Explorando desafios educacionais de uma família atípica

Deborah Dias compartilha sua jornada de desafios e potencialidades na educação de filhos neurodivergentes

O (En)Cena, entrevistamos Deborah Dias, natural de Paraíso-TO, psicopedagoga, assistente terapêutica e gestora de comportamento infantil. Casada com Robson, que possui TDAH, Autismo e Altas Habilidades, ela compartilha sua experiência única. Seu filho Pedro, de 10 anos, apresenta TDAH, AH e Autismo, enquanto Alice, de 6 anos, enfrenta desafios de Autismo e TDAH. Nesta conversa, a convidada destaca sua trajetória e insights relacionados à Educação e ao processo de aprendizagem de crianças atípicas.”

Arquivo pessoal, cedido pela convidada.

(En)Cena : Deborah Quais foram os maiores desafios enfrentados ao educar seus filhos autistas?

Deborah: Quanto à educação em casa os desafios são em separar o que é natural do desenvolvimento, o que é critério diagnóstico e o que não pode ser parte do comportamento aceito em casa. Sabendo disso, cabe a nós direcioná-los com as regras da família. Quanto a educação escolar sempre foi um desafio a maior parte das escolas insiste em colocar as crianças dentro de caixas e a diferença incomoda, cada direito precisa ser lutado para ser conquistado mesmo que seja ao respeito óbvio..

(En)Cena: Como você adaptou o ambiente de aprendizagem para atender às necessidades específicas de seus filhos?

Deborah: Quando tivemos o diagnóstico da Alice iniciou-se uma busca por informação e para conhecer o que poderia propiciar o desenvolvimento de forma mais eficiente, o primeiro passo foi identificar em que momento do desenvolvimento cada criança estava independente da idade cronológica e distribuir de forma estratégica ferramentas para que possam treinar suas habilidades com o mínimo suporte possível.
No banheiro havia suporte visual com imagens lembrando-se desde abaixar a roupa até lavar a mão, disponibilizamos quadros de rotina com imagens que também propiciam segurança e ajudaram muito com o controle da rigidez, fiz um curso de gestão de comportamento para criança com deficiência e foi fundamental para poder lidar com todas as crises sem enlouquecer.

(En)Cena: Como as instituições de ensino podem ajudar a reduzir o estigma em relação ao autismo?

Deborah: A função da escola é educar não apenas na questão curricular mas também ensinar habilidades para vida, sendo o primeiro ambiente social onde as crianças podem aprender muito sobre respeito, diferença, e tanto além do que há no Mundo, informar a comunidade através da aceitação diminuindo o abismo que há na diferença.

(En)Cena: Como você lida com questões de inclusão e interação social no processo de aprendizagem?

Deborah: Por lei existem muitas questões já asseguradas mas na prática ainda existe uma falta de formação, falta de obrigação e diria até de sensibilidade. Ser diferente aparentemente é uma dor de cabeça pros gestores e muitos agem como se tivessem fazendo favores, os profissionais encaminhados para lidar com a educação especial, com crianças de vários tipos de deficiência, professores auxiliares entram muitas vezes sem nem saber qual é a particularidade daquela criança, aprendem o que conseguem sem muito incentivo e quando vão colocar em prática ainda esbarram na barreira da burocracia.

(En)Cena: Pode compartilhar algumas estratégias ou recursos que tenham sido eficazes no processo de ensino de seus filhos?

Deborah: Rotina específica oferece segurança a eles, material adaptado para a particularidade de cada um, terapias em dia e sempre repetir as avaliações de desenvolvimento para que possamos mudar as estratégias de acordo com as evoluções e regressões das crianças.

(En)Cena: De que forma os professores podem ajudar a promover a interação social entre crianças atípicas e seus colegas?

Deborah: Conhecer sobre a diferença específica de cada criança pode parecer difícil mas ensinar sobre respeito a diferença, lidar com naturalidade quando algo acontece trás a possibilidade de espelhar um comportamento adequado às crianças que educa. Existem informações sobre autismo na internet, existem cursos gratuitos em muitos lugares, a escola tem uma psicopedagoga. Existem muitos caminhos para se adequar, mas o principal é a boa vontade.

(En)Cena: Qual é o papel dos pais na colaboração com as instituições de ensino para garantir uma educação adequada para crianças autistas?

Deborah: Em rotina e tratamento adequado a criança que entregamos pra escola estará desregulada e desamparada dificultando a concentração e aprendizagem, não é clichê dizer que é um trabalho de equipe e que precisa-se de uma vila inteira.

(En)Cena: Como você equilibra as necessidades individuais de cada criança em um ambiente familiar?

Deborah: Considerar cada criança como um indivíduo único mesmo que dividam o mesmo diagnóstico é a chave para que possamos ser ferramenta pro melhor desenvolvimento deles. Os rótulos trazidos com o diagnóstico podem atrapalhar que cuidadores enxerguem o momento do desenvolvimento que cada criança está e possa ajudar a desenvolver.

(En)Cena: Quais são os maiores desafios que as crianças autistas enfrentam em um ambiente escolar tradicional?

Deborah: O sistema tradicional de ensino é ineficaz, na minha opinião, inclusive para crianças típicas, esperam que crianças estejam dentro de caixas e que sejam equiparadas por idade, sem respeitar as individualidades de cada um, modo de aprendizado, cuidados externos , enfim desconsideram os fatores ambientais e mesmo as questões relacionadas ao diagnóstico, separam aqueles diagnosticados que passam a ser “problema” das educações especiais.

(En)Cena: Quais conselhos você daria a outras famílias que estão passando pelo mesmo processo que você?

Deborah: O principal é que não vai passar , viver com a diferença é parte que iremos ser , as famílias atípicas não podem viver esperando que haja uma melhora a ponto de terem crianças que parecem típicas ( muitas vezes só pra agradar os pais) ou pode aprender a conviver com a diferença e criar estratégias para que a vida mesmo com as particularidades do diagnóstico.
Eu tento levar a vida leve, da melhor forma que conseguir, para que possa oferecer esse ambiente de paz para eles. Se nós somos a base temos que nos cuidar também para ser por mais tempo. Famoso cuidar de quem cuida.

O (En)Cena agradece a participação da Deborah, em nossa recente entrevista. Foi um prazer aprender e levar informação através de suas experiências e convicções.