Não é difícil ouvir por ai alguém que repita a seguinte frase: Um belo sorriso abre portas. De fato a estética bucal é de suma importância para vida de quem quer que seja, ainda mais diante de um mercado de trabalho tão concorrido e cada vez mais visceral, onde cada um luta com as armas que tem.
Mas até que ponto isso é apenas uma disputa por alguma coisa e não uma questão de saúde?
O dentista José Carlos Moreira bateu um papo com a equipe do (En)Cena, e discorreu sobre a importância da saúde da boca e como ela pode interferir diretamente na cabeça de quem passa por algum problema do tipo.
José Carlos Moreira é cirurgião dentista formado pela Universidade de São José dos Campos – UNESP, em 1979. Já trabalhou em São Paulo, Jaguariúna e há 30 anos exerce a profissão como dentista em Mogi Mirim, interior de São Paulo, onde possui consultório particular. É concursado pela prefeitura de Mogi Mirim desde 1984 e há 28 anos é responsável pelo Programa de Prótese Total do município. José Carlos possui também especialidade em ortodontia e implantes dentários.
(En)Cena – Que relação a estética bucal tem com o estado de espírito de uma pessoa?
José Carlos Moreira – A estética bucal interfere diretamente na vida do cidadão. Um individuo desdentado ou com má conservação dos dentes (principalmente os anteriores) fica marginalizado perante a sociedade e com a autoestima em baixa. Afinal, o sorriso é a porta de entrada quando conhecemos uma pessoa. Além da parte estática, uma pessoas sem dente ou com a dentição sem uma boa conservação sofre com a forma errada de mastigação podendo levar a vários problemas de saúde de um modo geral. Então a estética bucal ela pode sim mexer com o estado psicológico de uma pessoa.
(En)Cena – Você acredita que um paciente possa desenvolver um quadro depressivo por causa da má conservação dos dentes?
José Carlos Moreira – Com certeza, a falta de dente ou até mesmos dentes “estragados”, como falamos popularmente, interfere diretamente na sua saúde de uma pessoa de modo geral, inclusive levando a um quadro de depressão. Além da dor que normalmente se sente, esteticamente este indivíduo fica prejudicado, dificultando seu relacionamento. No dia a dia de trabalho a gente percebe claramente esta reação. Já tive casos aqui no consultório em que o paciente nem conversava direito, ficava curvado para baixo como forma de esconder o rosto. Depois de colocar a prótese total (dentadura), a transformação era imediata. A pessoa passava a sorrir, parecia que se sentia mais confiante. Tem um caso de um idoso que tinha vergonha de sair de casa, vivia de cabeça baixa. A família identificou isso, nós fizemos a prótese dele e quando ele colocou a dentadura e que voltou a sorrir, ele chorou.
(En)Cena – Quais são os principais fatores que levam uma pessoa a não se preocupar com saúde bucal?
José Carlos Moreira – Existem muitos fatores que levam uma pessoa a perder os dentes ou a deixá-los em estados de má conservação. Antigamente se tinha a cultura de que, doeu o dente é só arrancando para a dor passar. Por muitos anos essa era a forma de se tratar a dor de dente o que fez com que muitas pessoas novas, de 20 e poucos anos, já não tinha a maioria dos dentes da boca. Mas isso mudou, o principal fator é a falta de informação, a prevenção e a questão financeira também. Muitos até gostariam de se submeter a uma tratamento dentário, mas não consegue devido aos preços que ainda são altos no Brasil. Segundo pesquisas da categoria, apenas 2% da população tem condições de frequentar consultório odontológico particular.
(En)Cena – Você acha que falta informação sobre o assunto?
José Carlos Moreira – Nos últimos ano a informação tem chegado às pessoas. Melhorou muito de uns 20 anos para cá. Os estudos na área da odontologia cresceram, a tecnologia é uma aliada nos tratamentos bucais e isso vem ajudado muito a vida das pessoas. Existem também programas odontológicos público, criado pelo governo, nas especialidades de tratamento de canal, de periodontia (gengiva), EXO de sisos, confecções de próteses (dentaduras), etc. Outra coisa que chama muita atenção é o mito de que tratamento dentário é doloroso, o que afasta o paciente de procurar ajuda no início de um problema dentário. Mas atualmente os tratamentos são mais rápidos e indolores.
