Bauman: vida de constantes incertezas

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Fonte: www.tumblr.com

O livro Vida Líquida, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, traz provocações interessantes acerca da contemporaneidade. No capítulo 1, o autor nos fala sobre a necessidade infundada que as empresas – assim, como as pessoas também – têm de estar em constante mudança. Adotam um espírito sem constância e procuram ferozmente “motivos” nos outros para mudarem. A mesmice é vista como um erro fatal para todos os jogadores do Mundo Capitalista. A perpetuação do que é concreto agora é uma ameaça para os seres humanos dessa sociedade que visam que as raízes devem ser cortadas e trocadas por próteses que podem ser retiradas a qualquer momento sem aviso prévio, assim eliminando os “fracos” da jogatina dos “Poderosos”.

O capítulo 2 traz como assunto principal a formação dos Heróis. Há alguns séculos, os heróis eram as pessoas que tinham ideais puros e lutavam por alguma causa nobre e morriam para ajudar as minorias, além de ser quase santificados pelo povo. Na sociedade consumista, os heróis perderam sua “eternidade” e se tornaram Celebridades. Não carregam em suas falas e discursos lemas igualitários ou praticam boas ações. Apenas tem rosto bonito, estão na mídia constantemente, tem seus cabelos copiados por multidões, suas vidas são vigiadas 24hs por dia. A individualidade e a futilidade tornam-se o glamour dos heróis do século XXI. A morte por alguma causa é vista como loucura ou fanatismo.

[…] a sociedade de consumo líquido-moderna despreza os ideais do “longo prazo” e da “totalidade”.

No capítulo 3 temos como abordagem principal a formação da cultura. Na sociedade líquido-moderna não são os marcos históricos, lembranças, memórias ou glórias passadas que fazem de algo um “produto cultural”, mas seu valor no mercado. Se as pessoas querem consumir determinado lugar ou coisa, aí sim teremos um produto comerciável e não uma Utopia. São os mercados que ditam o que é “essencial” para a cultura e não o inverso. No século XXI não há espaço para valorização nacional e sequer regional. A globalização vem para derrubar barreias não só geográficas, mas ideológicas, econômicas, educacionais e até culturais. Há uma necessidade de uma “cultura global” que seja identificada como um produto pronto para consumo e preparado para ser jogado “no lixo” quando se torna obsoleto.

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Fonte: http://www.cienciahoje.org.br/revista/materia/id/834/n/lixo_eletroeletronico

Um mercado de consumo propaga a circulação rápida, a menor distância do uso ao detrito e ao depósito de lixo, e a substituição imediata dos bens que não sejam mais lucrativos”.

O capítulo 4 abre alas com o assunto construções modernas, ou seja, a vida urbana atual. Bauman nos traz vários dados que confirmam suas suposições e estudiosos que analisam a fundo esse problema que afetado toda a população do século XXI: O Medo Onipresente.

Percebemos que as arquiteturas atuais trabalham em prol do isolamento social. Não proporcionam convívio com os demais vizinhos. As residências tornaram-se fortalezas humanas e preparadas para “guerras” invisíveis e irreais. A maior guerra não se encontra nas ruas ou nos campos de concentração do século XX, mas em nossas mentes. Formos dominados pelo estado permanente de Insegurança e nosso “sensor-aranha” a todo o momento detecta algo inimigo inventado pelo Estado e o Mercado.

A vida urbana se transforma num estado de natureza caracterizado pelo domínio do terror, acompanhado pelo medo onipresente”.

Talvez seja porque as inovações tecnológicas, os governos, a mídia e o mercado produziram um ambiente em que é cada vez mais fácil “apagar, desistir, substituir”. E a velocidade com que isso ocorre é que dá à vida esse caráter inconstante. É como se cada pessoa estivesse eternamente à procura de algo que possa ser seu novo objetivo ideal (uma espécie de Santo Graal), mesmo sem compreender porque havia buscado o já ultrapassado objetivo que ainda tem em mãos. Assim, a rapidez com que as variáveis mudam é condição necessária e, quem sabe, suficiente para a sobrevivência no mundo líquido-moderno.

No capítulo 5 Zygmunt trata sobre nós Consumidores. Nesse capítulo uma nova faceta nos é apresentada. Somos apenas peças no tabuleiro dos “Poderosos Chefões” do Mercado Global. O mercado não quer satisfação plena de seus consumidores. Ele quer o contrário. Geram constantemente produtos que criem mais insatisfação em seus clientes. A insatisfação é a válvula que move o mercado atual, sem isso tudo seria perdido. Todas nossas frustrações, dores, sofrimentos podem ser “curados” num shopping center, esse que é o símbolo máximo da nossa sociedade.

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Fonte: http://www.syhus.com.br/2015/09/24/duvida-7-quantos-socios-eu-posso-ter/

A sociedade de consumo consegue tornar permanente a insatisfação”

O capítulo 6 nos traz como tema central a Educação. Na sociedade de consumo o processo educacional tornou-se tão volúvel quanto seus atores principais. Todo o conhecimento parece ter virado um “produto” assim como alimentos, roupas e sapatos. Encontramos agora a Indústria do Conhecimento, que mostra que toda informação tem prazo de validade e as pessoas necessitam sempre estarem se atualizando. Nesse ritmo o termo APRENDIZAGEM tornou-se o sinônimo de Educação. Isso causa um desconforto nos educadores, pois apresenta o conhecimento como arma principal para o jogo dos “Chefões”, entretanto o conhecimento é tão obsoleto quanto um celular do ano passado, porque já foi lançado um da nova geração. Nesse diálogo antagônico, as pessoas pisam em um campo-minado e podem ser excluídas da guerra, simplesmente porque seu conhecimento tornou-se “ultrapassado”.

Aqui a educação das universidades não condiz com o que o MERCADO quer e o diálogo torna-se cada vez mais contraditório e caminha para um rumo que pode afetar os princípios conhecidos pelos educadores e apenas satisfazer o “Chefão”.

A velocidade com que o indivíduo transita entre o amor e o desapego, entre a relevância e o descaso, entre o moderno e o ultrapassado, entre o essencial e o desnecessário provoca um aumento exponencial do lixo. Cada pessoa carrega consigo seu lixo particular, que precisa ser despejado em algum lugar. E isso acontece através da ajuda dos mais diversos meios, desde terapias e pílulas mágicas até religião e sistemas educacionais.

A vida líquida, assim como outras obras de Bauman, traz uma reflexão apoiada na revisão de alguns conceitos (como cultura, progresso, amor, medo, consumo) presentes e em constante mutação na sociedade atual. São vários livros permeados pela mesma premissa: o mundo líquido-moderno.

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Fonte: http://concurseirosbr.com/7-maneiras-simples-de-estudar-informatica-para-concursos/

A mudança educacional está se tornando cada vez mais vinculada ao discurso da eficiência, da competitividade, da efetividade de custos e da contabilidade”.

No capítulo final da obra, Bauman fecha o livro com chave de ouro falando de todos os temas anteriores juntamente com a responsabilidade do Estado em influenciar nas escolhas das pessoas.

Para Bauman, “a vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante”. Mas, parece-me que a vida sempre foi assim, uma série finita de incertezas permeada por artifícios capazes de produzir um sentimento relativo e breve de estabilidade.

As pessoas parecem querer ser enganadas. Sabem que estão sendo enganadas, mas deixam-se ser levadas pelo Mercado. Nisso entraria a ação do Estado na ajuda de “escolhas certas”, onde produtos e serviços realmente visassem a satisfação e a felicidade das pessoas e não alimentar um ciclo completamente vicioso.