Cada estágio de desenvolvimento de Erikson é marcado por um dilema social e uma tarefa a ser desenvolvida.
O artigo de Chiuzi, Peixoto e Fusari (2011) propõe um estudo comparativo entre as gerações ativas no mercado de trabalho, mais especificamente entre os 18 e 60 anos, sendo assim abrange baby boomers, geração X e Y (p.583). Frente à teoria do desenvolvimento psicossocial de Erick Erikson, os autores traçam um paralelo com as fases que cada geração está vivenciando e a realidade no mercado de trabalho, onde sua fase vai determinar o que é esperado em seu comportamento. As diferenças estão ligadas a visão de mundo, de autoridade, limites de comportamentos e valores entre outros que afetam os indivíduos diretamente e indiretamente.
“para compreender como uma geração difere da outra, é preciso que se perceba como cada uma delas forma um conjunto de crenças, valores e prioridades, ou seja, paradigmas, consequências diretas da época em que cresceram e se desenvolveram e entendê-las de um ponto de vista sociocognitivo-cultural” (CHIUZI; PEIXOTO; FUSARI, 2011, p.580)
A geração Baby Boomers se caracteriza com valores de respeito e lealdade aos direitos civis, autoridades, moralidades e pela família, pois vivenciaram contextos militares e de guerra. Estas características são carregadas para dentro do ambiente de trabalho, são trabalhadores com fortes princípios éticos, com melhores trabalhos em equipe e com respeito aos comandos e autoridades. (ABRAMS, 1970 apud CHIUZI; PEIXOTO; FUSARI, 2011, p.582) Estes buscam estabilidade financeira e segurança dentro de um emprego, optando assim por trabalhar, em sua maioria, nas empresas governamentais, não tem costume de ficar mudando de emprego.
Já a geração X vivenciou crises econômicas onde seus pais se dedicaram a trabalhar mais em detrimento da subsistência da família, vivenciaram muitos divórcios devido às longas jornadas de trabalho de seus pais, por isso buscam equilibrar o trabalho e a família. Por não querer viver o mesmo tipo de vida que seus pais tiveram, buscam uma carreira de sucesso que respeite os limites de tempo, para que assim possam desfrutar de família, filhos e amigos. Logo esta geração demanda que as organizações sejam mais flexíveis com tempo e nível de exigência no trabalho. Há recorrência de troca de emprego por mais de três vezes, sendo assim as carreiras são usadas como fonte de desenvolvimento pessoal e não de compromisso com a empresa. (CONGER, 1998 apud CHIUZI; PEIXOTO; FUSARI, 2011, p.582)
Quanto aos trabalhadores da geração Y fica a característica do imediatismo aonde querem tudo no “aqui e agora”, são impacientes por promoções, não são fiéis aos projetos da empresa, preferem trabalhar de forma informal e ter contatos de trabalho mais íntimos do que hierárquicos. (SANTANA, 2008 apud CHIUZI; PEIXOTO; FUSARI, 2011, p.582).
Cada estágio de desenvolvimento de Erikson é marcado por um dilema social e uma tarefa a ser desenvolvida. Com base no que fora discorrido no artigo, sintetizei as informações no quadro abaixo onde são demonstradas as diferenças das gerações nos contextos de trabalho.
BABY BOOMERS | X | Y |
Necessidade em passar diante seus conhecimentos, tendem a reforçar a generatividade visando à sucessão de seus trabalhadores. | Anseiam por maior comedimento entre trabalho e vida familiar. | Boa autoestima e apresenta dificuldades de relacionamento com as figuras de autoridade. |
Buscam gerir pessoas por consenso e são preocupados com o bem-estar, com a participação e a justiça para com sua equipe. | Institui um compromisso de trabalho e começa efetivamente a constituição de sua família, passando a dedicar seu tempo e energia ao estabelecimento de um projeto de vida mais produtiva, centralizando a tarefa de cuidar da próxima geração. | Tendem a ser muito curiosos, o que os faz pesquisar e buscar, por conta própria, novidades. |
Há possibilidade do movimento contrário por parte de alguns em função de sentirem-se ameaçados pelos subordinados mais jovens e, muitas vezes de outra geração, e com isso optam por não dividir seus conhecimentos com receio da perda hierárquica. | Em um cenário onde o sistema capitalista praticamente força os mais velhos a serem retirados do sistema produtivo e reforça a entrada de jovens a fim de manter a própria lógica. | Os jovens precisam conhecer e vivenciar situações e informações para poderem formar opiniões e conjunto de valores ao invés de simplesmente aceitar o que seus pais ou outros membros da sociedade acreditam e pregam. |
Erikson (1976) atribui uma falha na expansão de interesses do ego onde o indivíduo torna-se excessivamente preocupado consigo mesmo, ou ainda, sofre uma regressão e gera um sentimento de estagnação, tédio e invalidez. | Lógica capitalista também influencia o fenômeno do conflito geracional, não somente em sua essência (da diferença psicossocial), mas também em questões periféricas tais como as motivações dos mais jovens em conflito com as motivações dos mais velhos em questões de segurança, empregabilidade e questões financeiras. | Encontram-se no estágio de Identidade vs. Confusão. |
Fundamental que haja uma estimulação presente, com desafios a serem encarados, através de trabalhos criativos, atividade política ou até mesmo o simples convívio com filhos e netos, mantendo-se assim envolvidos vitalmente na sociedade. | Almejam uma carreira de sucesso, mas confiam que o empenho ao trabalho deve acatar um perímetro, demarcado pelo fato de poderem desfrutar e vivenciar o relacionamento íntimo com sua família e filhos. | Geração impaciente e pouco leal à empresa para a qual trabalha. |
Quadro elaborado a partir das informações contidas nas páginas de 584 a 589 do artigo.
REFERÊNCIA
CHIUZI, Rafael Marcus; PEIXOTO, Bruna Ribeiro Gonçalves; FUSARI, Giovanna Lorenzini. Conflito de gerações nas organizações: um fenômeno social interpretado a partir da teoria de Erik Erikson. Temas em Psicologia, São Bernardo do Campo, v. 19, n. 2, p.579-590, 2011. Cuatrimestral. Disponível em: <http://www.redalyc.org/html/5137/513751438018/>. Acesso em: 28 abr. 2018.