Por Evelyn Dias (Acadêmica de Psicologia) – @evelynodias evelynoliveiradias@gmail.com
A gravidez é para todas as mulheres um período de grandes mudanças emocionais e físicas. No entanto, para algumas mulheres este período pode ser bem mais desafiador devido a algum transtorno mental ou do desenvolvimento.
O TEA – Transtorno do Espectro Autista, é um transtorno do neurodesenvolvimento complexo e multifatorial, e suas causas ainda não são completamente compreendidas. Conforme a CID-11, o Transtorno é caracterizado por prejuízo na interação social, comunicação e comportamento, interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados.
Estudos apontam que no mundo, 1 a cada 100 crianças tem autismo. Também mencionam que há uma proporção maior de casos entre meninos: 1 menina a cada 4 meninos. Nas mulheres, o transtorno tende a ser subdiagnosticados visto que os sintomas nelas são diferentes e, passam despercebidos pois na puberdade elas passam a praticar o “Masking”, que se trata de um comportamento de camuflagem dos sintomas, visando esconder suas dificuldades. Assim, a maior parte das mulheres costuma receber o diagnóstico de TEA quando adulta e durante ou após a maternidade.
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A maior parte das mulheres costuma receber o diagnóstico de TEA quando adulta e durante ou após a maternidade
Mulheres que estão no espectro do transtorno podem apresentar muitos complicadores no período da gravidez devido a apresentarem características como:
- Maior sensibilidade sensorial – São muito mais sensíveis a estímulos como som, cheiros, texturas, luz. As idas ao laboratório e ao médico tornam-se um grande problema, pois muitas são extremamente sensíveis ao toque e desta forma coisas como o tão sonhado momento de ultrassom para acompanhar o desenvolvimento do bebê ou as desejadas mexidas do bebê na barriga podem se tornar um pesadelo.
- Problemas em relação a mudança de rotina – Normalmente os autistas necessitam de previsibilidade no seu dia a dia e as idas constantes ao médico e laboratório, bem como os ajustes nas atividades diárias podem se tornar um incômodo;
- Incômodo com a interação social e a comunicação excessiva – Grávidas autistas podem ter dificuldades com a interação com profissionais de saúde o que gera por vezes ansiedade e pode necessitar de informações concisas e de um profissional mais atento e sensível às suas necessidades;
- Níveis altos de ansiedade e estresse – Devido ao excesso de preocupações sobre o parto, os cuidados consigo e com a criança, as mudanças na rotina ou a falta dela nos primeiros meses;
- Mudanças corporais – Podem apresentar dificuldade em aceitar e entender as mudanças que ocorrem no corpo e ter sua autoestima e autoimagem afetadas.
Além destas questões citadas acima, ainda há a presença de outros fatores de risco como: anormalidades estruturais cerebrais com diferentes causas e disfunção fisiológica e bioquímica; Epilepsia e TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Depressão, Transtornos Afetivos Bipolar, Ansiedade e transtornos somáticos.
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O uso de drogas psicotrópicas e antiepilépticas durante a gravidez está associado a desfechos adversos
Um agravante em relação às grávidas que estão no espectro é que frequentemente são tratadas com drogas psicotrópicas e antiepilépticas e o uso destes medicamentos durante a gravidez está associado a desfechos adversos, como parto prematuro e cesáreo, aumento do risco de pré-eclâmpsia, peso anormal do bebê no nascimento e má adaptação neonatal.
Precisamos lembrar que cada mulher autista é única e que o TEA se manifesta de maneiras diferentes em cada uma delas. Sendo assim, o desenvolvimento e experiências que envolvem a gravidez sofrerão influências individuais. O importante é que em sua individualidade, cada gestante obtenha atenção e apoio, bem como acesso a tratamento da saúde física e emocional garantindo o seu bem-estar e do bebê. Vale ressaltar que é de suma importância que sejam acompanhadas por profissionais de saúde que estejam atentos às necessidades específicas e que possam ajudar a promover uma gravidez mais positiva e tranquila, bem como avaliar o custo-benefício e adequação do uso de medicações psiquiátricas durante a gestação.
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O Pré-natal psicológico é uma ferramenta extremamente necessária, pois auxilia a grávida a lidar com as mudanças e desafios da gestação
O Pré-natal psicológico torna-se uma ferramenta extremamente necessária, pois auxilia a grávida a lidar com as mudanças e desafios da gestação e a entender suas particularidades como alguém que está no espectro. Ele atua de forma preventiva e visa a promoção da saúde mental materna durante toda a gestação, no pós-parto ou puerpério. Pode ser realizado de forma individual ou em encontros grupais conduzidos por um psicólogo, podendo contar com uma equipe interdisciplinar. Tem caráter psicoeducativo e psicoterapêutico e visa desenvolver juntamente a gestante recursos e estratégias para lidar com suas emoções, comportamentos e dificuldades em relação ao medo, a ansiedade, as questões sensoriais e sua comunicação, dentre outras demandas.
No Brasil, temos o projeto de lei nº 2603/2022 que institui o programa de acompanhamento pré-natal e pós-parto no caso de gestante com transtorno do espectro autista – TEA em âmbito Federal. No projeto de lei, em seu artigo 2º diz que toda gestante no transtorno do espectro autista será considerada de alto risco e será atendida pela Atenção Secundária, com vistas a reduzir a taxa de mortalidade materna e infantil facilitando o diagnóstico e acompanhamento.
Sabemos que durante o período gestacional a mulher necessita de apoio e compreensão. No caso das autistas e devido as particularidades de seu transtorno vemos que este apoio e compreensão são redobrados.
Pesquisadores tem contribuído através de seus estudos para que haja cada vez mais a adoção de políticas e práticas de saúde e assistência social, visando um maior acesso à informação e recursos que possam ajudar as mulheres grávidas que estão no espectro a vencer suas dificuldades nesta fase de suas vidas.
Referências:
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Camara.leg, 2022. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2335612. Acesso em 23 de outubro de 2023.
MULHERES AUTISTAS: GRAVIDEZ E PARTO. Instituto Inclusão Brasil, 2022. Disponível em: https://institutoinclusaobrasil.com.br/mulheres-autistas-gravidez-e-parto/#:~:text=As%20dificuldades%20com%20sensibilidade%20aumentada,indu%C3%A7%C3%A3o%20do%20trabalho%20de%20parto. Acesso em 23 de outubro de 2023.
MULHERES AUTISTAS: ELAS EXISTEM E PRECISAM DE ATENÇÃO. Instituto Singular. Org, 2023. Disponível em: https://institutosingular.org/mulheres-autistas/. Acesso em 23 de outubro de 2023.
MULHERES COM AUTISMO ESTÃO MAIS SUJEITAS A DESENVOLVER ANSIEDADE E DEPRESSÃO NA GRAVIDEZ, Academia médica.com, 2022. Disponível em: https://academiamedica.com.br/blog/mulheres-com-autismo-estao-mais-sujeitas-a-desenvolver-ansiedade-e-depressao-na-gravidez. Acesso em 23 de outubro de 2023.
GRÁVIDA E COM TEA: ATERRORIZADA COM A SENSAÇÃO DE TER ALGUÉM DENTRO DE MIM. Uol. Com, 2023. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/02/24/gravida-e-com-tea-aterrorizada-com-sensacao-de-ter-alguem-dentro-de-mim.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em 23 de outubro de 2023.
SAÚDE DA MULHER AUTISTA. Canal autismo, 2022. Disponível em: https://www.canalautismo.com.br/artigos/saude-da-mulher-autista/. Acesso em 23 de outubro de 2023.