Mary e Max: Uma Amizade Diferente é uma animação longa-metragem stop-motion (técnica na qual o animador trabalha fotografando objetos) australiana, lançada em 2009, com roteiro e direção de Adam Elliot. O tema principal é o nascimento de uma amizade repleta de altos e baixos, que sobrevive através de cartas numa época em que a tecnologia não era, ainda, o caminho mais viável para a construção de laços afetivos entre pessoas distantes –fisicamente-, entre uma menina de 8 anos e um homem de 44 anos, ambos com problemas de relacionamento interpessoal e diversos fatores que contribuem para o isolamento social. O visual do filme, assim como a história, é coberto por um tom depressivo e frio, poucas cores e raros momentos de felicidade.
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O inicio: O filme começa mostrando a vida de Mary Dinkle, uma menina de 8 anos, que faz parte de uma família constituída por diversos problemas psicológicos e que faz, por consequência, com que a criança tenha uma criação nada saudável. A mãe viciada em drogas, alcoólatra e depressiva, o pai também depressivo, raramente dão atenção à filha, o que influencia os comportamentos isolados da criança. Segundo Del Prette e Del Prette (1999) a infância é um período decisivo para o aprendizado das habilidades sociais, sendo assim, no contexto familiar, o envolvimento, a participação e o acolhimento dos pais é fundamental para o estabelecimento de relações educativas que contribuem para o relacionamento social dos filhos, podendo ser chamadas também de práticas educativas parentais.
As práticas educativas parentais podem ser entendidas como conjuntos de comportamentos singulares emitidos pelos pais no processo de educação ou socialização dos filhos que levam a um resultado comum, resultado este que seria um objetivo ou meta dos pais com a socialização (Teixeira; Oliveira; Wottrich apud Darling & Steinberg, 1993)
Mary não tem amigos e não encontra maneiras de fazer amizades, a não ser o laço que cria com o galo de estimação. É possível então perceber o isolamento social, ansiedade e depressão, resultados de contingências aversivas tais como; bullying, convivência com os pais problemáticos que não auxiliam no desenvolvimento da criança e a baixa autoestima.
Em um dia qualquer, Mary, como toda criança “desbravadora”, folheia uma lista telefônica e escolhe aleatoriamente um nome, rasga a folha com as informações e então passa a escrever para a pessoa que seu dedo apontou, com um único pedido: Quer ser meu amigo?
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A carta chega, então, ao seu destino, a América do Norte, Max a recebe surpreso. As características de Max não diferem muito das de Mary; um homem de 44 anos, com dificuldade de relação social, isolado, solitário e obeso (além da paixão por chocolates e por bonequinhos; personagens de um desenho), a única diferença é que, após o convívio com as cartas enviadas por Mary, Max toma conhecimento que é portador da Síndrome de Asperger
A Síndrome de Asperger é uma perturbação neurocomportamental de base genética, pode ser definida como uma perturbação do desenvolvimento que se manifesta por alterações sobretudo na interação social na comunicação e no comportamento (APSA, s/p, s/d).
Ele apresentava sintomas que são característicos do autismo, os quais prejudicavam seu convívio com outras pessoas, no entanto, sua comunicação e intelectualidade não foram afetadas pela síndrome.
Manifestava comportamentos estereotipados e repetitivos, descrito pelo próprio personagem em uma de suas cartas; todas as coisas deveriam ser milimétricamente arrumadas e tudo deveria possuir uma lógica. Max também não sabia expressar seus sentimentos, não entendia de expressões faciais, o que dificultava ainda mais seu relacionamento com outras pessoas, tornando-o cada vez mais isolado.
A amizade de Mary e Max é repleta de surpresas, pois, por ser muito curiosa, Mary não se limita a fazer perguntas para Max, suas perguntas vez ou outra o deixam em crises de ansiedade, o que faz com que ele tome mais remédios controlados e fique um tempo sem ler as cartas da menina. Com o tempo, Max aprende a como controlar suas emoções a cada carta lida, e a amizade segue seu percurso normalmente.