(En)Cena – A articulação das palavras pode ficar prejudicada pela falta de cuidado com a saúde bucal?
José Carlos Moreira – Pode e fica. Falta de cuidado com a saúde bucal leva a perda dos dentes e esta falta prejudica o pronunciamento das palavras.
(En)Cena – Na sua opinião uma pessoa com problemas bucais é naturalmente excluída de alguns grupos sociais?
José Carlos Moreira – O sorriso, em nossa sociedade, tem conotações bastante significativas. Um sorriso bonito demonstra bem-estar, alegria, segurança, autossatisfação, satisfação em relação ao outro, boa acolhida à aproximação. É comum a gente ouvir que “os dentes são o cartão de visitas das pessoas”. E é verdade, quando nos aproximamos de alguém seja pra cumprimentá-la, para pedir alguma informação, temos que abrir a boca. Segundo o Professor da USP-SP Cesário Antônio Duarte, o sorriso pode ser imperceptível para quem o dá e inesquecível para quem o recebe. Os dentes complementam a personalidade e a boa aparência é elemento facilitador para as trocas sociais. Ninguém quer beijar um desdentado. Ninguém concebe a ideia de namorar um desdentado. Os dentes enfeitam a fisionomia da pessoa.“Ficar sem os dentes parece levar a comportamentos infantis. O paciente fica desamparado, silencioso, tenso e até imóvel; toda a sua expressão parece pedir desculpas por não ter dentes. Quando a prótese é colocada, o paciente readquire confiança, parece renascer. Na hora de arrumar um emprego é a mesma coisa. Uma pessoa com dentes aparentemente bons, com certeza será melhor avaliada numa disputa por uma vaga de emprego em comparação com uma outra pessoa com a mesma formação, mas apresenta os dentes deteriorados ou sem dentes. Dentre os sujeitos que se manifestaram sobre a influência da perda dos dentes na vida, 90% afirmaram que houve algum tipo de alteração nos relacionamentos.
(En)Cena – Entre as crianças também existe uma seleção natural por conta da estética bucal?
José Carlos Moreira – Assim como os adultos, as crianças também tende a fazer essa seleção natural por aqueles que apresentam, por exemplo, um sorriso bonito. É comum a gente ver em propagandas, na televisão as crianças felizes e sempre com um sorriso bonito. Esta é a nossa cultura, e realmente é mais agradável ver uma pessoa com um sorriso branco, bonito do que ver uma pessoa sem dente. Sorriso de gengiva, como nós falamos, é bonito só em bebês. Então uma criança que já apresenta, por exemplo, os dentinhos pretos, “estragados”, como falam popularmente e vai ser ter sua saúde bucal prejudicada. Por isso que a gente sempre lembra, a higiene bucal tem que ser desde bebezinho, quando a criança se alimenta só do leite materno e não tem dente, a boquinha precisa ser limpa. Os pais precisam ensinar, e muitas vezes fazer marcação cerrada para que as crianças escovem os dentes depois das refeições e antes de dormir. É criando este hábito que vamos ter adultos com uma saúde bucal melhor.
(En)Cena – Com base na sua experiência, é possível afirmar que um paciente que faz um tratamento bucal recupera sua autoestima sozinho, ou é preciso um acompanhamento de um especialista?
José Carlos Moreira – Muitas pessoas sofrem em silêncio com problemas relacionados aos seus dentes. Tristeza e principalmente insegurança nas mais simples ações do dia a dia angustiam pessoas que não conseguem ter acesso a um tratamento. A harmonia no sorriso traz muito benefícios e arrisco dizer que abre muitas portas, principalmente no universo corporativo. Os odontologistas devem estar atentos aos pacientes que alertam para questões emocionais relacionadas às alterações na estética bucal. E é isso que procuramos fazer. Durante o tratamento a gente conversa com o paciente, explica as alterações, tenta diminuir a ansiedade e fica atento as manifestações do paciente. Com o tratamento bucal, na maioria das vezes, o paciente recupera sua autoestima sem a necessidade de outra especialista. O paciente com autoestima em baixa, quando coloca uma prótese dentária, por exemplo, a mudança é visível e imediata. No entanto, há casos de que precisamos orientar o paciente a procurar ajuda de outros profissionais, como fonoaudióloga e até mesmo o psicólogo.