A importância da socialização para o desenvolvimento na infância e adolescência

O ser humano é um ser que está em constante mudança em todos seus aspectos, tanto no desenvolvimento físico, cognitivo quanto no psicossocial. Com isso, essas transformações ao longo do tempo constroem a sua personalidade e sua formação enquanto indivíduo. O contrário disso, afetaria este em algumas de suas habilidades, e não sendo trabalhada a tempo e de forma tecnicamente adequada, poderia acarretar em prejuízos significativos no desenvolvimento do ciclo de vida do sujeito.

Os estudos acerca do desenvolvimento da vida humana torna-se cada vez mais presente em diversas áreas: “incluem psicologia, psiquiatria, sociologia, antropologia, biologia, genética, ciência da família, estudos interdisciplinar sobre relações familiares, educação, história e medicina” (PAPALIA & FELDMAN, 2013, p.37). E muitos dos estudos atuais são dedicados a compreender a evolução dos indivíduos no contexto social, bem como dos fatores que contribui estando ou não em socialização, e os agravos que podem ser elencados com a ausência dessa habilidade.

No ano 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que a COVID-19, doença causada pelo Novo Coronavírus estava se expandido e caracterizando-se como uma pandemia, que as pessoas precisavam se cuidar e um dos meios para evitar o contágio foi evitar o contato com pessoas infectadas, que levou ao surgimento de um novo comportamento, o de ficar em isolamento social. Este evento atípico e estressor fez com que as pessoas se confinassem em seus lares, aliado ao medo de contrair o vírus.

Neste cenário, a pandemia trouxe inúmeras mudanças na vida cotidiana da população de modo geral. Esse evento impactou na rotina de vida de crianças e adolescentes, devido ao fechamento de escolas, o tempo que passavam em casa dobrou, prevalecendo prejuízos aliado à perda do convívio social (FIOCRUZ, 2020). Desse modo, é fato que todas as crianças estão sujeitas as repercussões psicossociais e atrasos no desenvolvimento cognitivo no que se refere às habilidades voltadas à aprendizagem, linguagem, raciocínio, atenção e criatividade.

A ampliação das habilidades sociais pode culminar em um melhor convívio em sociedade e principalmente no ambiente escolar, contexto de convivência diária das crianças, além disso, pode contribuir para a expansão do desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial dessas crianças, mas é sabido que existem barreiras no que diz respeito à construção das relações sociais.

Durante todo o ciclo do desenvolvimento estamos inseridos em contextos que se configuram pela socialização. Logo, trabalhar questões relacionadas aos déficits, potencializando maneiras de enfrentamento com o intuito de reduzir possíveis problemas, justifica a respectiva intervenção. Podendo assim, o quanto antes, intervir de forma pontual para evitar situações agravantes no futuro. 

O desenvolvimento humano é um processo que ocorre durante toda a vida, contendo processos sistemáticos de mudança e aprimoramento, de modo geral em todos os aspectos da vida humana. E durante essas fases, as habilidades individuais tornam-se presentes e o não desenvolvimento das mesmas podem trazer sérios atrasos na vida dos sujeitos.

Segundo Papalia e Feldman (2013), o ser humano possui três principais domínios/aspectos que ao longo da formação da vida são desenvolvidos, tais como: desenvolvimento físico, a evolução do corpo e do cérebro. O desenvolvimento cognitivo está relacionado a aprendizagem e por último, o desenvolvimento psicossocial que se refere às relações sociais experienciadas pelos sujeitos.

Neste contexto, após o início da pandemia do COVID-19 e com os avanços nas áreas de tecnologia, um público que chega a ser afetado diretamente devido o contágio pelo o Novo Coronavírus são as crianças, a qual ficaram por meses isolados em suas casas sem poder interagir com outras crianças e tendo que lidar com o ensino escolar no formato online, sem convívio social. E apenas no ano de 2022, ou seja, após 2 anos de pandemia as aulas presenciais voltaram de maneira gradual, sendo necessário a ressocialização. De acordo com Vygotsky (1978) em seus estudos, conclui-se que as crianças aprendem por meio da interação social, compartilhando e aperfeiçoando sua capacidade de interagir.

Os impactos que esse período de transição traz consigo é claro no cotidiano das crianças, como por exemplo insegurança e incertezas afetando especificamente no funcionamento psicológico destas crianças (MURATORI & CIACCHINI, 2020), além de fatores estressantes como tédio, agressividade, ansiedade, inquietação, entre outros.

