Quando falamos sobre a covid-19, sabe-se que é uma infecção respiratória, ocasionada pelo coronavírus (Sars-Cov-2), com potencial grave, de alta taxa de transmissibilidade e distribuição mundial. A infecção pode mudar de casos assintomáticos e manifestações clínicas leves, para quadros moderados, graves e críticos. Algumas manifestações mentais e neurológicas podem estar constantemente relacionadas a patologia, como delírio, agitação, acidente vascular, ansiedade, depressão, dentre outros. Assim, devido todo esse contexto o Ministério da Saúde-MS, indicou algumas medidas para enfrentamento da doença, como distanciamento social, etiqueta respiratória, higienização das mãos, uso de máscaras, isolamento, quarentena, dentre outros (BRASIL, 2020a).
A disseminação do vírus teve início na China e em razão da presença do vírus daquele local, a Organização Mundial de Saúde – OMS (2020), em 30 de janeiro de 2020, declarou que o surto de novo vírus constituía-se em uma emergência de saúde pública de importância internacional. Na declaração, o Diretor Geral da OMS, disse que já existiam 7.834 casos confirmados com o coronavírus, incluindo 7.736 na China e que 170 pessoas havia falecidas com o surto naquele país. Ressaltou ainda que a única forma de acabar com o vírus, seria todos os países trabalharem de forma conjunta, com um espírito de solidariedade e cooperação (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2020).
No Brasil, em consonância com a OMS, o Ministério da Saúde, expediu a Portaria nº 188, de 03 de fevereiro de 2020, na qual declarou a Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, também em decorrência da infecção humana, pelo novo Coronavírus (BRASIL, 2020b). Em 11 de março de 2020, o Diretor-Geral da Organização Mundial de Saúde-OMS, Tedros Adhanom, mudou a classificação da doença ocasionada pelo novo coronavírus para pandemia, tendo em vista a rápida disseminação da covid-19 (UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS, 2020).
Assim deu-se origem umas das piores epidemias ocorridas em todo mundo, com inúmeros impactos em todos os setores da sociedade e repercussões alarmantes em vários países, bem como, em todas as regiões e consequentemente em estados do Brasil. De acordo com a Fundação Osvaldo Cruz – FIOCRUZ (2021), a pandemia não trouxe somente implicações de ordem biomédica e epidemiológica em nível mundial, mas também impactos sociais, políticos, culturais e históricos na história recente das epidemias. Neste contexto, além das consequências sobre os sistemas de saúde, na estabilidade econômica do país e da população, houve prejuízo ainda na saúde mental das pessoas, com temor pelo risco de adoecimento e morte, bem como no acesso a bens necessários como alimentação, medicamentos, transporte, dentre outros.
Em se tratando da questão da saúde mental, devido a pandemia da covid-19, surgiram os impactos sobre a saúde da mulher, decorrente da necessidade do isolamento social. Um estudo realizado por um pesquisador do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), no período entre maio e junho de 2020, com homens e mulheres de várias regiões do país, mostrou que mesmo antes de completar seis meses da declaração de emergência em Saúde Pública, em decorrência do Coronavírus, pelo Ministério da Saúde, as mulheres foram as mais impactadas emocionalmente, nesse período, tendo assim respondido por 40,5% dos sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse (FERREIRA, 2021).
Um dado que mereceu destaque da pesquisa, foi o fato do maior número das alterações na saúde, dos aspectos investigados, ter sido em mulheres que moram sozinhas. Para o responsável pelo estudo, esse resultado poder ser reflexo da vulnerabilidade deixada pela pandemia para esse grupo. Isso caracterizado pela falta de perspectiva e ainda incertezas quanto ao futuro, que geraram nessas mulheres sensações de desconforto, angústia, ansiedade e desamparo (FERREIRA, 2021).
