O Pequeno Príncipe (original Le Petit Prince), uma adaptação do romance de mesmo nome do autor Saint-Exupéry publicado em 1943, é uma produção do diretor Mark Osborne (Kung Fu Panda – 2008; Monstros vs Aliens – 2009). O filme francês que tem sua duração contada em 1h50min, pertence ao gênero de animação, porém mesmo que pareça destinado ao público infantil, a obra de Osborne surpreende desde o primeiro minuto com conceitos psicológicos que valem a pena serem analisados com atenção. Distribuído no Brasil pela Paris Filmes, teve sua estreia mundial no Festival de Cannes em 22 de maio, e por aqui estreou no dia 20 de agosto.
Misturando o estilo de animação feita com computação gráfica e o lindo trabalho com a tecnologia stop motion (sendo que ao primeiro está reservado retratar o mundo “real”, e ao segundo o que se passa durante a história do Pequeno Príncipe enquanto é contada), o filme faz quem assiste embarcar em uma jornada mágica acompanhada não só pelos personagens icônicos do livro, mas com uma nova protagonista, a Garotinha.
Ela que não nos apresenta um nome (porém Osborne declarou que a personagem é inspirada em sua filha), está a ponto de entrar em uma escola cujas vagas são disputadíssimas; sua mãe, solteira e trabalhadora, controla cada hora e cada minuto da vida da menina, e as divide em tarefas cuidadosamente cronometradas, na tentativa de ajudá-la a ser aceita na escola. Apesar das boas intenções, porém, ela não percebe que, com tantas obrigações, está fazendo sua filha se esquecer do que significa ser criança. E é aí que a jornada começa.
Elas se mudam e a Garotinha conhece seu vizinho, que para um senhor de idade aparentemente avançada se mostra com um ânimo atípico para aventuras, e logo, através dele, ela vem a conhecer a história do Pequeno Príncipe. O Aviador apresenta um mundo novo de possibilidades a sua pequena vizinha; arranca-a de sua rotina de números e estudo infindável, para lhe mostrar um universo de cores, brincadeiras e histórias que ela jamais poderia imaginar ou mesmo vivenciar antes.
A trama principal começa se desenvolver a partir desse ponto. Mostra para o espectador a estória da Garotinha dividida entre o mundo simétrico, regrado e monocromático em que vive e a companhia alegre e multicolor de seu novo amigo. Também é nesse ponto onde Osborne nos reconta o livro; aos poucos e pacientemente nos faz reviver a jornada do Pequeno Príncipe desde seu famoso asteroide B 612 até seus encontros icônicos com seres fantásticos por todo o cosmo e na Terra. Tudo sem pressa, intercalando a linha do tempo original para assim instigar quem assiste.
O filme aborda vários âmbitos da sociedade, inúmeros assuntos peculiares e relevantes, mas neste artigo serão destacados dois. O primeiro é com relação à mãe da garotinha, e o fato de ser autoritária. Procurando um pouco a fundo na psicologia do desenvolvimento, um pai autoritário é aquele que tende a se impor sobre o filho, com medo ou outro sentimento forte, usando seu poder de forma absoluta sem se preocupar com os problemas que possam vir a ocasionar a seus filhos. Isto pode ser visto ainda hoje em dia, num panorama em que pais se impõem sobre os filhos, sendo que não dão o mínimo de liberdade aos pequenos. Um pai ou mãe autoritário(a) pode ser agressivo (aquele cuja a palavra é lei e não há pé para discussão) e também pode aparentar ser um pai que exerce o poder com firmeza, como é o caso da mãe da garotinha no filme, mas que no fundo os filhos não o respeitam e sim o temem, com medo de um possível castigo.
A garotinha teve sua vida inteira planejada e cronometrada pela mãe, coisa que se percebe na primeira meia hora de filme, e sempre baixava a cabeça para aceitar o que lhe era imposto. Sem querer ignorar a preocupação da mãe com o futuro da filha, ou mesmo com seu bem-estar no presente, vê-se que todo esse controle faz mal para a criança. A mãe acaba por fazer a coisa certa da maneira errada. Triste não? Mas toda história tem suas reviravoltas e no fim a garotinha consegue reencontrar sua infância de um modo único.
O segundo assunto, ou temática se preferirem, que chamou a atenção no filme foi a relação entre o Aviador e a Garotinha, mostrando da parte dele, a presença forte da chamada Síndrome de Peter Pan. Essa Síndrome foi aceita pela psicologia no ano de 1983, através dos escritos do Dr. Dan Kiley (The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up). Antes disso, na Psicologia Analítica de Jung, já se falava da síndrome do Puer Aeternos e justamente o termo “Peter Pan” surgiu nos anos 80 para dar nome a patologia contida no puer; e mesmo não sendo considerada propriamente uma doença, é identificada em indivíduos cujas atitudes são de uma criança em corpo de adulto, sendo que podem vir acompanhadas de ações equivalentes a rebeldia, raiva explosiva, altos níveis de amor próprio (Narcisismo) e o mais evidente e claro de todos, a negação do envelhecimento – como o personagem das histórias infantis, o indivíduo não quer envelhecer: há uma relutância do adulto em “amadurecer” e abandonar o “paraíso da infância”. Como já dito, o Aviador parece sofrer dessa peculiaridade, sendo que se isolou do mundo em sua casa e vive sempre relembrando seu passado, se negando a reconhecer que está realmente envelhecendo. Ele ainda vê a jiboia que engoliu um elefante, não um chapéu.
O Pequeno Príncipe é uma linda produção cinematográfica, por isso não se deixe iludir com o rótulo de filme infantil. É uma aventura completamente mágica. Faz o espectador olhar para dentro de si mesmo e querer redescobrir o que quer que tenha como convicção em sua vida; seja no modo de ver o mundo à sua volta ou em como se relaciona com as pessoas. Osborne traduziu a obra literária em um ritmo perfeito e só deixou o final misterioso o suficiente para que o espectador ganhe mais horas e horas meditando sobre o seu significado. Por isso, é recomendado pegar a pipoca e talvez alguns lenços, pois há grande expectativa que a emoção se expresse das formas mais variadas com essa linda animação.
FICHA TÉCNICA
O PEQUENO PRÍNCIPE
Título Original: The Little Prince (Original)
Ano produção: 2015
Dirigido por: Mark Osborne
Estreia: 20 de Agosto de 2015 ( Brasil )
Duração: 110 minutos
Classificação: L – Livre para todos os públicos
Gênero: Animação Fantasia
Países de Origem: Canadá e França