Théodule-Armand Ribot

O texto que segue é o terceiro da série “Personagens da Psicologia Moderna”. O primeiro retratou um pouco da vida e das contribuições à Psicologia de Edwin Boring (1886 – 1968), considerado um dos primeiros historiadores de e da Psicologia, com a sua importante contribuição chamada “História da Psicologia Experimental”, de 1929. O segundo retratou sobre o multifuncional (médico, físico, psicólogo e alpinista) Hermann Helmholtz (1821 – 1894), estudioso dos impulsos nervosos.

Esse texto expõe fatos e peculiaridade do psicólogo francês chamado Théodule-Armand Ribot, nascido em 8 de dezembro de 1839 e falecido em 9 de dezembro de 1916. O interesse por Ribot nasceu da leitura do texto “Psicopatologia, exotismo e diversidade: ensaio de antropologia da Psicopatologia”, do psicólogo Adriano Holanda, atualmente professor na Universidade Federal do Paraná e estudioso da “Fenomenologia, Fenomenologia Husserliana, Psicoterapia, Abordagens Fenomenológicas e Existenciais, Psicologia da Religião, História da Psicologia e Pesquisa Fenomenológica” (texto fornecido pelo autor na página do currículo lattes).

disponível em : http://carlossalvarado.edublogs.org/2012/07/11/studying-the-life-and-work-of-frederic-w-h-myers/

 

Em seu artigo, Adriano afirma que, em meio às divergências quanto ao nascimento dos estudos de Psicopatologia, há autores que designam Théodule Ribot como fundador da Psicopatologia. Juntamente com Ribot, dividem a medalha de fundadores da Psicopatologia, dentre outros, os médicos:

– Jean-Étienne Esquirol = com a publicação do Traité des Maladies Mentales, de 1838;

http://en.wikipedia.org/wiki/Jean-%C3%89tienne_Dominique_Esquirol

 

 

– Wilhelm Griesinger = com a publicação do livro Patologia e Terapêutica das Enfermidades Psíquicas, em 1845.

http://neurologie.med-network.de/geschichte/griesinger.html

 

Parece que quase todas as tentativas de se datar e especificar os iniciadores dos saberes geram polêmicas e confusões. De qualquer maneira, Ribot teve um papel importante para o desenvolvimento da Psicopatologia. Influenciou o psicólogo Georges Dumas a inaugurar a primeira cátedra de Psicopatologia em 1905. (Holanda, 2001).

O sociólogo francês Laurent Mucchielli relata que a abertura do curso de Psicologia por Ribot, em 1885, na Univesidade de Sorbonne, juntamente com o de Ciência Social, criado por Émile Durkheim, em 1887, foi de grande importância para o desenvolvimento das ciências humanas, na França e na Europa. Contreras (2010) afirma que Ribot é considerado por diversos autores franceses como a figura mais importante da Psicologia daquele país, concentrando em suas ações a independência da psicologia com relação à metafísica, desenvolvendo não só o curso criado em 1885 como também um laboratório de psicologia experimental e a Revue philosophique.

Wilson Frezzatti Junior (2012), professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, discorre com detalhes sobre a importância da Revue Philosophique fundada e desenvolvida por Ribot. Ele afirma que a revista foi fundada em 1876 e que congregava adeptos e críticos da psicologia experimental, antimetafísica. Semestralmente, publicava artigos acerca de experimentos em psicologia e revisões de outros periódicos. Frezzatti Junior afirma ainda que esse periódico promoveu um aprofundamento sobre a obra do filósofo Friedrich Nietzsche. Nas palavras dele:

Os textos que tratam diretamente do pensamento de Nietzsche aparecem entre os volumes 34 (1892) e 123 (1937), sendo um total de cinqüenta e um, incluindo o necrológio (1900) e um pequeno texto de 1863 do próprio filósofo alemão, traduzido por Geneviève Bianquis (1937). Há apenas seis artigos, e o restante é composto por resenhas ou notas bibliográficas. Entretanto, é justamente nesses últimos que ocorre o debate propriamente francês sobre a filosofia nietzschiana. (Frezzatti Junior, 2012).

A contribuição de Ribot à psicologia, em especial pela revista que fundou e coordenou, talvez tenha repercussão até hoje, não somente na França como também no Brasil. A filosofia francesa influencia, cada vez mais, a prática da psicologia brasileira (especialmente aos atuantes na Reforma Psiquiátrica e os humanistas em suas várias escolas). Tal influência se dá em especial por autores como Foucault, Deleuze e Guattari, todos eles professores no Collège de France, local no qual Ribot, em 1888, iniciou a cátedra de Psicologia experimental e comparada, evento considerado por Frezzatti Junior como indicativo de sucesso do periódico do próprio Ribot. Se pensarmos que Foucault, Deleuze e Guatarri fundamentam suas discussões na filosofia de Nietsche e que a filosofia de Nietzsche foi degustada e ruminada pelos esforços de Ribot, podemos afirmar que, mesmo que indiretamente, os esforços de Ribot reverberam atualmente na psicologia brasileira.

