Copa do Mundo: a importância do acompanhamento psicológico no futebol

O estado emocional dos jogadores da Seleção Brasileira desde a derrota para a Croácia nos pênaltis nas quartas de final na Copa do Mundo do Catar 2022 no dia no dia 9 de dezembro tem sido repercutido nas redes sociais pelos próprios atletas e pelo povo brasileiro, ambos frustrados e com raiva do jogo que resultou no adeus ao tão sonhado Hexa. Com o aval de Tite, o Brasil é um dos países que optou por ir ao mundial sem um psicólogo na equipe.

O jogo que eliminou a seleção canarinho ocorreu em um estádio em sua maioria verde e amarelo e com tensão dos jogadores por uma decisão que deveria ser o avanço na competição. O gol do Brasil foi marcado pelo atacante Neymar Jr., que se preparou intensamente, sofreu uma lesão, se recuperou e tinha expectativas altas de conquistar o título. O empate veio em um deslize da seleção faltando poucos minutos para acabar o jogo e a derrota logo depois, nos pênaltis. Após a eliminação, o camisa 10 publicou em seu Instagram um longo texto que começava com: “estou destruído psicologicamente”.

Os outros jogadores convocados também compartilharam suas frustrações nas redes sociais, acompanhadas de afirmações como “vai doer por muito tempo”. O técnico Tite, que está no comando da seleção desde 2016 e liderou o time por duas copas, decidiu não enviar um psicólogo como parte da equipe, composta por 60 pessoas, entre os 26 atletas, e o resultado foi a imagem dos jogadores abalados psicologicamente em campo e o técnico, que até então assumiu o papel de motivador, saiu de cena logo após o jogo e os deixou no gramado. Apesar de ter tido acompanhamento psicológico antes da Copa, o treinador não avaliou como necessário e dispensou a participação de um psicólogo por considerar ser um período curto, optando por frases motivacionais no centro de treinamento, como “confiança não se pega e se solta quando quer”.

O próximo jogo da seleção, caso ganhasse, seria contra a Argentina na semifinal, time que possui acompanhamento psicológico no mundial. Recentemente, o goleiro Dibu Martínez, que defendeu pênaltis durante a competição, declarou que o acompanhamento psicológico foi determinante para ele e para o time. Ao “Jornal la Nación”, ele falou que o acompanhamento o ajudou a lidar com a pressão e ofensas. “Nas redes, encontramos pessoas que te ameaçam e te ofendem, por isso hoje é preciso ter a cabeça centrada e manter um objetivo. Hoje, é muito fácil que chegue uma mensagem que te insulta ou te discrimina. Minha cabeça está mais centrada do que nunca, ganhando ou perdendo”, declarou.

O ex-atacante Ronaldo, que vestiu por muito tempo e usava a camisa 9 quando a seleção ganhou o penta, disse que as declarações de Neymar o abalaram e o aconselharia a procurar por acompanhamento psicológico. “Quando vi a entrevista falando que estava psicologicamente destruído, aquilo partiu meu coração de uma maneira que eu também fiquei destruído psicologicamente. Queria encontrar uma forma de ajudá-lo. Essa ajuda existe hoje em dia. Na minha época era pouco falado. Aconselharia ter um acompanhamento psicológico para aguentar essa pressão que é extremamente desproporcional para o ser humano”, disse.

O acompanhamento psicológico em seleções masculinas de futebol, espaço com muitas reproduções de machismo, ainda é um tabu. Apesar disso, a Psicologia do Esporte tem ganhado força e, no Brasil, caminha para a consolidação. No mundial do Catar, além da Argentina, a Alemanha, França e Holanda também levaram psicólogos nas delegações para o acompanhamento e preparação dos jogadores na competição.

Para Singer (1993), a Psicologia do Esporte integra a investigação, a consultoria clínica, a educação e atividades práticas programadas associadas à compreensão, à explicação e à influência de comportamentos de indivíduos e de grupos que estejam envolvidos em esportes de alta competição, esporte recreativo, exercício físico e outras atividades.

Mas, o que o estado emocional relatado pelos jogadores após a derrota tem para ensinar? Sem dúvidas, fica ao time brasileiro o aprendizado da importância da saúde mental e do acompanhamento psicológico dos jogadores para que possam construir estratégias para lidar com a tolerância à frustração, a raiva, o sofrimento e, essencialmente, com a elevada pressão de um mundial em que os holofotes e expectativas estão canalizadas nos atletas. No futebol, é fundamental aprender a ganhar e perder, pois é assim que sempre funciona, não apenas em um mundial, mas em todos os jogos: quando um ganha, o outro perde.

REFERÊNCIAS 

Psicologia do Esporte: uma área emergente da Psicologia. SciELO. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/pe/a/dxqXV7GtH7zkCLkzYq7K7Wd/?lang=pt>. Acesso em: 11 de novembro de 2022.

Cox, R. H., Qiu, Y. & Liu, Z. (1993). Overview of Sport Psychology In: Handbook of Research on Sport Psychology (Singer, R; Murphy, M. & Tennant, L. K., org), cap. 1, p. 1-31.

Por Karen Keller Barra De Oliveira