Max também traz algumas informações sobre suas idas ao psiquiatra, que o ajuda a compreender alguns fatos importantes para seu convívio com Mary, apesar da distância. Max aprende o valor de uma amizade e como pode viver com sua doença. Em uma de suas escritas à Mary, ele deixa claramente explicito que não quer ser curado, apesar do seu médico dizer que futuramente poderá ter uma cura para sua doença, ele se sente feliz sendo asper e não precisa que as pessoas mudem isso e que ele estava disposto a se apresentar para o mundo com todas as suas “verrugas” (termo que o psiquiatra usa para descrever: problemas, defeitos).
Mary, no entanto, não se satisfaz com os problemas naturais da vida, cresce idealizando um mundo sadio. Ao atingir a idade adulta, Mary faz uma tese usando como fonte o caso de Max, que o deixa extremamente furioso e magoado. É uma cena rica em detalhes e podemos perceber o quanto descontrolado e confuso Max se sentia ao ler os escritos da amiga. Em uma tentativa, sem sucesso, de escrever uma carta relatando seus sentimentos aversivos à tese, ele simplesmente não consegue. É possível compreender o quão invadido foi seu mundo, tão controlado e restrito, e o quanto isso o deixou chateado. E Mary também pôde sentir isso, e mais uma vez, a vida dos dois amigos distantes, porém próximos, toma caminhos diferentes.
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Quando finalmente Max compreende os acontecimentos, ele decide reconstruir o laço. Mary entra em um novo episódio depressivo e se vê transformada no que sua mãe era, o que a deixa ainda mais triste e solitária. Quando Mary recebe a última carta de Max, podemos, juntos com ela, entender toda sua dor e mágoa, e o porquê ele não sentiu-se feliz com a tese escrita por sua amiga.
“- Você não é perfeita, você é imperfeita. Eu não sou perfeito. Os seres humanos não são perfeitos. Você não pode curar todas as rugas do mundo.”
O que difere Mary de Max são as idealizações, e por isso muitos conflitos existiram nessa amizade. No entanto, apesar das idas e vindas, a amizade era sempre renovada, e criava mais força, isso devido ao amadurecimento de cada um. Com o passar do tempo, o repertório de habilidades sociais de ambos vai se aprimorando, embora ainda seja algo ligado somente aos dois.
O que podemos levar, como objeto de estudo e/ou reflexão, é como condições ambientais podem contribuir, positiva ou negativamente, na aprendizagem de comportamentos sociais e como os pais são espelho na vida de seus filhos. O filme também, no seu lado poético, mostra a beleza de uma amizade verdadeira que modifica a vida de duas pessoas doentes e que podem então entender, finalmente, o valor de um relacionamento interpessoal.
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O desfecho do filme causa uma série de sentimentos, alguns semelhantes ao que podemos sentir ao longo da trama, mas ainda assim, é surpreendente e lota os olhos de emoção.
FICHA TÉCNICA DO FILME
MARY E MAX: UMA AMIZADE DIFERENTE
Diretor: Adam Elliot
Elenco: Vozes na versão original de Toni Collette, Philip Seymour Hoffman, Eric Bana, Barry Humphries.
Produção: Mark Gooder, Paul Hardart, Tom Hardart, Bryce Menzies, Jonathan Page
Roteiro: Adam Elliot
Trilha Sonora: Dale Cornelius
Duração: 92 min.
Ano: 2009
Referências
APSA, Síndrome de Asperger. s/d. Disponível em: http://www.apsa.org.pt/sa.php. Acesso em 15 de Mar. de 2013.
DEL PRETTE, Z. A. P. & amp; DEL PRETTE, A. (1999). Psicologia das Habilidades Sociais:terapia e educação. Petrópolis: Vozes.
TEIXEIRA, M. A. P.; OLIVEIRA, A. M.; WOTTRICH, S. H. Escalas de Práticas Parentais (EPP): avaliando dimensões de práticas parentais em relação a adolescentes. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 19, n. 3, 2006 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-9722006000300012&lng=en&nrm=iso>. access on 15 Mar. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000300012.