Uma aventura no fundo do mar. Uma garota guiada pelas nadadeiras de uma tartaruga marinha. Uma história contada de forma lúdica e que explora o problema da poluição dos oceanos e a ocupação desenfreada do litoral brasileiro. Esse é o contexto do livro: Alice no fundo do mar, de autoria da socióloga Vanessa Labarrere.
Indicada para crianças de seis a nove anos, a narrativa é leve e bem-humorada. A autora homenageia, nesta obra, o clássico da literatura infantil Alice no País das Maravilhas, do escritor inglês Lewis Carrol (1832-1898), e, na vivência da garota que fala com os animais, se aproxima de outro personagem clássico, o Dr. Dolittle, criado pelo escritor inglês Hugh Lofting (1886-1947). O prefácio é do contista e pesquisador brasileiro Marco Haurélio.
Filha de biólogo, a personagem Alice, inicia seu interesse pela natureza e vai descobrindo a influência da humanidade em cada lugar por onde passa e como as construções que desenvolve, nada sustentáveis, agridem toda forma de vida que os cerca. Mas é ao lado da tartaruga marinha Madu, que a curiosa garota entra em contato com o mundo debaixo d’água e se interessa ainda mais pelos seres vivos do oceano.
Guiada através das nadadeiras de sua nova amiga, Alice conhece o efeito devastador da poluição, que causa sérios danos também à vida subaquática. Ela se envolve em várias “histórias de pescador”, na tentativa de fazer uma faxina nos corais, em que é auxiliada por prestativos e inteligentes golfinhos.
O En(Cena), entrevista a autora Vanessa Labarrere, socióloga e mestre em Linguística e especialista em Educação Ambiental. A autora, alerta para a maneira de educar as crianças para que compreendam a importância do meio ambiente e do equilibro ecológico.
Vanessa Labarrere – Foto: Arquivo Pessoal
En(Cena) – Como nasceu a iniciativa de escrever sobre o tema conscientização ambiental?
Vanessa Labarrere– Cursei uma especialização em educação ambiental e senti necessidade de desenvolver um trabalho voltado para as crianças. Acredito que a educação ambiental deva começar desde cedo. Se aprendermos hábitos ecologicamente corretos desde pequenos, nos tornaremos adultos conscientes e transformaremos a sociedade em que vivemos numa sociedade sustentável.
En(Cena) – Qual a relação entre sua obra: “Alice no fundo do mar” e o clássico da literatura infantil “Alice no País das Maravilhas”?
Vanessa Labarrere– As duas Alices são curiosas, independentes, espertas e dotadas de pensamento crítico.
En(Cena) – No desenrolar dos fatos que ocorrem no livro, o que a personagem “Alice”, consegue concluir diante da situação emergencial com os problemas causados pela humanidade na natureza?
Vanessa Labarrere– Alice conclui que as pessoas precisam agir com rapidez na mudança de hábitos, pois as ações humanas têm impactos negativos e destrutivos sobre a vida das demais espécies. Dentro daquilo que está ao seu alcance, Alice aprende que o lixo deve ser jogado somente em locais específicos e que deve ser separado e destinado à reciclagem.
En(Cena) – Explica um pouco a função da “tartaruga marinha Madu”, como personagem animada da obra?
Vanessa Labarrere– A tartaruga marinha será justamente quem mostrará a Alice os impactos que o lixo humano descartado incorretamente exerce sobre a fauna marinha. A ideia era mostrar esse problema ambiental às crianças de forma lúdica e divertida, por meio de uma história de aventura e fantasia que trata de problemas reais da atual sociedade.
En(Cena) – Você acredita que um trabalho fundamentado conscientizando desde as crianças pode tornar melhor o futuro do meio ambiente e consequentemente o da humanidade, ou isso é inevitável?
Vanessa Labarrere– Eu acredito que as pessoas terão de se adaptar e as sociedades terão de se transformar para que os ecossistemas não entrem em colapso e a vida no planeta não seja ameaçada. Os problemas ambientais os mais diversos, desde mudanças climáticas, impactos dos resíduos sólidos, desmatamento, seca, falta d’água, dentre outros, estão muitas vezes interligados e são em grande parte consequência da ação humana. A educação ambiental tem como propósito sensibilizar as pessoas sobre a questão ecológica e a necessidade de adotar novos hábitos e transformar a sociedade, o que inclui desenvolver tecnologias limpas. Tudo isso já está sendo feito, mas ainda de forma lenta e em pequenos setores da sociedade. É preciso que essa sensibilização atinja aos indivíduos, aos governos e aos setores produtivos da sociedade em sua totalidade.
En(Cena) – O que você imagina para o futuro da humanidade caso não seja aplicado ações de sustentabilidade em relação a produção e descarte de lixo e a ocupação desordenada dos litorais?
Vanessa Labarrere– O lixo é um sério problema. Em solo, se inadequadamente descartado e tratado, causa acúmulo de dejetos e a necessidade de destinar cada vez mais áreas para esse fim, além de contaminar lençóis freáticos e produzir gases que aumentam o efeito estufa. Se descartado no mar, ameaça a fauna e a flora, desequilibrando o ecossistema marinho, levando espécies à extinção e reduzindo os estoques pesqueiros. A ocupação desenfreada dos litorais reduz as áreas de manguezais, que funcionam como berçários para as espécies marinhas, levando espécies à extinção e também reduzindo os estoques pesqueiros.
En(Cena) – Você acredita que, temas como a poluição do meio ambiente e o uso desenfreado de nossos rios, litorais e oceanos, tem ligação com uma possível deficiência do sistema de educação fundamental no Brasil?
Vanessa Labarrere– Como educadora ambiental considero que os problemas ambientais, para que sejam sanados, devem ser alvo de políticas educacionais. A sensibilização é parte da solução. A educação ambiental deve ocorrer desde o ensino fundamental, para que as crianças de hoje sejam os adultos conscientes de amanhã. Contudo, além da educação ambiental, outras medidas são necessárias, como a aplicação da legislação ambiental, ações de fiscalização, aplicação de penalidades aos infratores, estímulo ao fomento de tecnologias sustentáveis, etc.
En(Cena) – O investimento em educação social através da leitura prova que a cultura do brasileiro não atende a essas estratégias de conscientização, devido nossas crianças não ter como primordial o interesse pelos livros, o que pretende transmitir de diferencial para alcançar a atenção dos que serão o futuro da Nação?
Vanessa Labarrere– As crianças que não se interessam pelos livros não o fazem porque não foram estimuladas a tanto. Os livros impressos e em formato digital ou áudio despertam a atenção e a curiosidade das crianças quando apropriados a sua faixa etária e trabalhados de maneira contextualizada em sala de aula ou lidos pelos pais para seus filhos. A leitura de pais para filhos é um grande prazer em família e uma excelente forma de estimular a paixão das crianças pelos livros entre aquelas crianças que ainda não sabem ler. Isso as estimula a querer ler depois de alfabetizadas. Os pais devem incentivar esses momentos e participar com seus filhos da leitura de livros em casa.
FICHA TÉCNICA DO LIVRO
ALICE NO FUNDO DO MAR
Autora: Vanessa Labarrere
Editora: Nova Alexandria
Classificação indicativa: de 6 a 9 anos
Tamanho: 16X23cm
Páginas: 52
Preço: R$ 37,00