Resistência, coragem e amor

Particularmente em relação ao idoso percebo maior gravidade (dos desafios de saúde mental na pandemia), pois nem todos tem o privilégio de ter uma família que cuida e proporciona conforto nesse momento, em que os idosos obrigatoriamente ficam reclusos e mesmo assim, muitos são alvo fácil do vírus, pois nem todos têm a preocupação em mantê-los em segurança”.

O Portal (En)Cena entrevista a diretora de Recursos Humanos do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, estudante de psicologia do Ceulp/Ulbra, Osmarina Rodrigues Andrade, para entender sua perspectiva acerca dos desafios que o Brasil da pandemia impõem à  mulher idosa, profissional e líder de equipe, esposa, mãe e cuidadora da irmã super idosa de 88 anos.

Em sua fala, Osmarina Rodrigues Andrade indica a interconexão entre os saberes e os desafios dos vários papéis exercidos por enquanto mulher, profissional, idosa e cuidadora durante a pandemia. Segundo ela, as tarefas se completam e se apoiam pois “ser mulher é resistir com coragem e sobretudo amor”.  Em seguida, a entrevistada aponta sua visão de idosa e cuidadora de idosos, acerca dos efeitos da pandemia na saúde mental das pessoas nessa faixa etária e indica a importância da presença da família e da garantia de condições para que mesmo recluso, durante a pandemia, a pessoa idosa se mantenha ativa. Como Diretora de Recursos Humanos responsável por cerca de 500 servidores públicos, Osmaria Rodrigues entende ser possível e necessário pensar em produtividade, mesmo ante a calamidade, contudo aponta a importância de que sejam criados indicadores assertivos para a apuração dos resultados dos profissionais, além de adaptar a pesquisa de clima organizacional para a nova realidade e colher subsídios para o desenvolvimento de programas que mantenham a qualidade de vida dos servidores e empregados.

(En)Cena – Considerando o seu lugar de fala, mulher, mãe, avó, profissional que assume cargo de chefia de equipe e trabalha em tempo integral, cuidadora, idosa e ainda estudante de psicologia: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Osmarina Rodrigues – É interessante essa pergunta porque neste momento passa um filme na minha cabeça de todas essas vivência e experiências em diferentes papéis, mas que estão em confluência o tempo todo, porque não há como dividir.

Agora sou apenas mãe ou agora sou apenas profissional e por aí vai. Uma experiência serve de âncora para outra, não sei se posso dizer assim, mas, é assim que sinto. O fato de ser mãe e avó muitas vezes traz compreensão e ternura em momentos em que outros papéis estão em evidência, no ambiente de trabalho por exemplo, onde lido principalmente com questões relacionadas à vida de outros profissionais. A idade é um marcador do tempo que se refere a nossa primeira casa, o nosso corpo, que na minha crença abriga o ser imortal, o espírito. Então ser idosa para mim é compreender que o meu corpo precisa de cuidados constantes nesse processo natural de envelhecimento. Processo que só percebo e sempre levo um susto, quando me vejo no espelho.  Por isso continuo a estudar, trabalhar, cantar e muitas outras coisas para vencer as minhas dificuldades que também são muitas. A psicologia me possibilita compreender melhor o ser humano em toda a sua grandeza e complexidade, me permitindo enxergar que somos únicos, embora com semelhanças. Isso me faz a cada dia respeitar mais o outro em suas diferenças. Então para mim ser mulher no Brasil em tempos de pandemia é cuidar de si mesma e dos que estão sob sua responsabilidade é também, ter o direito de decidir o que fazer, o que expressar, é enfim não se submeter à violência, seja ela de que natureza for, nem tampouco ao preconceito que infelizmente ainda permanece. A pandemia da COVID 19 impôs uma reclusão física obrigando a convivência de pessoas por longos períodos e aflorando divergências que antes eram amenizadas nas conversas no ambiente de trabalho, nos happy our entre colegas, nos templos religiosos…e talvez por isso, a voz soou mais alta para evidenciar as dores de quem vive a margem e sem voz. Ser mulher é resistir com coragem e sobretudo amor.

Fonte: encurtador.com.br/qBOT9

(En)Cena – Como pessoa idosa e como cuidadora de idosos, como você percebe os efeitos da pandemia na saúde mental dos idosos?

