E de tanto tentar achar sentido pra vida…

E de tanto tentar achar sentido pra vida,
o gato criou bigode
e a saia da baiana não mais sacode;
E de tanto tentar achar sentido pra vida,
a Rapunzel ficou careca
e a princesa continuou perereca;
E de tanto tentar achar sentido pra vida,
o dia virou noite e ficou escura
e a liberdade passou a se chamar loucura;
E de tanto tentar achar sentido pra vida,
o seguro morreu de velho
e as pedras de Pessoa formaram um castelo;
E de tanto tentar achar sentido pra vida,
minha avó ficou caduca
e o desprendado vovô um mestre cuca;
E de tanto tentar achar sentido pra vida,
a cabeça ganhou chapéu
pra depois virar música de Carlos Gardel;
E de tanto tentar achar sentido pra vida,
quem ousou virou um mestre,
trabalhou um bom semestre
e fez, então, algo que preste;
E de tanto tentar achar sentido pra vida,
a carruagem “aboborou”,
a cinderela se cansou
e desistiu do seu amor;
E de tanto tentar achar sentido pra vida,
as letras se juntaram,
as palavras se alinharam
e as frases se formaram;
E de tanto tentar achar sentido pra vida,
a vida criou seu próprio final,
dando à morte seu sentido,
e ao nascer seu ideal.

E mesmo concluindo que o sentido para a vida encontra-se na morte, a tememos. Tememos que a morte simbolize o fim da busca do sentido. Devíamos, ao contrário, usar dos nossos sentidos para sentirmos que na vida o que vale é a busca, como Freud já dizia sobre a insaciabilidade das pulsões…

Psicóloga formada pelo CEULP/ULBRA. Colaboradora do (En)Cena.