Nilza Rodrigues aborda sobre sua atuação como psicóloga escolar considerando as Políticas Públicas

O (En)Cena entrevista a psicóloga Maria Nilza Rodrigues da Silva. Psicóloga CRP – 23/2711 formada pela Universidade Federal do Tocantins – UFT, atua como Psicóloga Escolar e Educacional desde agosto de 2023 no CMTO – Santa Terezinha Xlll em Miracema do Tocantins. Desenvolve projetos sociais com crianças e adolescentes na desde o ano de 2014 dentro das escolas e atualmente como psicóloga.

 

(En)Cena: Quais são os desafios e as potencialidades da atuação na Psicologia escolar? 

Maria Nilza:  O maior desafio é o formato de trabalho dentro da instituição escolar, devido a falta de espaço para os atendimentos, e o trabalho em equipe multiprofissional, ora tem seus pontos positivos, ora tem seus pontos negativos, pois o público atendido não sente-se confortável em ser atendido em equipe, as vezes é necessário pedir para as colegas se retirar da sala para poder realizar o atendimento individual e a intervenção adequada. O papel do psicólogo escolar acaba sendo confundido pelos colegas de trabalho, devido ser uma função em adaptação dentro das escolas, e antes era só orientação escolar, atualmente acaba sendo sobrecarregado ao psicólogo escolar por ter que desenvolver ações durante todo ano e diferentes temas e assuntos, atendimentos individuais, encaminhamentos, visitas domiciliares dentre outras atividades, a carga horária que são 40 horas. E o salário que ainda não tem um teto e o valor adequado para categoria. Uma das potencialidades experimentada por mim é: o domínio em realizar os atendimentos e atividades impostas pela profissão e perceber que a cada dia a Psicologia vem ganhando espaços e surtindo efeito e resultados positivos na área da educação, tendo em vista que ainda temos muito o que lutar através das políticas públicas para melhoria no desenvolvimento do trabalho, lutar pelo suporte dos profissionais na área de trabalho, lutar por ferramentas e condições de trabalho adequada.

(En)Cena: Quais são as demandas mais frequentes no cenário atual? 

Maria Nilza: Atualmente as demandas maiores e com mais frequência são o transtorno de ansiedade, abuso sexual, a falta de diálogo e suporte familiar.

(En)Cena: Como as atuais políticas públicas impactam o trabalho do psicólogo escolar?

Maria Nilza: Pensar o impacto causado através das políticas públicas, é saber que o maior desafio é que a Psicologia centrada no campo das políticas públicas, foi que a tradicional Psicologia foi elitizada e privatista no âmbito da clínica, pensando os processos psicológicos de forma mais individualizada. Porém, a partir do processo de redemocratização, o Estado foi obrigado a elaborar, implantar e executar políticas que diminuíram o quadro de desigualdade social nacional. Através desse contexto que a Psicologia foi se inserindo aos poucos visivelmente nas chamadas políticas públicas sociais nas áreas da Saúde e Assistências.

(En)Cena: Na sua perspectiva, como a Lei n° 14.819 de 16 de janeiro de 2024 contribui para o desenvolvimento do seu trabalho na comunidade escolar? 

Maria Nilza: Por ser uma lei que visa alcançar não somente os espaços escolares, mas toda comunidade escolar, é de importante relevância alcançar esse público trabalhando a área sócio emocional da comunidade, um público que antes não tinha esse olhar tanto do profissional da Psicologia quanto da assistência social, hoje pode contar com esse suporte e tendo como garantia de direito.

(En)Cena: Qual a importância de uma postura interdisciplinar no contexto educacional?

Maria Nilza: É de grande importância e tende a melhorar o trabalho, quando diferentes áreas do conhecimento se conversam e colocam seu ponto de vista ampliando assim a compreensão dos temas abordados, pois não se limita a uma única perspectiva. Pois no espaço escolar a equipe é composta por psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e orientadores educacionais, onde cada um contribui com sua expertise, tornando assim um trabalho rico e produtivo.

 

(En)Cena: Há uma evidente “psicologização” dos contextos educacionais, sobretudo com o aumento de casos de neurodivergência. Você acredita que as escolas estão atentas a estas demandas?

Maria Nilza: Após a implantação da Lei 14.819, as escolas estão mais atentas aos casos de neurodivergência, com o apoio dos profissionais da Psicologia e dos serviços de assistentes sociais, pois os professores após observarem seus alunos e perceberem que precisa ser investigado determinado caso ou situação individual, repassam aos profissionais da Psicologia, podendo assim ser investigado com um olhar mais voltado a área de atuação podendo assim contribuir com o desenvolvimento do trabalho pedagógico como do ensino aprendizado do aluno(a) e o bem estar social e emocional dos assistidos.

(En)Cena: De modo geral, o que tem sido mais significativo na sua atuação no âmbito escolar? 

Maria Nilza: O mais significativo e gostoso de sentir na atuação profissional, são os retornos das escutas realizadas, perceber o bem estar emocional dos estudantes após o suporte psicológico dentro da escola, levar e conscientizar a comunidade escolar a importância do cuidado psicológico e o bem estar emocional do indivíduo. Embora o preconceito ainda exista com relação a Psicologia, as falas como: “Psicologia é para doido” e “ eu não preciso disso não” dentre outras falas ainda bastante enraizadas, mas que aos poucos e com o trabalho diário vamos rompendo com essas falas e conscientizando sobre a importância do cuidado e o olhar voltado a saúde mental.