Osmarina Rodrigues – É inegável os efeitos da pandemia na saúde mental de qualquer pessoa em qualquer faixa etária.  Os pediatras por exemplo, aconselham aos pais redobrarem a atenção com as crianças neste período tão difícil da nossa vida.        Particularmente em relação ao idoso percebo maior gravidade, pois nem todos tem o privilégio de ter uma família que cuida e proporciona conforto nesse momento, em que os idosos obrigatoriamente ficam reclusos e mesmo assim, muitos são alvo fácil do vírus, pois nem todos têm a preocupação em mantê-los em segurança.  É preciso que seja proporcionado ao idoso condições para que mesmo recluso realize atividades que o mantenha ativo: leitura, atividade física, trabalhos manuais, ouvir música etc. Também, a atenção destinada ao idoso é primordial. Uma boa conversa, paciência e carinho, fazem toda a diferença.

Fonte: encurtador.com.br/xKQS0

(En)Cena – Como Diretora de Recursos Humanos do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins você tem acompanhado de perto o desenvolvimento do trabalho de mais de 500 servidores, muitos deles mulheres e cuidadoras, durante a pandemia.  Diante da sua experiência, como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres interfere na rotina de casa e do trabalho?

Osmarina Rodrigues – A pandemia deixou tudo revirado em nossas vidas. Trouxe medo, insegurança, perdas.  A frase que mais ouço e repito é: quando tudo isto vai passar? Essa incerteza afeta a todos nós. Mas tenho percebido um movimento de aproximação nessa distância física, por parte de nós servidores. Uma necessidade de acolhimento bem maior. Recebo ligações constantes, por diversos motivos, dos servidores e sinto na maioria das vezes uma amorosidade na fala das pessoas. Externamos com mais facilidade nossos medos, nossas dificuldades e isto nos ajuda a nos mantermos bem mentalmente. Na Instituição existe um empenho para que cuidemos da nossa saúde mental que se manifesta nos novos projetos que serão implementados.

Fonte: encurtador.com.br/ckDST

(En)Cena – Na sua opinião, quais os desafios mais importantes da mulher trabalhadora durante a pandemia? E como os departamentos de gestão de pessoas das empresas e das instituições públicas podem colaborar para minimizar as dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras?

Osmarina Rodrigues – O maior desafio na minha opinião é compreender esse processo de mudança na pandemia. Não sabemos até quando vai perdurar. Estamos passando por ondas, variantes, cepas diferentes. São termos que escutamos a todo instante e que nos mostram que ainda não é o momento de relaxar os cuidados. Penso que uma decisão muito importante já foi tomada. A maioria das pessoas, cuja profissão se encaixa na modalidade home office estão trabalhando de casa. Existe uma flexibilidade maior para o desenvolvimento do trabalho. Mas, vejo como grande necessidade compreender os limites para o trabalho remoto. Não fazia parte da nossa realidade e talvez por isso, tenhamos dificuldade de estabelecer limites. Uma preocupação é adaptar a pesquisa de clima organizacional para essa nova realidade e colher subsídios para que desenvolvamos programas que mantenham a qualidade de vida dos servidores.

Fonte: encurtador.com.br/jwMR1

(En)Cena – É possível falar em mensuração da produtividade dos trabalhadores, durante a pandemia? Como fazer isso?

Osmarina Rodrigues – Considero não só possível como necessário. Aliás é uma exigência para a implantação do trabalho remoto. Sabe-se que o um dos critérios para o trabalho remoto é o aumento da produtividade em mais ou menos 30%, e que os processos destinados aos servidores em trabalho remoto, sejam também os mais complexos.  O que é necessário é que se estabeleça as métricas adequadas para medir o desempenho, considerando quais resultados a Instituição propõem alcançar, tendo preocupação com a saúde física e mental dos servidores e consequentemente com a qualidade de vida de todos nós.

(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Osmarina Rodrigues – Acredito que precisamos nos manter abertas para compreender as mudanças e acreditar sempre no ser humano. Penso na poesia de Cora Coralina que me inspira sempre.

“Penso no que faço com fé, faço o que devo fazer com amor.

Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.

Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar,

Ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri no caminho incerto da vida,

Que o mais importante é o decidir.” Cora Coralina

Fonte: encurtador.com.br/dnqxG