Outro fator é a globalização da economia, percebe-se que o individualismo ganha espaço e em seguida o consumismo, gerando consequências que afetam diretamente as relações sociais, tornando-as egocêntricas e por consequência causando o distanciamento das pessoas e impossibilitando a construção das habilidades sociais, assim gerando agravamento das desigualdades sociais. Segundo Papalia e Feldman (2013) “o desenvolvimento psicossocial pode afetar o funcionamento cognitivo e físico”, ou seja, sem socialização as crianças podem ter prejuízos em ambas as áreas.

Além dos fatores ambientais que interferem no processo de construção das habilidades sociais, é necessário considerar que esse é um processo de desenvolvimento interpessoal. Mesmo na ausência de transtornos específicos associados a dificuldades de relacionamento, as crianças não desenvolvem igualmente suas diferentes habilidades sociais, nem as desempenham com igual proficiência em todas as situações. (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2005, p 52).

Por outro lado, atualmente é cada vez mais notado a presença de comportamentos considerados socialmente inadequados, independente da faixa etária e principalmente após o início da pandemia. Onde muitas das reações esperadas e apresentadas pelas crianças ao longo do período pandêmico, tais como: “dificuldades de concentração, irritabilidade, medo, inquietação, tédio, sensação de solidão, alterações no padrão de sono e alimentação” (FIOCRUZ, 2020, pág. 4), são oriundos dos prejuízos associados à educação formal e a socialização dessas crianças em pleno século XXI.

Cunha e Rodrigues (2010), reforça a importância de promover o desenvolvimento de características pessoais trazendo um cunho positivo e mais adaptativo, sendo capaz de promover a saúde psicológica através de recursos, como a resiliência. Além disso, Botvin e Griffin (2004), afirmam que as intervenções em habilidades sociais produzem além da redução de comportamentos de risco, gerando saúde física, como também fortalece o bem-estar psicológico, aumentando o autoconhecimento, autocuidado e aprendizagem.

Seguindo tal perspectiva, é necessário um olhar direcionado aos estudos acerca das habilidades sociais, em especial com as crianças, buscando intervir e proporcionar uma diminuição da frequência de comportamentos considerados inadequados e assim promover a socialização, estimulando o contato e o convívio social no meio ao qual estão inseridas. Pois, as intervenções são benéficas, principalmente para o público infanto-juvenil, trazendo resultados positivos ao desenvolvimento psicossocial, gerando uma melhora na qualidade de vida como um todo. 

REFERÊNCIAS 

BOTVIN, G. J.; GRIFFIN, K.W. Life Skills Training: Empirical Findings and Future Directions. The Journal of Primary Prevention, Cambridge, v. 25, n. 2, 2004, p. 211-232. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1023/B:JOPP.0000042391.58573.5b. Acesso em: 16 set. 2021.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional dos Psicólogos, Resolução n. º 10/05, 2005.

Conselho Nacional de Saúde (Brasil). Resolução n° 196/96. Bioética 1996, 4(2), Supl:15-25

COELHO, N.M. A utilização do lúdico pelos estagiários de psicologia da clínica escola do CEULP/ULBRA – Trabalho de Conclusão de Curso – Palmas, 2013.

CUNHA, N.; RODRIGUES, M. C. O desenvolvimento de competências psicossociais como fator de proteção ao desenvolvimento infantil. Est. Inter. Psicol., Londrina, v. 1, n. 2, p. 235- 248, jun. 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/eip/v1n2/a08.pdf. Acesso em: 20 de março de 2023.

Del Prette, Z. A. P. (2005). Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Saúde Mental e Atenção Psicossocial na COVID-19: Crianças na Pandemia COVID-19. Rio de Janeiro, 2020b. Disponível em: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-content/uploads/2020/05/crianc%CC%A7as_pandemia.pdf. Acesso em: 20 de março de 2023

Muratori, P., & Ciacchini, R. (2020). Children and the COVID-19 transition: psychological reflections and suggestions on adapting to the emergency. Clinical Neuropsychiatry, 17(2), 131-134. https://doi.org/10.36131/CN20200219

PAPALIA, D. E. e FELDMAN, R. D. (2013). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, Artmed, 12ª ed

Vygotsky, L. S. (1978). Mente na sociedade: O desenvolvimento do processo psicológico superior. Cambridge. MA: Harvard University Press.