No livro “Amar ou Depender?”, Walter Riso aborda uma questão fundamental: a diferença entre um amor saudável e a dependência emocional que o sufoca. O livro traça um caminho para superar o apego afetivo, e sua análise encontra um paralelo profundo e elucidativo nos conceitos da psicologia analítica de Carl Jung.
Riso define o apego não como amor, mas como uma dependência emocional em que o medo e a insegurança tomam o lugar do afeto genuíno. Sob uma ótica junguiana, essa dinâmica é interpretada como a projeção da Sombra – aspectos não integrados da personalidade, como vulnerabilidade, medo do abandono e baixa autoestima, que são atribuídos ao parceiro. A dependência surge quando não confrontamos essa “Sombra emocional”, permitindo que feridas infantis (traumas de abandono, rejeição) reforcem padrões de apego e impeçam o processo de individuação.
O autor discute como nos apegamos a aspectos do parceiro que preenchem nossas carências internas (segurança, admiração, prazer). Junguianamente, isso reflete a busca pela Anima (aspecto feminino inconsciente no homem) ou pelo Animus (aspecto masculino inconsciente na mulher). Idealizamos o parceiro como portador de qualidades que nós mesmos não desenvolvemos. A dependência, portanto, impede a integração desses aspectos internamente, mantendo-nos presos a projeções e impossibilitados de alcançar a totalidade psíquica.
Para vencer o apego, Riso propõe princípios que são, em essência, etapas do processo de individuação: Autonomia (desenvolver a autossuficiência e a “solidão criativa”, fortalecendo o Ego para suportar a solidão sem desespero); Sentido de Vida (buscar a autorrealização e a transcendência, conectando-se com o Self (o centro organizador da psique) para encontrar significado além do ego e do relacionamento); Exploração e Realismo Afetivo (confrontar o inconsciente e aceitar a Sombra, o que se traduz em ver o relacionamento e a si mesmo com clareza, sem ilusões ou projeções).
São identificados padrões relacionais que correspondem a arquétipos atuantes no inconsciente, como o apego à segurança (arquétipo da Mãe), medo do abandono (arquétipo da Criança Ferida), busca por admiração (arquétipo do Herói). Reconhecer esses arquétipos é crucial para identificar projeções inconscientes e trabalhar seus conteúdos de forma consciente. O livro também alerta para a autopunição e a humilhação que acompanham o apego, vistas como a Sombra internalizada agindo contra o próprio indivíduo, perpetuando ciclos de sofrimento. A integração da Sombra é apontada como o caminho essencial para romper com a autocrítica excessiva e a aceitação de maus-tratos.
O autor defende um amor baseado em reciprocidade, respeito e liberdade. Na perspectiva junguiana, isso só é possível quando dois indivíduos individuados se encontram. Cada um traz seu Self (e não suas projeções ou carências) para a relação. Dessa forma, o amor deixa de ser uma relação de dependência para se tornar uma relação de complementaridade consciente.
“Amar ou Depender?” é, sob esta ótica, um convite profundo à Individuação (tornar-se completo por si mesmo), integração da Sombra (aceitar medos e vulnerabilidades como partes de si), assim como a conexão com o self: amar a partir da plenitude interna, não da carência.
A mensagem final é clara e transformadora: amar não é sobre encontrar alguém que nos complete, mas sobre encontrar a completude em nós mesmos e então compartilhá-la com um outro que também esteja completo.
Ficha Técnica do Livro
Título Original: ¿Amar o depender? Cómo superar el apego afectivo y hacer del amor una experiencia plena y saludable
Título em Português: Amar ou depender? : como superar o apego afetivo e fazer do amor uma experiência plena e saudável
Autor: Walter Riso
Tradução: Sandra Martha Dolinsky
Editora: Planeta do Brasil
Ano de Publicação (edição em português): 2021
Formato: ePUB
ISBN (e-book): 978-65-5535-561-1