O livro O Comportamento Verbal (Editora Cultrix com a colaboração da Editora da Universidade de São Paulo, 1978, 557 p.) de B. F. Skinner é um dos livros mais complexos e valiosos do autor, sendo considerado pelo próprio o mais importante de sua carreira; nesta obra, é apresentada uma análise funcional de um dos comportamentos mais fascinantes do homem: o comportamento verbal.
A obra descreve pormenorizadamente o que é comportamento verbal, quais são os tipos de comportamento verbal, como esse comportamento se forma e se mantém no repertório comportamental de um homem, bem como suas formas de controle e como ele opera no meio, em diversas áreas, como no modo do homem se portar diante de outros homens como também na literatura etc.; a obra é dividida em cinco partes, distribuídas em 19 capítulos, dois epílogos pessoais do autor e um apêndice.
Skinner começa O Comportamento Verbal falando que é possível ser feita uma análise funcional do comportamento verbal, pois este é considerado um comportamento operante como qualquer outro, com a única diferença de ter a necessidade de ter uma mediação social, ou seja, é necessária a presença de um ouvinte para que o comportamento verbal seja produzido pelo falante. Todavia, este ouvinte é tanto um ouvinte literalmente como um leitor ou espectador e por falante também há referência àquele que fala e àquele que escreve. Deste modo, o autor ainda questiona certas concepções feitas pelos linguistas ou teóricos da linguagem que são tradicionalistas e ainda define alguns tipos de operantes verbais que servem como um modo de classificação e como unidades de análise do comportamento verbal. São eles: o mando, o comportamento ecoico, o comportamento textual, o comportamento intraverbal e o tato, sendo eles explanados pormenorizadamente pelo autor, cada um com sua definição, características e tipos.
É óbvio que o ouvinte tem um papel muito importante no comportamento verbal, sendo ele uma das variáveis ambientais que causam, mantém e controlam esse tipo de comportamento. Partindo disso, Skinner define vários papéis do ouvinte enquanto ouvinte, enquanto leitor, enquanto espectador e também define os conceitos de auditório, que também serve como uma unidade de análise do comportamento verbal como os outros operantes verbais citados posteriormente.
Skinner dá uma importância muito grande no que ele chama de causação múltipla do comportamento verbal, enfatizando ainda mais que o comportamento verbal, assim como qualquer outro comportamento operante, possui causações ambientais e não internas, isto é, causações que partam de alguma possível entidade mental do homem. Portanto, o autor também fala de estimulações suplementares para o comportamento verbal, sempre dando a atenção devida à mediação social feita pelo ouvinte para o falante.
Outros pontos que devem ser destacados é a definição que o autor faz do comportamento autoclítico, que é um comportamento verbal que depende de ou se fundamenta em outro comportamento verbal e que prepara o ouvinte para o que o falante vai dizer após a emissão de um autoclítico. Assim como os outros operantes verbais, Skinner trata de sua definição, características e tipos, servindo também como uma unidade de análise do comportamento verbal do homem. Além disso, há também as alusões que o autor faz referindo-se à punição e à extinção do comportamento verbal, à correção e autocorreção do comportamento verbal etc.
Por fim, é interessante salientar que Skinner não se preocupa somente em explicar o comportamento verbal enquanto um falante interagindo “diretamente” com um ouvinte, mas também faz alusões do comportamento verbal na literatura e do comportamento verbal lógico e científico; nos últimos momentos do livro, sendo os dois epílogos pessoais e o apêndice, o autor faz alusões do seu próprio comportamento verbal no livro, apresenta motivos pelos quais dá a devida importância a esse conspícuo comportamento e fala um pouco mais sobre a comunidade verbal que cerca o falante que emite o comportamento verbal.
Como foi dito anteriormente, o próprio Skinner considera essa obra a mais importante de sua carreira. E isso não é de se espantar. Ele foi um dos poucos autores que promoveu uma análise tão bem feita do comportamento verbal do homem, um dos comportamentos mais importantes de serem compreendidos, por razões óbvias. O livro possui uma linguagem técnica, o que requer uma atenção especial por parte do leitor, por ser uma linguagem um tanto quanto densa. Todavia, este livro em particular, não deve ser lido às pressas ou de forma “crua”, diga-se de passagem. Como o próprio Skinner recomenda, deve ser feita a leitura prévia do livro Ciência e Comportamento Humano (do mesmo autor) para melhor compreensão do O Comportamento Verbal.
Esta obra é recomendada para estudantes de Psicologia a partir do 3º ano de graduação ou que, pelo menos, já possuam um bom conhecimento da teoria behaviorista de Skinner e para psicólogos behavioristas/ analistas do comportamento. Também é interessante para estudantes de letras e para linguistas que porventura se interessem por uma análise do comportamento verbal de um ponto de vista diferente do tradicional, sendo não mentalista, com ênfase no ambiente em que o sujeito está inserido.
B. F. Skinner foi um psicólogo americano, nascido em 1904, que, influenciado por outros autores como Ivan P. Pavlov, Edward L. Thorndike e John B. Watson, deu início a uma nova visão de homem para a Psicologia: a visão do Behaviorismo Radical. Entre suas principais obras, além desta resenhada, encontram-se Ciência e Comportamento Humano (Ed. Martins Fontes), Sobre o Behaviorismo (Ed. Cultrix) e O Mito da Liberdade (Summus Editorial). Além de obras técnicas, o autor também escreveu uma novela baseada nos princípios da ciência comportamental, o Walden II: uma sociedade do futuro (Editora Pedagógica e Universitária). Skinner manteve-se academicamente ativo até a sua morte, ocorrida em 18 de agosto de 1990, decorrente de leucemia.