COVID-19: População Indígena em contextos excludentes

O cenário da pandemia COVID-19 exige a reorganização das formas de atenção e cuidado, pautada pela definição dos objetivos e ações prioritárias.

É realmente triste ver como as epidemias deixam cicatrizes duradouras nas comunidades, especialmente nas populações indígenas. A pandemia de Covid-19 trouxe à tona não apenas desafios de saúde imediatos, mas também ressuscitou memórias dolorosas do passado. A vulnerabilidade dessas populações a doenças infecciosas é um reflexo das disparidades históricas e sociais. É crucial aprender com essas experiências e trabalhar para fortalecer os sistemas de saúde e promover a equidade. O respeito às comunidades indígenas, suas tradições e conhecimentos é essencial para construir abordagens mais eficazes na prevenção e resposta a futuras crises de saúde. (CARDOSO, 2010.)

A população indígena durante a pandemia de Covid-19 enfrentou desafios específicos devido a fatores sociais, econômicos e de saúde que ampliaram as disparidades existentes. Aqui estão algumas das questões enfrentadas pelos povos indígenas durante a pandemia:

  • Vulnerabilidade à Infecção: Povos indígenas frequentemente vivem em comunidades remotas, com acesso limitado a serviços de saúde. Isso pode tornar difícil a detecção e o tratamento precoce da COVID-19.
  • Barreiras de Acesso à Saúde: Algumas comunidades indígenas enfrentam barreiras significativas no acesso a serviços de saúde, incluindo falta de infraestrutura, transporte precário e distâncias geográficas consideráveis até os centros de atendimento médico.
  • Condições de Saúde Pré-existentes: Algumas populações indígenas podem ter taxas mais altas de condições de saúde pré-existentes, como diabetes e doenças respiratórias, o que as torna mais vulneráveis às complicações da COVID-19.
  • Impacto Econômico: Muitas comunidades indígenas dependem de atividades econômicas específicas, como o turismo cultural, que foram drasticamente afetadas pelas restrições impostas pela pandemia. Isso pode levar a dificuldades econômicas e falta de recursos para enfrentar a crise de saúde.
  • Desigualdade Social: As disparidades sociais enfrentadas pelos povos indígenas, como o acesso limitado à educação e emprego, podem ser exacerbadas durante crises, incluindo pandemias.
  • Respeito às Práticas Culturais: É crucial respeitar as práticas culturais e os sistemas de crenças das comunidades indígenas ao implementar medidas de saúde pública. Isso inclui envolver líderes comunitários e respeitar os protocolos locais.

A colaboração efetiva entre os governos, organizações de saúde e comunidades indígenas é crucial para superar esses desafios. A abordagem sensível à cultura não apenas promove uma melhor compreensão das necessidades específicas de cada comunidade, mas também constrói confiança, o que é fundamental para o sucesso de qualquer programa de saúde pública. (VALENTE, 2017.)

A disparidade na cobertura vacinal é realmente preocupante e destaca a importância de abordar as barreiras específicas que as comunidades indígenas enfrentam. Isso inclui a criação de estratégias de vacinação que levem em consideração a logística em áreas remotas, além de esforços para combater a desinformação e promover a educação em saúde.

O fato de que apenas 48,7% da população indígena tem o esquema vacinal completo, em comparação com 74,8% entre os não-indígenas, destaca a necessidade de esforços adicionais para garantir uma distribuição equitativa das vacinas e para superar os obstáculos específicos enfrentados pelas comunidades indígenas. (FIOCRUZ, 2020.)

É particularmente preocupante que a região Norte, que abriga a maior proporção de população indígena, tenha uma cobertura vacinal ainda mais baixa, em torno de 40,3%. Isso ressalta a importância de estratégias direcionadas para melhorar a acessibilidade e a aceitação da vacinação nessas áreas.

A colaboração entre instituições de saúde, governos locais e organizações indígenas pode desempenhar um papel crucial na elaboração e implementação de estratégias eficazes para aumentar a cobertura vacinal e abordar as desigualdades na resposta à pandemia.

