O filme conta a estória de dois astrônomos que descobrem um cometa mortal vindo em direção à terra e partem em um tour midiático e intensivo para alertar a todos do eminente acontecimento, porém quase ninguém de fato se preocupa. A notícia é dada à Presidente do país, atriz Meryl Streep que interpreta o papel da presidente dos EUA, que desconsiderou a gravidade da situação apocalíptica que se aproximava. Por outro lado o Astrônomo Dr. Mind e a Doutoranda Kate Dibiasky tentam desesperadamente alertar autoridades e a população sobre o choque do asteroide e a destruição do planeta. Os cientistas foram na televisão a fim de falarem à população sobre o asteroide descoberto no espaço de em média 9 km de largura, no que culminaria em uma grande catástrofe, situação em que foram pormenorizados e não tiveram atenção necessária, ficando muito desconfortáveis com o descaso e com as brincadeiras nada apropriadas que os repórteres fizeram no ar.
O enredo segue com a Presidente dos EUA não levando em conta a catástrofe que estava por vir e tentando descontruir a notícia criando uma comoção social contra os astrônomos. A saga dos cientistas no filme continua por tentar mostrar a todos que em pouco tempo a humanidade será extinta em decorrência deste cometa que está a caminho da terra. Infelizmente sem sucesso. Enquanto isso a Presidente busca seus próprios interesses políticos, fazendo campanha e jogos políticos, onde mente, esconde e até tenta fazer com que a população acredite que tudo é uma grande mentira dos cientistas, chegando ao ponto dos mesmos serem ridicularizados em memes e outras situações bem correlatas.
(A partir daqui contém spoilers)
O desfecho ocorre quando finalmente o cometa se aproxima da terra e o Dr.Mind enxerga-o. Situação em que ele para o trânsito, aponta para cima e grita para todos ouvir: “Olhe para cima, olhe para cima…” Mesmo depois de a realidade estar visível aos olhos da humanidade, a presidente inicia uma campanha de negação do óbvio com o grito de guerra: “Não olhe para cima, não olhe para cima”. Exatamente aqui que destaco o nome do filme que já faz alusão à situação contrária ao teor do roteiro, revelando assim o propósito da crítica satírica do enredo cinematográfico.
O elenco de peso encena no filme e traz um assunto muito atual: O negacionismo da ciência! A Presidente e seus assessores de estado trazem em suas posturas a negação da ciência e a tentativa de promoção politica em cima de toda a história. A presidente se revelou ser tão maquiavélica e narcísica que enquanto a terra se aproximava da destruição, ela fez política e autopromoção através de showmícios. Comportamento compatível com traços narcísicos Freudianos. (FREUD, 2011 apud Rubini), no texto “A Psicologia das massas e a análise do eu”, Freud discorre que as antipatias e aversões não disfarçadas em relação a estranhos que estão próximos de nós, aquilo que é diferente no outro e me incomoda, são a expressão de um narcisismo que se sente ameaçado como se a diferença o criticasse. Esse suposto narcisismo é tão rígido e conservador que qualquer desvio trazido pelo outro é visto como uma afronta; é como se dissesse do inconsciente “tudo que é diferente de mim me ameaça”. Para Jung seria uma espécie de autoamor onanístico, a expressão comportamental da atriz.
Analisando a sociedade no filme em uma analogia com a modernidade líquida, onde autor Bauman (2001), discorre sobre como as pessoas na pós modernidade que jamais buscam o aprofundamento nos fatos e coisas, apenas tentam lidar com os sintomas de forma bem superficial. De acordo com Bauman (2001). A classificação “líquida” é atribuída em função das seguintes marcas da modernidade: volatilidades, incertezas, inseguranças, liberdade, felicidade e consumismo. Nesta perspectiva, entendemos que a liquidez além do frágil, refere-se à dificuldade em firmar laços profundos e a dificuldade de se identificar.
Tal teoria se aplica ao enredo do filme onde as pessoas brincam, comem, bebem e vivem normalmente como se não houvesse uma eminente e grave ameaça à vida e além do mais negam os fatos científicos! Retrato contemporâneo, onde a liquidez dos relacionamentos políticos é cínico, mentirosos, nada honestos e muito corruptos. Ali no filme, a Presidente esbanja interesse é “em se dar bem”. Se mostrando tão alheia à situação que não deu atenção para à descoberta do cometa asteroide, a ponto de até desconstruir o fato chegando a incitar a população em campanha para literalmente não olhar para cima, só para não enxergarem o óbvio! Situação bem parecida com líderes políticos atuais que por acreditarem em métodos não cientificamente ainda comprovados, desconstroem toda uma narrativa da ciência.
Filme: Não olhe para cima.
Ano de lançamento: 2021
Direção: Adam Mc Kay
Roteiro: Adam Mc Kay e David Sirota
Gênero: Questões sociais, ficção científica, drama e comédia.
Elenco: Leonardo Di Caprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett, Rob Morgan, Jonah Hill, Mark Rylance, Tyler Perry, Timonthée Chalamet, Ariana Grande, Scott Mescudi, Michael Chiklis, Melanie Lynskey, Himesh Patel, Tomer Siskey, Paul Guifoyle, Robert Joy.
Classificação Etária: Maiores de 16 anos
Indicações ao Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Sonora e Melhor Edição.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
JUNG, C. G. Símbolos de transformação. Petrópolis, SP: Vozes, 1989. (Obras completas volume 5).
Psicologia das massas e análise do eu. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. (Obras completas volume 15).apud Rubini: Feridas psíquicas, Jung e o Narcisismo, artigo publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, 1º sem. 2020 pg. 45