Ex-policial e duas vezes presidente da Crime Writer’s Association, o escritor Donald Rumbelow é autoridade quando se fala sobre os crimes de Jack, o Estripador, assassino em série que aterrorizou o leste de Londres no fim do século XIX e que nunca teve sua identidade descoberta. Além de dar aulas sobre crime e história na capital inglesa, Rumbelow ainda atuou, nas últimas décadas, como consultor para obras audiovisuais a respeito do criminoso. Em“Jack, o Estripador”, que chega às livrarias pela Record em abril, ele compartilha seu conhecimento sobre o caso com o leitor, num relato bastante completo sobre o serial killer mais famoso da história.
No texto, o autor começa contextualizando a vida na região de Whitechapel, onde aconteceram os crimes. Parte mais marginalizada da cidade durante a Era Vitoriana, o East End londrino abrigava pessoas que moravam de forma precária, muitas vezes nas ruas ou em cortiços, passavam fome e estavam abandonadas pelas autoridades. O livro explora ainda a reação dessa sociedade aos assassinatos, o desgaste da relação com a polícia e os sentimentos de medo e revolta crescentes à medida que o criminoso fazia mais vítimas.
Rumbelow faz uma descrição minuciosa dos assassinatos, com detalhes sobre como as vítimas foram encontradas, por quem, e quais foram as conclusões dos legistas, entre diversas outras informações. Traça ainda perfis das vítimas, todas mulheres que em geral viviam entre a rua e cortiços em Spitalfields e Whitechapel, e eram prostitutas. Traça também, claro, o perfil do criminoso, e analisa alguns casos atribuídos ao Estripador e que não acredita que tenham sido cometidos por ele.
A parte dedicada à lista de suspeitos é uma das mais interessantes. Rumbelow conta sobre as milhares de cartas recebidas pela polícia e pela imprensa na época com as teorias mais mirabolantes e inusitadas para explicar os crimes. Fala também sobre as cartas assinadas por Jack, o Estripador, e quais delas realmente acredita que tenham sido escritas pelo assassino. Além disso, fornece perfis dos principais nomes que chegou-se a cogitar como suspeitos: de açougueiros e ex-presidiários desconhecidos a médicos de renome e boa família. Entre os suspeitos menos prováveis chegaram a figurar nomes como Lewis Carroll, autor de “Alice no País das Maravilhas”, e Randolph Churchill, pai do ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill.
Por fim, o relato analisa as narrativas ficcionais inspiradas por Jack, o Estripador e relaciona sua “obra” à de outros serial killers que surgiram depois. O livro traz ainda um encarte com imagens da época, dos locais onde aconteceram os crimes, de algumas das vítimas e suspeitos envolvidos na trama.
TRECHO:
Após o assassinato de Emma Smith, em abril, as pessoas haviam começado a comentar nas esquinas sobre sua morte, mas nada mais que isto – crimes brutais e mesmo assassinatos não eram incomuns em Whitechapel. Não havia indícios do pânico e do medo que se seguiriam, quando as pessoas começariam a andar em grupos, muitas vezes com terror absoluto estampado no rosto. Mas, quando o pânico se dissipasse, começariam a andar em pares e, finalmente, a brincar sobre os assassinatos com o policial local que patrulhava a Flower and Dean Street, dizendo “Sou a próxima de Jack” ou “É ele ou a ponte”. Os homens com freqüência ameaçavam, particularmente em disputas domésticas: “Será Whitechapel para você”.
Donald Rumbelow é ex-policial, especialista em história criminal e ex-curador do City of London Police’s Crime Museum. Autoridade no assunto Jack, o Estripador, já foi entrevistado por diversos documentários sobre o assunto e ofereceu consultoria para obras ficcionais. Organiza, em Londres, um passeio turístico em que visita os locais dos crimes e conta suas histórias.
FICHA TÉCNICA
Título: Jack, o estripador
Autor: Donald Rumbelow
Editora: Record
Ano: 2018