O conceito de “fato social total” foi introduzido por Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia. Segundo Durkheim, um “fato social total” é um fenômeno que abrange todos os aspectos da vida social e que não pode ser compreendido apenas por meio de uma análise parcial, exigindo uma abordagem holística. (ABRASCO & ABA, 2020.)

A pandemia de COVID-19 entre os povos indígenas no Brasil pode ser considerada um exemplo de “fato social total”. Isso porque a pandemia não afeta apenas a saúde física das pessoas, mas também tem implicações abrangentes em várias dimensões da vida dessas comunidades.

Frente a essa situação de extrema vulnerabilidade, os idosos foram bastante atingidos. E como os povos indígenas costumam enfatizar, a perda destes conhecedores acaba ameaçando conjuntos de saberes, que são transmitidos de geração em geração

Portanto, analisar a pandemia de COVID-19 entre os povos indígenas no Brasil como um “fato social total” requer uma abordagem que leve em consideração não apenas os aspectos de saúde, mas também os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos. Essa abordagem holística é crucial para entender a complexidade e a interconexão dos desafios enfrentados por essas comunidades durante a pandemia.

Além disso, é fundamental considerar e respeitar as práticas culturais e as perspectivas das comunidades indígenas ao desenvolver estratégias de saúde, garantindo que as intervenções sejam culturalmente sensíveis e adequadas às necessidades específicas dessas populações.

Em reconhecimento a esses problemas, medidas tomadas:

  • Evitar que pessoas infectadas, incluindo assintomáticas, entrem nas aldeias, já que tanto indígenas quanto não indígenas circulam nas aldeias e seu entorno, ampliando a possibilidade de transmissão da doença, atuação feita FUNAI. povos.
  • Os povos indígenas já são prioritários na vacinação anual contra influenza. Foi solicitado antecipação do calendário vacinal;
  • Foi solicitado implementação de ações com foco em controle e combate da COVID –19.
  • Foi afirmado a necessidade grande articulação dos funcionários SASI-SUS, junto às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, a fim de garantir acesso à informação da situação epidemiológica e das ações que estão sendo realizadas em cada local.

O reconhecimento pelo Estado Brasileiro das necessidades de saúde desses povos levou a criação do Subsistema de Atenção à Saúde Indigena (SASI-SUS) que se torna responsável pela provisão de atenção primária em territórios indígenas, representando a linha de frente de prevenção e cuidado com os doentes e, que necessita ser fortalecido para ser eficaz e eficiente.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE COLETIVA (ABRASCO) & ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA (ABA). A Covid-19 e os povos indígenas: desafios e medidas para controle do seu avanço. Nota Técnica. Rio de Janeiro, 21 mar. 2020. Disponível em: . Acesso em: 27 out. 2023.

CARDOSO, A. M. A persistência das infecções respiratórias agudas como problema de Saúde Pública. Cadernos de Saúde Pública, 26(7): 1.270-1.271, 2010.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Info Gripe. Monitoramento de casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag) notificados no Sivep Gripe. Disponível em: . Acesso em: 26 out. 2023.

Núcleo de Métodos Analíticos de Vigilância Epidemiológica do Programa de Computação

Científica, Fundação Oswaldo Cruz e Escola de Matemática Aplicada, Fundação Getúlio

Vargas; Grupo de Trabalho sobre Vulnerabilidade Sociodemográfica e Epidemiológica dos Povos Indígenas no Brasil à Pandemia de COVID-19. Risco de espalhamento da COVID-19 em populações indígenas: considerações preliminares sobre vulnerabilidade geográfica e sociodemográfica. 4o relatório – segunda edição.

https://gitlab.procc.fiocruz.br/mave/repo/-/blob/master/Relat%C3%B3rios%20t%C3%A9cnic

os%20-%20COVID-19/procc-emap-enspcovid-19-report4_20200506-indigenas.pdf(acessado em 12/11/2023).

Valente R. Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na ditadura. São Paulo: Companhia das Letras; 2017.