A pluralidade de possibilidades de compreender, no entanto, não nos garante avanços quando o assunto é escola, educação, ensino, aprendizagem; pois se pode verificar que enquanto muitas áreas do conhecimento têm investimentos e avanços significativos, enquanto muitas áreas do conhecimento aliam teoria, tecnologia e transformação; a educação, ou mais precisamente, a escola, quando discutida acolhe desabafos com devaneios esperançosos e teorias vagas de desenvolvimento.
Há um discurso acadêmico gradativamente produzido com o sentido de identificar historicamente as influências da forma como interesses políticos e econômicos interferem e mantêm o contexto sócio-educacional. Não a despeito da importância fundamental deste discurso, pergunto-me qual seria a validade deste conhecimento enquanto fundamento para que contradições e desafios estejam colocados para mobilizar a transformação deste mesmo contexto?
Quais critérios temos para saber se a crítica ao modelo estéril não é mero discurso estéril? Que critérios temos para saber se a produção de nossos saberes não são apenas reprodução e manutenção de discurso sobre a contra corrente, porém, ineficazes? Que critérios construímos em nossos saberes que nos mostram a aliança entre os nossos saberes e as nossas práticas? Por que quando a pauta é educação patinamos em subjetividades, diversidades e ambiguidades?
Neste sentido, devo supor como um dos desafios atuais de nossa escola a eficácia do conhecimento produzido sobre a escola enquanto local de transformação da realidade. Se considerarmos que a escola é um conjunto de fazeres, é a própria encarnação da dialética pela prática dos que nela convivem, podemos considerar que, de fato, o como fazer (a partir do que já se faz) não tem sido objetiva nem suficientemente problematizado.
Independente, porém, das inúmeras negligências esquecidas no contexto escolar, a rede de influências e interesses político-econômicos de nossa época continuará a se exercer a partir da manipulação de recursos, a partir de estratégias de intervenção verticais, pela qualidade da formação oferecida ao profissional da educação, e pelos resultados que se quer produzir quando este contexto é tema na boca de teóricos que se especializam, chegam ao doutorado, vivem e morrem, e nada fazem além de graduar suas próprias vaidades.
Reproduzir que a realidade enfrentada na escola pública continua com condições precárias de trabalho, estrutura sucateada, tecnologia desatualizada, baixo envolvimento dos alunos, vínculo frágil com os familiares dos alunos, professores mal remunerados, formações inadequadas e obsoletas, não servem mais à bandeira do desafio quando todas estas questões são problematizadas, pois como qualquer jargão que se repete exaustivamente, ficamos alienados pela falta de gravidade e pelo descaso.
Certamente não há apenas meia dúzia de motivos para se negligenciar um dos locais fundamentais de construção do homem enquanto indivíduo social, e certamente também os mesmos motivos devem estar relacionados, mesmo que não saibamos, ao controle e a manipulação que se exerce quando “as psicologias escolares e dos desenvolvimentos” entram no contexto educacional problematizando subjetividades, diversidades, teorias mentalistas vagas do desenvolvimento e ainda aspiram a promoção de discurso político e transformador.
A discussão e o discurso que nos ensina a nos apropriar do “como fazer” e que nos faz ficar sensíveis às consequências tanto de nosso fazer, como das consequências veladas de discursos manipuladores ainda não estão claramente compreendidas em nossa prática educacional nem em nossa pauta acadêmica. Enquanto continuarmos replicando ou reproduzindo a maior parte do conhecimento que está disponível continuaremos falando da laranjeiras sem saber fazer suco de laranja.