Por Allyne Martins Gomes (Acadêmico de Psicologia) – allynemartins@rede.ulbra.br
A sexualidade é um aspecto fundamental da experiência humana, que envolve não apenas os aspectos físicos e biológicos, mas também os sociais, culturais e psicológicos. Ela é uma parte intrínseca da identidade de cada indivíduo e desempenha um papel significativo em suas relações interpessoais e na forma como as sociedades são estruturadas.
A sexualidade abrange uma ampla gama de questões, desde a atração sexual, o desejo e a intimidade até a orientação sexual, identidade de gênero e a expressão da sexualidade. Além disso, a sexualidade é influenciada por fatores como valores culturais, religião, educação e experiências pessoais.
Nas últimas décadas, houve uma maior conscientização e aceitação da diversidade sexual e de gênero, levando a discussões mais abertas e progressistas sobre sexualidade em todo o mundo. Isso tem promovido o diálogo sobre questões como igualdade de direitos, educação sexual e a importância do consentimento, contribuindo para uma compreensão mais ampla e respeitosa da sexualidade em todas as suas formas.
Nesta introdução, exploraremos mais a fundo os diferentes aspectos da sexualidade, sua evolução ao longo do tempo e seu impacto na sociedade contemporânea analisando a parti da perspectiva do filme Tomboy (Céline, Sciamma, 2012)
Ao estudar a história do sexo, e mesmo a história do comportamento sexual, descobrimos uma cena estranha: quão repetitiva, para não dizer monótona, tem sido essa história (Gregersen, 1983). Com exceção de certas formas de perversão, encontramos as mesmas expressões sexuais e as chamadas “identidades sexuais” em todas as culturas. A cultura ocidental tende a patologizar, chamando de “desvio” as subjetividades que se desviam dos padrões socialmente construídos – perversões, travestis, transexuais, bissexuais e, até algumas décadas atrás, a homossexualidade – entre todos os grupos podem ser observadas. Humanos, incluindo outras espécies animais (Bagemihl, 1999). A interpretação, justificação, aceitação e/ou condenação da expressão sexual responde à visão da cultura relevante sobre a sexualidade, particularmente a forma como ela é representada nos mitos de origem (CECCARELLI, 2012).
Além disso, a forma como os diferentes grupos humanos lidam com a expressão do comportamento sexual está basicamente relacionada a dois movimentos que afetam diferentes áreas psicológicas e são, na maioria dos casos, considerados da mesma ordem: a repressão sexual e a repressão da sexualidade. O primeiro movimento, a repressão, envolve a desordem do incesto, que nos obriga a abandonar o nosso primeiro objeto sexual: “as exigências culturais da sociedade” (Freud, 1905/1976a, 232). A repressão existe em todas as culturas e é uma condição inegociável da sua existência. É o movimento que distingue e organiza os seres humanos.
A repressão da sexualidade está profundamente relacionada com a moralidade sexual e com o sistema de valores que sustenta o imaginário social que sustenta a moralidade atual:
A infância nem sempre é vista como uma etapa importante da vida para a construção subjetiva e a formação da identidade. Durante muitos séculos podemos perceber a natureza não representacional dos espaços cognitivos das crianças, uma vez que foram tratadas ao longo da história como adultos em miniatura, sem distinções entre eles em termos de cognição, identidade e subjetividade. Segundo Ariès (2011), a infância é um conceito social historicamente construído e com raízes europeias. O autor acredita que este conceito ocidental revela as peculiaridades das crianças, distinguindo as suas características dos adultos. Durante a infância, será formado um autoconceito, uma compreensão da separação entre o próprio corpo e os corpos dos outros e uma introjeção das relações culturais, sociais e linguísticas no ambiente. Afastando-se de uma visão do corpo como entidade biológica universal e, por outro lado, aproximando-se de uma visão pós-estruturalista em que o corpo é visto como uma estrutura social, histórica e linguística que gera e é afetada por diversas relações.
Fonte: adorocinema.com
O poder (MEYER, 2004) pode ver as relações e representações de gênero como determinantes estruturais e não biológicos. Desde o momento em que nascemos, estamos enredados numa relação de discursos normativos, em que as interpretações sobre o que devemos fazer com os nossos corpos e desejos pairam em perspectivas naturalistas ou mesmo divinas. Uma criança recebe ao nascer um nome que a rotula como mulher ou homem com base em seu sexo biológico. Para as meninas, são adquiridos vestidos, bonecas e itens rosa. Perfeito para meninos, carros, bonecos e tudo que é azul. As meninas têm que gostar dos meninos; e estes, para as meninas. Mas e quando as coisas não vão tão bem?
O filme Tomboy (2011) levanta implicações sobre normas de género e apresenta-se como uma importante ferramenta para pensar e estudar as representações de género, evitando questões sobre o que significa identificar-se como menino ou menina. e naturalmente. O termo “moleca” é um termo norte-americano usado para se referir a meninas que se vestem e se comportam de maneira consistente com as expectativas tradicionais dos meninos (PAULINO, NUNES, & CASTANHEIRA, 2013).
Fonte: adorocinema.com
Segundo o autor do filme, esta obra trata de indagações e implicações a respeito das questões normativas sobre gênero e se apresenta como um significativo (DOCKHAN, 2011,), tendo como protagonista Raul, uma menina de dez anos, revelando-se ao público. O espectador é mostrado vestindo roupas tipicamente masculinas e cabelos curtos, o que a leva a ser identificada como um menino com base nas intersecções culturais, sociais e linguísticas em torno de questões de gênero.
