paraíso artificial

Paraísos Artificiais: uma história de amor e êxtase

Qual a importância de se discutir drogas nos dias de hoje?

O filme Paraísos Artificiais (2012), de Marcos Prado, retrata a história de vida de um casal, que é atravessada pelos autos e baixos de quem entra em contato direto com o uso das drogas. Os diversos contextos vivenciados pelos personagens tratam do que é sabido sobre o uso de substâncias alucinógenas (dependentes ou não), e de como elas afetam a vida das pessoas, desde o tráfico ao consumo livre, em todas as esferas sociais.

Meu propósito aqui, contudo, não é o de abordar o filme, mas sim de aproveitar a discussão do tema e provocar uma reflexão a nível social e acadêmico. Deixo claro que não pretendo por meio deste insight tentar resolver o problema, do contrário, quero mesmo é deixar a questão no ar, em suspenso, para que juntos, possamos tentar chegar a uma solução, ou não.

Afinal, qual a importância de se discutir drogas na universidade?

Em minha educação, nível fundamental e médio, o tema sempre foi muito explorado. Haviam professores, coordenadores, palestrantes, até mesmo ex usuários falando, e com propriedade, sobre o tema e seus agravantes. Na minha formação acadêmica, a discussão perdura, e aqui, em algumas matérias, digo dos cursos área da saúde, podemos até ver a fundo a ação dessas substâncias no organismo. Mas de algum modo, parece que o aluno se restringe a deixar o assunto apenas para a sala de aula, e falar de drogas nos corredores parece obsoleto.

Ano de 2012, vivemos o século do acesso à informação, e poucos se dão conta de que estamos imersos em uma revolução tecnológica. Somos o mais longe que a evolução já levou o ser humano, e até aqui, nos perdemos em questões ínfimas. Parece que avançamos tanto em algumas áreas e em outras deixamos, e sempre deixaremos, a desejar. Porque será que ainda hoje, precisarmos gastar tempo e espaços, como este, para tratar de assuntos que já deveriam estar bem esclarecidos. A questão é: Será que algum dia isso vai mudar?

Afinal, até quando se discutirá sobre o uso das drogas?

O problema é atual, e persistente. O tema é de extrema importância, e já atingiu proporção: social, cultural, política, econômica e religiosa. Os debates já chegaram à saúde, inclusive à saúde mental, prova disso são os Centro de Apoio Psicossal Álcool e Drogas (CAPS AD) que se espalham pelo país, a fim de atender também essa demanda. Mas quando se fala em prevenção, acredito que o debate, não há como escapar disso, tem que nascer no âmbito familiar.

Vale ressaltar que Debate: é uma discussão entre duas ou mais pessoas que queiram apenas colocar suas ideias em questão ou discordar das demais, sempre tentando prevalecer a sua própria opinião ou sendo convencido pelas opiniões opostas. Quando falo de que o debate tem que nascer no âmbito familiar, digo que: pais, irmãos, tios, avós, primos, vizinhos, etc, devem juntos romper com os preconceitos e conversar sobre o tema. O primeiro passo para a solução de um problema, é a aceitação de que ele existe.

Ao se falar de drogas, um dos problemas é que estamos acostumados à imagem ruim que sempre é associada ao vicio, quando este é abordado pelas mídias. A maioria das campanhas de conscientização quanto ao uso das substâncias que causam dependência, apelam para o lado emocional, e buscam aterrorizar a pessoas, em especial, os jovens. Tais campanhas impõem o medo, imprimindo no inconsciente das pessoas a imagem social de algo que elas não querem para si. Um exemplo claro disso, são as fotos no verso das embalagens de cigarros hoje em dia.

Mas onde está o erro nisso?

Imagine que em um belo dia, um jovem, por qualquer que seja a situação em que está imerso, em algum determinado momento de sua vida experimenta um cigarro de maconha, por exemplo, e surpresa, a sensação é muito melhor do que ele poderia esperar. Nada de ruim. Do contrário, uma viagem alucinante, muito diferente da imagem de miséria com a qual ele está habituado. Desse ponto, até ele descobrir a realidade por trás do uso das drogas, vai demorar muito tempo, aliás, tempo suficiente para tornar o quadro muito mais difícil de ser revertido. E o pior, pode ser que ele se torne um usuário moderado, e vir a nunca presenciar uma situação que lhe provoque uma visão negativa a cerca do vicio. Isso, se ele se tornar um usuário.

É essa a reflexão que o filme traz, afinal, a sensação causada pelas substâncias alucinógenas não chegam nem perto daquelas oferecidas atualmente pelos discursos das mídias, e neste caso, o paraíso pode sim ser artificial.

O que está errado?

Não quero aqui criticar o que já vem sendo feito pelas políticas públicas, nem pelas ONG’s que trabalham dia e noite no auxilio a usuários, pelo contrario, acredito que tem havido grandes avanços nesse campo, um exemplo claro são os investimentos nas campanhas de redução de danos. Mas, enquanto não superarmos o problema, não podemos nós conformar. Na verdade, nem depois! O debate é atual, e tem que permanecer, a fim de evitarmos reincidência.

Pretendo como esse texto, mostrar outros lados, aspectos, que também devem ser considerados ao se falar de drogadição.

Não sei se o debate sozinho vai nos levar a algum lugar, sinceramente espero que não. Mas sei que indiferente à situação não dá para continuarmos. Estamos caminhando para um ponto onde, ou você é a favor, ou contra, e nem aqui eu crítico. Acho mesmo que cada um, mediante suas crenças, tem sim o direito de defender seu ponto de vista. Mas a questão é que, até para se defender o uso das drogas, tem-se que ter, pelo menos, um conhecimento básico a respeito do tema. Não estou fazendo apologia ao uso de drogas, nem não fazendo. Fico indignado com aqueles que apenas se negam ao debate (seja qual for o tema), ou se chocam com as cenas mostradas pelo filme, que de maneira belíssima, provoca uma reflexão sobre o problema.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

PARAÍSOS ARTIFICIAIS

Direção: Marcos Prado
Roteiro: Marcos Prado, Pablo Padilla, Cristiano Gualda
Elenco: Nathalia Dill , Luca Bianchi , Lívia de Bueno;
País: Brasil
Ano: 2012
Gênero: Drama