Em entrevista ao Portal (En)Cena, a Psicóloga Michelle Sales Zukowski, que é bacharel em Psicologia pelo Ceulp/Ulbra e cursa especialização em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar na UNB, clarifica seu posicionamento quanto aos desafios e conquistas das mulheres em relação à Psicologia.
Atualmente, Michelle atua na área da psicologia da educação realizando palestras e treinamentos sobre o assunto.
(En)Cena – Qual a sua avaliação da integração da mulher no cotidiano da psicologia?
Michelle Zukowski – Creio que hoje podemos falar que a psicologia é uma profissão solidificada por mulheres. Não sei ao certo qual o motivo que leva grande parte das pessoas inseridas nessa profissão serem mulheres, mas sei o quanto essa profissão faz diferença na vida das mulheres. Podemos observar facilmente a diferença da mulher que entra no curso para a que sai. O conhecimento obtido, o entendimento do eu-outro, a aceitação incondicional entre outros fatores, com certeza geram um empoderamento físico, psicológico e social em cada mulher que tem contato com a psicologia. Seja esse contato durante a formação profissional ou durante a atuação de alguma profissional.
(En)Cena – A psicologia ainda tem poucas mulheres teóricas. Que mudanças poderiam ser feitas para alterar esse quadro?
Michelle Zukowski – Acredito que as mudanças já estão sendo feitas. Cada vez mais vemos mais mulheres se formando em psicologia, se envolvendo com pesquisas, escrevendo livros e crescendo em teorias dentro e fora do país. Até grande parte do grupo docente do CEULP é feito por mulheres. O curso é coordenado por mulheres. E isso é um grande avanço dentro de uma ciência fundada por homens. Vejo que a tendência hoje é continuar crescendo o nome de mulheres com novas teorias, ou reformulando teorias, na psicologia.
(En)Cena – Quais são seus principais desafios na atuação profissional? E as conquistas?
Michelle Zukowski – Infelizmente meu maior desafio muitas vezes é ser levada a sério. Sou mulher, com 22 anos, com cara de 17 e recém formada. Houve uma situação em particular que precisei me dirigir a certo estabelecimento para resolver uma questão de trabalho. Era uma empresa de engenharia. Me atenderam como se eu não tivesse credibilidade e falaram para fazer uma determinada solicitação por e-mail. Meu pai quis me ajudar. Foi lá, se apresentou como também engenheiro que é, homem, mais velho e na mesma hora enviaram o que me mandaram solicitar, para o e-mail dele. Fui como psicóloga, me apresentei como psicóloga, porém não fui tratada como uma. Outras vezes em atendimentos e palestras ouvi sentenças como “nossa você tem cara de novinha hein?” e isso fazia, ainda faz, eu me sentir pressionada a não apenas fazer meu natural trabalho, mas surpreender e mostrar que sou tão capaz como qualquer outro de ser boa no que faço. Felizmente, cada vez que me senti insegura por comentários ou olhares, me motivei com eles e dei a volta por cima. Recebi reconhecimentos que nunca imaginei receber. Mas sei que recebi dúvidas que nunca deveria ter recebido apenas por ser mulher e nova. Apesar de levar isso como motivação para ser melhor, isso me incomoda. E é aquele ditado popular, a gente ri para não chorar.
(En)Cena – O que você tem a dizer para as mulheres que precisam ser empoderadas para ampliar suas perspectivas profissionais e de vida?
Michelle Zukowski – Não deixe alguém, ou a pressão social, estigmas, ou qualquer coisa ditar a sua vida. Você consegue ser quem você quiser e o que você quiser. Dê o tempo ao tempo, se explore, se conheça e não se limite por nada ou ninguém. E não desista! Estude, pesquise, sonhe, viva e reviva. Não negue experiências novas, porquê podem ser elas que te promovam as maiores descobertas sobre você. Obviamente tudo que falei aqui está ligado diretamente a experiências pessoais minhas. Você pode pensar “e tudo deu certo para você?”, talvez sim, talvez não. Mas tudo foram experiências me que fizeram a mulher empoderada e feliz com quem eu sou hoje.
Encena – Como se deu a sua inserção no ramo educacional dentro da psicologia?
(En)Cena – Costumo dizer que não fui eu que escolhi a educação, mas ela que me escolheu e eu aceitei! Experiências diretas com o professor Pierre Brandão, meu orientador do PROICT e do TCC, e com a professora Fabiana Curado, mentora e supervisora na educação, foram essenciais para essa atuação. Coincidentemente ou providencialmente ambos me incentivaram à pesquisa, escrita científica, TCC e atuação na educação. Hoje participo de palestras e treinamentos em instituições de ensino com temas relacionados a educação, como bullying, tema principal da minha pesquisa e dificuldades de aprendizagem. Também realizo uma especialização pela UNB em Desenvolvimento, Educação e Inclusão Escolar, que novamente foi ou uma coincidência ou providência, mas aqui estou eu me descobrindo cada dia mais na psicologia da educação!
(En)Cena – O que o desenvolvimento de pesquisas científicas durante a graduação está te proporcionando agora no mercado de trabalho?
Michelle Zukowski – Falar tudo, seria clichê? – Risos – Minhas maiores experiências profissionais hoje, as que mais me agradam e fortalecem eu com certeza devo a pesquisa científica. Através dos meus 3 anos e meio envolvida com pesquisas obtive 3 trabalhos premiados, 5 artigos em anais de eventos, diversas palestras e a participação em um artigo que foi publicado em uma revista de destaque. E também ao passar um ano na monitoria. Meu crescimento pessoal e profissional na pesquisa fez e faz toda a diferença na minha postura e atuação como psicóloga. Tive experiências maravilhosas, gratificantes e que me proporcionaram um olhar diferenciado em diversas situações. Me sinto extremamente privilegiada e honrada por ter tido essa oportunidade. Aconselho a todos a participarem de pesquisas científicas, pois é legal estudar teorias, mas vivenciá-las e até testá-las é uma emoção sem igual.