Segundo Meyer (2004), representação de gênero significa as formas como são representados os processos de construção social, histórica e linguística envolvidos na diferenciação entre meninas e homens, nos quais os efeitos das relações de poder são desencadeados e sofridos. Os corpos deles. Assim, tomamos como aspecto principal do filme Tomboy (2011) as relações entre meninos e meninas, dentro desse cosmo de representações de gênero, o encontro com o corpo em mudança e/ou o desejo por essas mudanças. Este trabalho não pretende apresentar filmes num quadro literário. Mas apenas para colocar essa literatura em conversa com as muitas possibilidades que o cine estimula em nós.
A obra começa com a mudança de Raul e sua família para um bairro do subúrbio francês, com novos vizinhos, uma nova escola, nossos amigos e novas oportunidades/possibilidades, trazendo consigo a ideia de instabilidade/mudança de vida. Nessa cena, o filme continua mostrando Raul conhecendo sua vizinha Lisa. Por suas roupas tipicamente masculinas e cabelos curtos, Raul é identificado como menino pela personagem Lisa. A protagonista parece aproveitar esse espaço, consegue caminhar entre os dois gêneros e, ao ser questionada sobre seu nome, se identifica como Michael.
Fonte: adorocinema.com
Por suas roupas tipicamente masculinas e cabelos curtos, Raul é identificado como menino pela personagem Lisa. A protagonista parece aproveitar esse espaço, consegue caminhar entre os dois gêneros e, ao ser questionada sobre seu nome, se identifica como Michael.
Para Louro (1997), género refere-se à forma como as diferenças de género são vistas e compreendidas numa determinada sociedade, num determinado grupo social ou num determinado contexto, ou seja, não são as diferenças biológicas de sexo que definem as questões de género, mas sim as diferenças de género. Como essas questões se manifestam na cultura. O trecho da cena explica a conversa acima com a literatura apresentada, enquanto Raul/Michael tenta recriar o comportamento masculino culturalmente aceito para ser considerado o verdadeiro gênero masculino dentro de seu grupo.
A infância é uma fase repleta de descobertas e questionamentos e é a partir disso que Tomboy (2011) nos faz refletir sobre a representação do gênero e seu significado na vida social. Raul/Michael parece estar em um período de tolerância para ambos os tipos e se sente à vontade para fazê-lo.
Além disso, seus pais estavam dispostos a aceitar sua preferência por itens masculinos em detrimento de itens femininos, embora não apoiassem o fato de ela agir e se considerar um menino. O filme mostra-nos uma criança que expressa representações de género diferentes das representações de género normalizadas pela sociedade porque as suas roupas e cabelos são tipicamente masculinos e por vezes o seu comportamento é masculino. Diante dessa vontade de se vestir como menino e agir como menino, a protagonista levanta questões sobre sua identidade e representação de gênero. Antes de chegar à conclusão, o filme Tomboy levanta algumas questões. Da sua própria conclusão cinematográfica (que não permite ao espectador identificar Raul) às suas implicações teóricas sobre este universo, é um estudo de género, construção de identidade, condições sexuais e possível existência legítima não categorial, sem género, incondicional. As vivências “Tomboy” estão sempre em reticências.
Ficha Técnica
Ficha técnica do filme: Tomboy Atores Principais: Laure/ Michael; Jeanne; Lisa; La mere; Lé Pere Direção / Ano. Céline Sciamma/2011 Gênero do Filme: Drama Tipo de Linguagem: Não recomendado para menores de 14 anos Grau de entendimento(Fácil / Médio / Difícil): Médio Temas abordados: Aborda o assunto da sexualidade na pré-adolescência. Enredo(Resumo do filme): Laure (Zoé Héran) é uma garota de 10 anos, que vive com os pais e a irmã caçula, Jeanne (Malonn Lévana). A família se mudou há pouco tempo e, com isso, não conhece os vizinhos. Um dia Laure resolve ir na rua e conhece Lisa (Jeanne Disson), que a confunde com um menino. Laure, que usa cabelo curto e gosta de vestir roupas masculinas, aceita a confusão e lhe diz que seu nome é Mickaël. A partir de então ela leva uma vida dupla, já que seus pais não sabem de sua falsa identidade.
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REFERÊNCIAS
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
Bagemihl, B. (1999). Biological Exuberance: Animal Homosexuality and Natural Diversity. New York: St. Martin’s Press.
Ceccarelli, P. R. (2012). Mitologia e perversão. In S. Pastori, & R. Nicolau (Orgs.), Encontro transcultural: subjetividade e psicopatologia no mundo. globalizado São Paulo, SP: Escuta.
DOCKHAN, J. “Tomboy”: Interview avec Céline Sciamma. Allo Cine. Paris, França. 2011. Disponível em: http://www.allocine.fr/article/fichearticle_gen_carticle=18603428.html/. Acesso em: 23/04/2014.
Gregersen, E. (1983). Práticas sexuais: a história da sexualidade humana. São Paulo, SP: Roca.
LOURO, G. Gênero e magistério: identidade, história e representação. In: CATTANI, Denise et al. (Org.). Docência, memória e gênero. Estudos sobre formação. São Paulo: Escrituras, 1997.
MEYER, D. E. Teorias e políticas de gênero: fragmentos históricos e desafios atuais. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília – DF, 2004.
PAULINO, A. G., NUNES, A. R., & CASTANHEIRA, M. A. M. Cinema e gênero nas lentes de tomboy. Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN2179-510X.