No nosso tempo, as figuras míticas são encontradas facilmente nas imagens e comportamentos trabalhados pela mídia e pelo cinema
Os estudos arqueológicos, antropológicos e filosóficos estão propiciando que a história antiga da humanidade seja conhecida através dos mitos e imagens simbólicas e, também sua conexão com os tempos atuais.
A Escola de Psicologia Analítica de Carl G. Jung foi quem mais contribuiu para aprofundar o conhecimento e validação destes símbolos (mitos).
Os mitos são uma forma de representação de verdades profundas da mente humana, uma explicação de acontecimentos atuais através de fatos primitivos, os quais permanecem presentes, dando sentido ao cotidiano. Eles estão em todo lugar, tal como num ato religioso, na origem e formação de um povo e nos costumes. Ainda, os mitos fazem-nos pensar sobre a nossa origem como também servem de explicação para alguns acontecimentos.
Na antiguidade cada civilização possui um conjunto desses símbolos formando suas mitologias, como por exemplo, mitologia grega, mitologia romana, mitologia egípcia, mitologia nórdica, mitologia celta. Muitos desses mitos se repetem nas mitologias, com características semelhantes e nomes diferentes. “A mitologia é o sonhar coletivo dos povos”. (Boechat, 1996, p. 23)
Na história das sociedades antigas o mito reinava sem rival, era tido como verdade. O ser humano contemporâneo, mesmo enredado pela ciência e tecnologia, contribui com as tradições mitológicas e as aceita, sem grandes questionamentos, considerando que fazem parte da criação cultural. As figuras míticas se apresentam como heróis e bandidos, monstros primordiais entre outros.
No nosso tempo, as figuras míticas são encontradas facilmente nas imagens e comportamentos trabalhados pela mídia e pelo cinema. Sendo mais perceptível principalmente na sociedade norte-americana, onde as personagens das histórias em quadrinho representam nos desenhos e diálogos heróis mitológicos e/ou folclóricos, a exemplo do Superman.
OS MITOS E OS SONHOS
Segundo Jung, embora talvez não consigamos perceber, as vidas seguem os mitos. Inconscientemente reagimos a eles os quais se expressam por meio dos sonhos.
“O indivíduo pode ter a impressão de que seus sonhos são espontâneos e sem conexão. Mas o analista, ao fim de um longo período de observação, consegue constatar uma série de imagens oníricas com estrutura significativa. Se o paciente chegar a compreender o sentido de tudo isto poderá, eventualmente, mudar sua atitude para com a vida.” (Henderson; JosephL; O Homem e seus Símbolos; Carl G. Jung, 1977, 6ª edição, Editora Nova Fronteira)
Em sua obra Jung enfatiza a existência de um “inconsciente coletivo”, isto é a parte da psique que retém e transmite a herança psicológica comum da humanidade.
Esta “herança psicológica” nem sempre é compreendida. É aí a necessidade/utilidade do saber do analista/psicólogo, que deve possuir um conhecimento amplo sobre a origem e os sentidos dos símbolos, para conseguir fazer um link entre os mitos arcaicos e os sonhos dos pacientes. O mito do herói é o mais comum entre as mitologias.
Através de resultados de estudos antropológicos conseguimos perceber vários mitos da sociedade contemporânea com paralelo com as sociedades antigas. A exemplo do mito do herói que sofre provocações até alcançar sua finalidade heróica.
Os heróis da indústria cinematográfica da atualidade (Thor, Superman, Homem de Ferro, etc.) se assemelham muito aos heróis das antigas mitologias. Nos mitos os heróis passam por todo tipo de provações e intempéries para, ao final, vencer o monstro.
Para o pensamento junguiano essas provações por que passam os heróis são uma representação da sua morte simbólica para depois renascer, permitindo o contato desse herói com suas fraquezas. Assim, lhe é permitido um maior conhecimento de suas fraquezas e forças, levando-o à maturidade necessária para vencer.
Traçando-se um paralelo entre o mito do herói e do ser humano, este também necessita se autoconhecer para conseguir enfrentar suas lutas diárias da melhor maneira. Conclui-se que o conhecimento dos mitos interessa para que se possa melhor compreender o material arquetípico que deve emergir ao longo de uma análise.
Existem aqueles que procuram e buscam uma resposta, e é por esta razão que temos esta variedade de mitos, que nos auxiliam para termos uma melhor compreensão de nós mesmos. O estudo dos mitos e dos símbolos do inconsciente é, para Jung, a chave que acessa um conhecimento profundo do indivíduo, de modo a possibilitar que o analisando possa trilhar seu caminho de autocompreensão e despertar.
REFERÊNCIAS
BOECHAT, W. (org.). Mitos e Arquétipos do Homem Contemporâneo. Petrópolis, Vozes, 1996.
CRUZ, Marcelo Silvério da. Mitos – Suas origens e sua importância para o homem contemporâneo. disponível em https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwiSpf3Cpf3gAhU7GbkGHR5nDWoQFjAAegQIChAC&url=http%3A%2F%2Fwww.ecsbdefesa.com.br%2Ffts%2FMITOS.pdf&usg=AOvVaw340gCldSZmkAcNPIoHyBx5 . acesso em 09/03/2019.
HENDERSON, J.L. In: O homem e seus símbolos/ Carl G. Jung e M. L. von Franz [et al] Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977. Jung, C. G. Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.