Escrevo a um dia do Natal. Época de colocarmos árvores falsas em nossas salas, com enfeites escandalosos e presentes embrulhados em papéis coloridos. Obviamente o Natal é mais que isso, toda a simbologia da data, sua relação com as religiões, faz desta época do ano um momento extremamente rico e estimulante. Entretanto, este texto cuidará só de uma de nossas ‘manias’ natalinas: a mania de acreditar.
Alguém mais acha que o ano só vai até o meio de novembro? Essa é a impressão que tenho já que a partir disso nós sempre falamos como se o ano em que estamos estivesse sendo extremamente inconveniente, insistindo em não acabar logo. Cada dia tem cara de contagem regressiva e os pensamentos se voltam para as férias, festas, viagens e família.
É uma época de renovação, mas também de repetição. Quantas promessas fazemos ano após ano, envolvidos e embriagados pela sensação de que a novidade do ano que vem trará também novas convicções e forças para continuar a realizar o que quer que prometamos. É nisso que acreditamos, não que ache que existe algo de errado, mas é somente a crença na crença.
A nossa necessidade de acreditar encontra nas festividades de fim de ano um terreno fértil, o ‘fechamento simbólico’ do ano, as mensagens recheadas de sentimentos de esperança e boa vontade, as músicas, os rostos complacentes, as promoções, os encontros. Parando para pensar, o Natal tem a prerrogativa de ser a época do ano em que, magicamente, nos transformamos naquilo que desejamos ser sempre. Isto é ao mesmo tempo engraçado e trágico.
Como toda comemoração, o Natal só existe porque nós nos propomos, ano após ano a repetir o mesmo ritual, o mesmo comportamento, a mesma repetição. Nós somos e temos: a mania besta de acreditar. Insano é pensar que para nós, Dezembro tenha cara de Natal, mas Março ou Julho não. Nem precisaríamos de árvores, nem presentes, nem promessas. Seriamos só nós mesmos acreditando que vale a pena desejar algo melhor.