com meditações e atenção momento a momento. “O mindfulness é uma habilidade que nos permite ser menos reativos ao que está acontecendo no momento”. (Pág.3)
Focar em sua respiração, no seu ambiente ao redor, e cada vez que seu pensamento insistir em tirar sua atenção, volte a concentrar se em sua respiração, é uma das técnicas do livro que faz com que o leitor, se concentre no momento presente pois “ o sofrimento parece aumentar à medida que nos distanciamos do momento presente”. (Pág,4). Com isso é preciso segurar esses pensamentos para que eles não vagueiam levando toda a atenção daquele momento.
O livro entre muitas outras coisas relata que a nossa mente fica grande parte do tempo, ou no passado ou no futuro, e quase nada no presente, “ O que a mente está fazendo? A maior parte das vezes ela parece estar fazendo excursões no passado ou no futuro, tentando resolver problemas reais e imaginários”. (Pág.29).
Como já dito, o livro traz formas não muito convencionais de tratar o sofrimento, e uma dessas formas é colocar na mente e desenvolver a perspectiva de que os pensamentos não são estáticos. Assim o mindfulness é um convite para nos permitirmos que os pensamentos, assim como os sentimentos, fluam.
“Nenhum estado mental, por mais agradável que seja, pode ser mantido indefinidamente, nem experiências desagradáveis podem ser evitadas. Entretanto, somos tão condicionados a evitar o desconforto e buscar o prazer que nossas vidas são coloridas por uma sensação de insatisfação, de alguma coisa faltando “(GERMER, p. 21, 2016).
O trecho anterior também desafia a narrativa prevalente de que a felicidade constante é a norma e que o sucesso elimina o sofrimento, ampliando assim a pressão sobre o sofrimento e cultivando um sentimento de culpa naqueles que não conseguem manter uma felicidade ininterrupta.
Uma das ideias discutidas é que “muitos dos nossos sofrimentos decorrem de distorções cognitivas” e que “manter crenças distorcidas centrais contribui para o sofrimento”. Nesse contexto, o terapeuta pode auxiliar o cliente a questionar tais pensamentos, avaliando sua validade. Esse processo revela que “aquilo que antes era considerado ‘realidade’ é, na verdade, uma construção mental, e nossa identificação com essa construção é o que gera o sofrimento
Uma outra proposta do autor é olhar para o psicológico, visando melhorar a sua experiência diante do cliente/paciente, porém essa experiência só poderá melhorar quando o psicólogo olhar para si mesmo, como diz o próprio livro:
“(…) ‘cuidar dos outros requer cuidar de si’(…) Essa informação faz sentido na medida em que não podemos acolher completamente outro indivíduo imperfeito, quando rejeitamos a nós mesmos por imperfeições semelhantes.”
O livro leva a uma visão de alto compaixão, pois isso leva a melhor compreensão de si mesmo e por consequência a compreensão do outro, abrindo as portas para que, o que o paciente trazer seja recebido de braços abertos, mesmo que aquele assunto possa parecer fora dos padrões, ou não muito aceitáveis pela sociedade, pois o cliente está ali apenas a procura de uma escuta sem julgamentos.
A autocompaixão foca na bondade para si mesmo, poder admitir a sua humanidade e que o psicólogo irá inevitavelmente cometer erros e irá ter sofrimentos também, igual a todas as pessoas, “reconhecer a inevitabilidade do sofrimento pode nos conduzir pelo caminho da libertação emocional.”(Pág.110).
O livro se mostra bem completo pois ao mesmo tempo em que ele traz essa visão para o psicólogo, ele também leva a pensar na relação terapêutica entre psicólogo e cliente, que se faz muito importante no processo de melhora do paciente.
O autor dá ênfase a atenção que é preciso ter durante uma sessão visando que aquele paciente está ali pois está um busca de alguém que possa ouvir suas dores, sem julgamentos, “A atenção genuína dos outros é tão surpreendente rara que até vale a pena pagar por ela na psicoterapia” (Pág. 65).
Juntamente a essa escuta qualificada vem também a compaixão pelo outro “A compaixão pelos outros, surge do insight de que ninguém está isento de sofrer e que todo mundo deseja ser livre de sofrimento”(Pág.69). Esse olhar para a compaixão, faz com que fique mais fácil estabelecer uma boa relação terapêutica, e essa é uma das principais bases para um bom atendimento para com o cliente.
Bem o livro como já dito é bem completo, ele traz várias visões sobre a psicologia e a prática do psicólogo, trazendo também técnicas de meditação, e de atuação clínica, é preciso ter paciência pois ele tem mais de 300 páginas, mas é um conteúdo bastante relevante tanto para um acadêmico quanto para psicólogos já atuantes.
REFERÊNCIAS
GERMER, Christopher K.; SIEGEL, Ronald D.; FULTON, Paul R. Mindfulness e Psicoterapia. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.