Dentro desse contexto, para se somar aos demais estudos, realizou-se uma pesquisa, como atividade prática de estágio, para coletar dados referente ao impacto da saúde mental das mulheres em resposta ao isolamento social, no período da pandemia, no mês de abril/2021. A pesquisa foi realizada através de um questionário pela plataforma Google Forms, com informações sobre idade, estado civil, escolaridade, ocupação, condições gerais das participantes diante da pandemia, problemas de relacionamento, mortes de parentes e de pessoas próximas ou relevante, interferência na saúde mental, o que mais afetou, condições financeiras, dentre outros.
Das 200 (duzentas) mulheres que responderam a pesquisa, 43,5% são casadas, 37% tem pós-graduação completa, 49% foram ou tiveram pessoas próximas acometidas com a covid-19 e 64,5% sofreram interferências na sua saúde mental, em razão da pandemia. Quanto ao isolamento, 90% apresentaram ansiedade, 78% estresse, 77,5% tristeza, 72% medo, 64,5% frustração. Os pontos que mais lhe afetaram, 62,5% as incertezas da patologia, 57,5% necessidade de isolamento, 53,5% perder entes queridos e 46% sobrecarga de tarefas. Quanto à autoestima, 54% está oscilante e ainda quanto a intensidade das emoções, 42% encontra-se muito intensa.
De uma forma geral, a pesquisa demonstrou que as mulheres estão enfrentando, nesse período da pandemia, sérios impactos na saúde mental, sejam eles ansiedade, estresse, tristeza, medo ou frustrações. O processo da pandemia e isolamento social lhes afetaram em diversas áreas, como incertezas da doença, perdas, necessidade de se manter isolada e ainda na sobrecarga de tarefas, dentre outros. Percebe-se com os dados levantados, que as mulheres não tiveram respostas positivas e adaptativas à pandemia.
Independentemente da abrangência das duas pesquisas citadas e do número de mulheres alcançadas, pelos resultados obtidos, percebeu-se que a pandemia e consequentemente o isolamento social, ocasionaram grande impacto na saúde mental das mulheres, resultando assim em sérias consequências para o seu bem-estar em geral. Assim é necessário que os serviços públicos estejam preparados para enfrentar essa grande demanda e ainda os novos casos que surgirão, com destaque às mulheres.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Coronavírus – covid-19. MS, 2020. Disponível em:< https://coronavirus.saude.gov.br/>, acesso em: 02 maio 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n. 188, de 03 de fevereiro de 2020. Declara Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) em decorrência da Infecção Humana pelo Novo Coronavírus (2019-nCoV). Diário Oficial da União, ed. 24-A, seção 1, Brasília, DF, p. 1, 04 fev. 2020. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-188-de-3-de-fevereiro-de-2020-241408388>. Acesso em: 02 maio 2021.
FERREIRA, Ivanir. Mulheres foram mais afetadas emocionalmente pela pandemia. Portal da USP, 2021. Disponível em: <https://jornal.usp.br/ciencias/mulheres-foram-mais-afetadas-emocionalmente-pela-pandemia>. Acesso em: 02 maio 2021.
FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ. Impactos sociais, econômicos, culturais e políticos da pandemia. Portal FIOCRUZ, 2021. Disponível em:< https://portal.fiocruz.br/impactos-sociais-economicos-culturais-e-politicos-da-pandemia>. Acesso em: 02 maio 2021.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. OMS declara emergência de saúde pública de importância internacional por surto de novo coronavírus. PAHO.ORG, 2020. Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6100:oms-declara-emergencia-de-saude-publica-de-importancia-internacional-em-relacao-a-novo-coronavirus&Itemid=812>. Acesso em: 02 maio 2021.
UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS. Organização Mundial de Saúde declara pandemia do novo Coronavírus. UNA-SUS, 2020. Disponível em: unasus.gov.br/noticia/organizacao-mundial-de-saude-declara-pandemia-de-coronavirus#:~:text=Tedros%20Adhanom%2C%20diretor%20geral%20da,Sars-Cov-2)>. Acesso em: 02 maio 2021.