Psicólogo recém-formado pelo CEULP/ULBRA, piauiense de 22 anos, no Tocantins há 5 anos, Tássio de Oliveira recebeu o Portal (En)Cena para falar sobre o trabalho em Saúde Mental desenvolvido junto às comunidades indígenas no Estado do Tocantins, além de responder a questões ligadas a arte e outras formas de expressão e suas implicações.
Tássio de Oliveria em suas atividades. Foto: Rodrigo Gomes
(En)Cena – Sobre a Saúde Mental e a forma de enxergar e lidar com as questões contemporâneas dessa atividade, porque você buscou essa área e também quais suas impressões sobre o serviço em saúde mental hoje?
Tássio de Oliveira – Acredito que a idéia que se tem hoje em Saúde Mental, motiva não só a mim, mas a muita gente que aposta em uma idéia de que é possível tratar a pessoa com transtorno psicossocial sem necessariamente tirá-la do convívio com outras pessoas. Acho que isto é o principal atrativo hoje.
(En)Cena – Sobre os CAPS e essa nova abordagem como você enxerga a trajetória e a situação atual do serviço em Saúde Mental?
Tássio de Oliveira – Eu acho que o CAPS tá se tornando conhecido como um ‘novo lugar de louco’ mas o mais importante é que ele não está se tornando um ‘depositário de pessoas’ que é como ficaram tachados os asilos e outras instituições ligadas a Saúde Mental em outros cenários e épocas. É uma outra mentalidade que traz também uma outra forma de trabalhar, está sujeita ao mesmo processo mas traz algo diferente.
(En)Cena – Tássio, o trabalho de atenção em saúde mental voltado ao indígena mostraria algumas destas diferenças?
Tássio de Oliveira – As diferenças se dão na forma de trabalhar os elementos culturais. Deve-se respeitar o contexto de cada tribo, os costumes. Nas aldeias se verificam dificuldades da equipe realizar procedimentos de imunização por exemplo, ou de exames em pacientes do sexo feminino, o que tem de ser compreendido. A grande dificuldade talvez resida em ligar com outros problemas como, por exemplo, o consumo de álcool cada vez maior. Mas o conceito é o mesmo, cada indivíduo tem sua trajetória.
(En)Cena – Para você o que é trabalhar com saúde mental?
Tássio de Oliveira – Trabalhar Saúde Mental para mim é um movimento dialético de construção e desconstrução. É buscar formas de se expressar, é compreender que a figura do louco durante muito tempo foi o extremo da diferença e também durante anos foi alvo de discriminação e dizer para o mundo que as pessoas têm de começar a aceitar a convivência com pessoas com transtornos e admitir estas especificidades é que valoriza e compõe este trabalho.
(En)Cena – E o que te move dentro desse processo de construção e desconstrução?
Tássio de Oliveira – Para mim não importa onde estamos, seja em um serviço ligado diretamente a Saúde Mental ou em outro setor da sociedade, todos temos um compromisso com a sociedade em buscar transformar a realidade a partir de sua atuação, então buscar essa relação é algo que vem a partir deste pensamento.
(En)Cena – E o que você colocaria em evidência, literalmente em cena, hoje sobre Saúde Mental?
Tássio de Oliveira – Para mim as aproximações dos mecanismos culturais, políticos e artísticos da proposta que existe hoje para a condução da discussão sobre Saúde Mental, tudo pode ser entendido como maneiras de expressão e apreensão. Então considero que toda a proposta que agregue isto é bem-vinda e deve ser entendida não só como alegoria, mas como algo fundamental