O sofrimento psíquico vivenciado por uma parcela significativa de mulheres, após o nascimento do bebê, que implica em transformações de natureza psicoafetiva na vida das mesmas, pode ser compreendido como a manifestação da chamada depressão pós-parto. Esse tipo de transtorno, tem sido bastante estudado, justamente por apresentar certa dificuldade, em ser de fato notificado o seu real acontecimento, incidindo em dúvidas e por vezes ainda, em intervenções inadequadas (COUTINHO; SARAIVA, 2008).
Para melhor compreensão da manifestação da depressão pós-parto, se faz necessário enfocar que esse tipo de sofrimento psíquico pode ser caracterizado, enquanto mal-estar moderno, uma espécie de transtorno reativo amplamente identificado em vários perfis humanos. Nesse sentido é imprescindível ampliar as discussões acerca do assunto, pois faz parte de um contexto atual, que por muito tempo foi sequer mencionado e precisa ser melhor estudado, principalmente pelos profissionais de saúde em geral, que atendem cotidianamente casos dessa natureza, e ainda não se sentem, em sua grande maioria, seguros em identificar a ocorrência desse transtorno, muito ainda confundido com outras transformações que podem ocorrer naturalmente no puerpério (COUTINHO; SARAIVA, 2008).
De acordo com Coutinho e Saraiva (2008), o nascimento de um bebê provoca várias transformações dentro de uma família, pois implica em alterações e novas adaptações na rotina diária, que podem está associados ao surgimento de problemas emocionais, e nesse contexto, a evolução para o sofrimento psíquico que, pode se encontrar manifesto na esfera afetiva, na dor mental, bem como na esfera física e também nas condições fisiológicas em geral.
Dessa forma, o puerpério é considerado como um período caracterizado por transformações de ordem biológica, psicológica e social, sendo a depressão pós-parto um episódio associado com o nascimento do bebê que se inicia ainda na gestação, sendo continuada após o parto. E apesar da etiologia da mesma, não ser totalmente conhecida e haver ainda discordâncias, no âmbito da literatura, são apontados critérios para sua classificação relacionados primeiramente, a fatores hormonais e fisiológicos, seguidos dos fatores sociodemográficos, e posteriormente os fatores psicossociais (ARRAIS; ARAÙJO, 2017).
De acordo com Schmidt, Piccoloto e Müller (2005), os sintomas da depressão pós-parto incluem irritabilidade, choro com frequência, sentimento de desamparo, falta de motivação, desinteresse sexual, alterações na alimentação e sono, entre sensação de incapacidade e queixas psicossomáticas. Em situações consideradas mais graves, podem se manifestar pela intensa melancolia, que pode evoluir para pensamentos delirantes, episódios psicóticos, ocasionando em alguns casos na ocorrência de abandono do bebê ou infanticídio.
Diversos fatores estão associados ao desenvolvimento da depressão pós-parto e em sua grande maioria se relaciona com o bebê, como prematuridade, intercorrências neonatais, e ainda malformações congênitas, porém ainda podem ser reconhecidos os fatores socioculturais, como decepções na vida profissional, bem como fatores físicos relacionados as alterações hormonais. Sendo recentemente identificados como também importantes, os seguintes fatores a serem considerados: a situação socioeconômica, baixa autoestima, dificuldades na relação conjugal e a gravidez não desejada (SCHIMIDT; PICCOLOTO; MÜLLER, 2005).
Segundo Schimidt, Piccoloto e Müller (2005) atualmente vem se apresentando uma associação entre a depressão pós-parto e problemas posteriores do desenvolvimento das crianças, incluindo comprometimento da saúde física, o que ocasiona numa readaptação da rotina familiar, o que pode causar sofrimento e adoecimento. Vale ressaltar que, além disso, é importante acrescentar, que os impactos dessa problemática na vida da mãe e do filho são das mais diversas e estudos apontam para interferências diretas na percepção quanto a sua função materna, ocasionando em sintomas da depressão pós-parto.
A depressão pós-parto se apresenta, antes de tudo, com a expressão de uma dor vivenciada a partir da experiência da maternidade, com isso os enfrentamentos são de natureza íntima no campo da percepção que impacta o emocional e marca o corpo e os pensamentos das mulheres a desenvolvem, mas também surgem no espaço coletivo, quando estas não são compreendidas e até julgadas. Portanto, ao olhar essa problemática é importante observar, que trata-se de um sujeito em sofrimento, que não escolhe, mas que se apresenta e que necessita ser cuidado.
Referências: