O personagem que nos é apresentado na série, mostra uma visão totalmente nova e diferente do Príncipe do Inferno.
Lucifer é uma série original Netflix que foi lançada em 2016 e atualmente conta com 4 temporadas, tendo a última sido lançada no dia 8 de maio deste ano. A série conta a história do anjo caído Lucifer Morningstar, que após ter sido expulso da Cidade de Prata pelo seu pai (Deus), passa a ser o responsável pelo inferno e se torna o Príncipe desse.
Entretanto, a vida de Diabo no inferno se tornou entediante para ele, o que faz com que o Senhor Morningstar decida tirar férias do seu ofício se mudando para a cidade dos cassinos (Las Vegas). E seria nesse canto da Terra que tudo mudaria!
O personagem Lucifer
Lucifer é o Diabo, com isso o discurso comum que se direciona a ele é de uma pessoa malvada, que se diverte com a ruína das pessoas, que sente prazer em praticar atos como roubos, assassinatos, mentiras e trapaças. No entanto, o personagem que nos é apresentado na série, mostra uma visão totalmente nova e diferente do Príncipe do Inferno.
Lucifer não suporta mentiras e trapaças, e se mostra extremamente irritado quando as pessoas dizem “Isso é culpa do Diabo”, uma vez que em vários momentos da série são os humanos que o procuram para obter ajuda na realização de crimes e afins.
Outra face bastante acentuada pela produção do seriado é a relação “Deus e Diabo”, possibilitando ao telespectador a oportunidade de inverter a visão de bom moço e vilão. Essa inversão pode ser percebida quando o protagonista demonstra o quanto desde sempre, seu pai foi quem decidiu seu destino, não respeitando suas vontades e escolhas, e punindo-o quando mesmo diante da sua desaprovação, Lucifer fazia as coisas que queria.
Em uma fala bastante profunda Morningstar diz : “Não importa se você é um pecador! Não importa se você é um santo! Ninguém pode vencer, então qual é o objetivo?”, nessa cena ele se mostra extremamente cansado de ter que viver de acordo com o que seu pai deseja, se sentindo frustrado por nunca conseguir atingir as expectativas de Deus.
Além disso, Luci já descreveu as exigências de seu pai como autoritárias e invasivas, se questionando até quando tais interferências vão acontecer. Baumrind (1996) apud Weber et al (2004, p.324) define esse tipo de pai como autoritários, estes (…) modelam, controlam e avaliam o comportamento da criança de acordo com regras de conduta estabelecidas e normalmente absolutas; estimam a obediência como uma virtude e são a favor de medidas punitivas para lidar com aspectos da criança que entram em conflito com o que eles pensam ser certo.
Do mesmo modo, o Diabo ainda tem que lidar com a comparação que é feita por Deus, entre ele e seu irmão Amenadiel. O último é tido como o filho perfeito que é querido e adorado pelo pai, sendo descrito como o exemplo que precisa ser seguido por Lucifer. Essa atitude faz com que Luci sinta-se em constante posição de desprezo e rejeição, o que acaba por piorar a imagem que tem de si mesmo.
Canavarro e Pereira (2007, p. 206) concluíram que “a dimensão rejeição é descrita como os comportamentos dos pais que visam modificar a vontade dos filhos e que são sentidos por estes como uma rejeição de si próprio enquanto indivíduo.” Essa não aceitação por parte do pai move todo o cerne de Lucifer, uma vez que tal conteúdo sempre acaba por surgir nas sessões de terapia com Dr. Linda (Rachel Harris).
Chloe: a detetive escolhida
Chloe Decker é a escolhida pelo coração de Lucifer, se tornando a razão suprema para que ele permaneça em L.A e não queira voltar para o inferno. É interessante e muito bonito perceber, o quanto a relação estabelecida entre os dois faz com que Luci consiga ressignificar vários de seus dilemas existenciais.
Morningstar nunca teve dificuldade nenhuma com mulheres, de boa aparência, um charme encantador, muito educado e persuasivo, somado a sua capacidade de saber o desejo de cada mulher, consegue se relacionar com todas que desejar. Entretanto, com Decker, essas características não possuem efeito instantâneo e arrasador como de costume, o que lhe deixa muito intrigado.
Chloe passa a ser a primeira pessoa com quem Lucifer se preocupa em todos os momentos durante as investigações dos casos com a polícia. Além disso, ao seu lado ele se sente vulnerável, pois é só quando ela está presente que ele deixa de ser imortal e passa a ser mortal. No entanto, essa vulnerabilidade lhe faz valorizar ainda mais as atitudes que ele toma em relação a ela, assim como a forma de tratá-la, buscando sempre não magoá-la.
Entretanto, essa busca por não magoá-la não significa que ele sempre tenha sucesso nesse objetivo, já que as ações escolhidas por Lucifer as vezes se mostram pouco habilidosas. Isso acontece porque suas decisões muitas vezes estão carregadas de um narcisismo extremo, visto que ele costuma pensar que todos os acontecimentos sempre tem como centro a sua própria figura (FERRARI et al, 2006).
Apesar dos encantos de Lucifer não funcionarem instantaneamente em Chloe não quer dizer que eles não funcionem. Chloe se apaixona por Luci pela sua forma, de ser, pelo companheirismo, pela proteção e pela preocupação e cuidado que ele tem para com ela. Tipos de encantos que só podem ser construídos no fazer diário de uma relação, onde o amor se constrói como uma prática diária e persistente, caracterizada pelo conhecimento, respeito e responsabilidade pelo outro (FROMM, 1966 apud HERNANDEZ, 2003).
A relação de Decker e Morningstar foi construída sem ela soubesse da verdadeira identidade dele, e ao final da terceira temporada ela a descobriu, ao visualizar a face do Diabo. Agora com o lançamento da quarta temporada, o telespectador espera descobrir como Chloe reagirá a essa nova variável, que pode ser um divisor de águas na interação entre eles.
REFERÊNCIAS:
CANAVARRO, Maria Cristina; PEREIRA, Ana Isabel. A percepção dos filhos sobre os estilos educativos parentais: A versão portuguesa do EMBU-C. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación – e Avaliação Psicológica, Portugal, v. 2, n. 24, p.193-210, jan. 2007. Disponível em: <http://www.redalyc.org/pdf/4596/459645447010.pdf>. Acesso em: 10 maio 2019.
FERRARI, Andrea Gabriela; PICININI, Cesar Augusto; LOPES, Rita Sobreira. O narcisismo no contexto da maternidade: Algumas evidências empíricas. Psico, Rio Grande do Sul, v. 37, n. 3, p.271-278, dez. 2006. Disponível em: <file:///C:/Users/117611510/Downloads/Dialnet-ONarcisismoNoContextoDaMaternidade-5161560.pdf>. Acesso em: 10 maio 2019.
HERNANDEZ, José Augusto Evangelho. Os Componentes do Amor e a Satisfação. Psicologia CiÊncia e ProfissÃo, Canoas, v. 21, n. 3, p.58-69, nov. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n1/v23n1a09.pdf>. Acesso em: 10 maio 2019.
WEBER, Lidia Natalia Dobrianskyj et al. Identificação de Estilos Parentais: O Ponto de Vista dos Pais e dos Filhos. Psicologia: Reflexão e Crítica, Paraná, v. 17, n. 3, p.323-331, out. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prc/v17n3/a05v17n3>. Acesso em: 10 maio 2019.