Contreras (2010), buscando referências na década de 20, que analisavam o periódico de Ribot, mostra críticas a favor da revista, situando-a como a mais prestigiada da Europa. Ribot organizou, juntamente com Charcot, em 1889, o Primeiro Congresso Internacional de Psicologia e, em 1900, o IV Congresso Internacional de Psicologia. Os congressos internacionais de psicologia passaram a ser organizados pela União Internacional de Psicologia Científica, em 1951 que completou a versão XXX do Congresso, em 2012, em Cape Town, na África do Sul. O próximo Congresso Internacional será em 2016, em Yokohama, no Japão. (informações disponíveis no sítio da própria União –http://www.iupsys.net/index.php/about/history).

Contreras, estudando a produção textual de Ribot, diz que o psicólogo francês estudava as enfermidades da personalidade, da vontade, da memória e da atenção. Encarava o reflexo como o princípio da tendência que a consciência tem de se expressar em movimento, em ato. Buscava na fisiologia, como muitos de sua época, a crítica à metafísica que, para Ribot, desvirtuava a psicologia do rumo que deveria tomar para desenvolver-se. Analisa com detalhes a relação do francês com Nietzsche, revelando a carta que o alemão enviou a Paul Rée (o outro filósofo alemão do triângulo amoroso com Lou Salomé e Nietzsche). Na carta, Nietzsche elogia Ribot e sua revista.

 


Lou Andreas-Salomé, Paul Rée e Friedrich Nietzsche (1882) – disponível emhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_R%C3%A9e

 

Gisele Toassa, em sua tese chamada “Emoções e vivências em Vigotski: investigação para uma perspectiva histórico-cultural” reconhece a influência de Ribot na construção teórica de Vigotski (http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-19032009-100357/pt-br.php).

Ana Maria Jacó Vilela, juntamente com Arthur Arruda Leal Ferreira e Francisco Teixeira Portugal, no livro que organizaram chamado “História da Psicologia: rumos e percursos” referem-se a Ribot, no capítulo 8, como o psicólogo francês que questionou a metafísica e desenvolveu uma nova psicologia baseada na escola associacionista  de John Stuart Mill e Francis Galton e na escola alemã. Mostram que Ribot foi professor de Pierre Janet e de Alfred Binet, o criador do primeiro teste de inteligência na Psicologia.

As obras de Ribot são acessíveis através da Associação Americana de Psicologia e da União Internacional de Psicologia Científica. Os trabalhos de Gisele Toassa, Frezzatti Júnior e Welyton Paraíba da Silva Sousa e Maria Aurelina Machado de Oliveira são os que encontrei nas páginas brasileiras além do ótimo trabalho do espanhol Contreras. Creio que seja um autor importante para traduzirmos e estudarmos mais. Quiçá um projeto de pesquisa na Ulbra pode se aproximar de Theódule Ribot.

 

Referências:

CONTRERAS, Gonzalo Salas. Ribot, Janet y Binet: Pioneros de la Psicología Francesa Contemporánea, In: Eureke – revista de Investigação científica em Psicologia, Asunción (Paraguay) 7(2): pp.1-114, 2010.

FREZZATTI JUNIOR, Wilson Antonio. A recepção de Nietzsche na França: da Revue philosophique de la France et de l´ Étranger ao período entreguerras. In: Cadernos Nietsche, disponível em http://www.cadernosnietzsche.unifesp.br/pt/home/item/187-a-recep%C3%A7%C3%A3o-de-nietzsche-na-fran%C3%A7a-da-revue-philosophique-de-la-france-et-de-l%C2%B4-%C3%A9tranger-ao-per%C3%ADodo-entreguerras.

JACO-VILELA, Ana Maria. LEAL FERREIRA, Arthur Arruda. PORTUGAL, Francisco Teixeira (orgs). História da Psicologia: Rumos e Percursos. Segunda Edição, Rio de Janeiro, RJ, 2010.

MUCCHIELI, Laurent. O nascimento da sociologia na universidade francesa (1880-1914), CNRS – Revue d’Histoire des sciences humaines – Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 21, nº 41, p. 35-54. 2001.

TOASSA, Gisele. Emoções e vivências em Vigotski: investigação para uma perspectiva histórica-cultural. 2009. Tese (Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-19032009-100357/>. Acesso em: 2013-03-02.

Welyton Paraíba da silva Sousa e Maria Aurelina Machado de Oliveira. Teoria da personalidade: um breve resgate epistêmico desse campo do saber psicológico [www.dEsEnrEdoS.com.br – ISSN 2175-3903 – ano I – número 03 -teresina – piauí – novembro dezembro 2009].