Em nossa vida é comum enfrentarmos situações geradoras de tensões. Desde a pré-história, o ser humano entra em contanto com situações avessas, provocadoras de estresse, experiência essa que o prepara para a luta pela sobrevivência enquanto indivíduo e espécie (Aguiar, 2007).
O Ministério da Saúde, utiliza a definição de estresse como a “reação natural do organismo que ocorre quando vivenciamos situações de perigo ou ameaça” (2012, p. 01). Utilizando ainda das palavras de Aguiar (2007), “as inúmeras modificações ocorridas no processo de trabalho, interferiram progressivamente na qualidade de vida do trabalhador, bem como no papal desta vida do indivíduo, que se constitui da força de trabalho da organização” (p.11).
É possível identificar que o acervo bibliográfico que trata da questão do estresse é amplo e diversificado. No entanto, se faz necessário discussões sobre o tema, tendo em vista os índices de afastamento do trabalho, devido ao desencadeamento de transtornos onde o estresse é apontado como fator desencadeante.
Algumas definições sobre o que seria o estresse podem ser encontradas nas palavras de Silva (2010), o autor retrata cansaço demasiado e sobrecarga como termos utilizados no senso comum da população para designar o estresse. O estresse também pode ser entendido como um processo corporal, um conjunto de respostas do corpo à diversas exigências e pressões que o indivíduo em determinado momento da vida (LEVI, 1998).
De acordo com Abreu et al, (2001); Carmelo e Angerami (2004), o primeiro a usar a terminologia estresse foi Selye em 1936, para designar como um grau de desgaste total causado pela vida. Outro autor que dedicou seu tempo ao estudo do estresse foi Lipp (1994), que descreve os sintomas de estresse como ansiedade, tensão, angústia, alienação, dificuldade interpessoais entre outros. Filho e Moreira (1992), por sua vez afirma que o estresse é um “termo que compreende um conjunto de reações e estímulos que causam distúrbios no equilíbrio do organismo, frequentemente com efeitos danosos.“
É no local de trabalho que o indivíduo permanece a maior parte de seu tempo, logo é o trabalho o canal utilizado para obter a satisfação em várias necessidades, entre elas: segurança, sociais, realização, etc. Porém, nem sempre este tem o significado positivo; em algumas situações é gerador de tensão e agressão que podem, com o tempo, ocasionar doenças, principalmente de origem psicossomáticas, que geram consequências diversas como o estresse (AGUIAR, 2007). A segunda causa de afastamento do trabalho, no Brasil é uma doença ocupacional de acordo com a Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes (ABPA, 2000).
O corpo está preparado para responder aos eventos estressores que produzem as respostas físicas do organismo. O estresse produz uma interação entre o corpo e a mente gerando uma série de modificações físicas e emocionais, sendo possível observar que “sintomas como depressão, hipersensibilidade, irritabilidade, ansiedade, raiva, ira são comuns na pessoa estressada desaparecem com a redução dos níveis toleráveis de estresse, seja através de estratégias pessoais, ou via controle de estresse” (SILVA, 2010).
As primeiras pesquisas da psicologia nas questões de adoecimento causados pelo estresse laboral objetivavam através de métodos e técnicas psicológicas a definição de perfis propensos ao adoecimento. Outros autores como Jacques (2007) sugere a investigação diagnóstica que compreende:
(…) a busca de evidências epidemiológicas que revele a incidência de alguns quadros em determinadas categorias profissionais ou grupo de trabalhadores, o resgaste da história de vida de cada trabalhador e as razões que apontam para o seu adoecimento, o estudo do trabalho real, a identificação dos mediadores que permitem compreender concretamente como se dá a passagem entre a experiência vivida e o adoecimento e uma complementação com informações decorrentes de exames médicos e psicológicos (p.5).
Em 1969, Bradley já publicava artigos com utilização de técnicas de enfrentamento com proposições de medidas organizacionais referindo-se ao desgaste de trabalhadores. Os prejuízos ocasionados pelo estresse laboral possuem extensão multidimensional a medida que atinge tanto aspectos pessoais, familiares, sociais e institucionais,
Silva (s/d), traz como sugestão de intervenções criação de espaços institucionalizados livre de circulação da palavra, onde é possível a manifestação das expectativas e reflexão. Estes espaço propiciam escutas atentas que permitem “a emergência dos sofrimentos, das angustias, dos receios, dos medos, dos desafios, das engenhosidades diante das dificuldades e imprevistos frequentes, dos prazeres da superação e resolução dos problemas aparentemente insolúveis”. Outras sugestões de intervenção são: Compreensão do processo de adoecimento do trabalho e da geração de sofrimento que ele pode gerar, isso possibilita alterações no próprio trabalho e nas relações das pessoas que podem atuar tanto na prevenção, no tratamento, reabilitação e até no retorno ao trabalho.
Jacques (2007) acredita que a inserção da psicologia no campo da saúde do trabalhador lhe abre um conjunto variado de possibilidades de atuação, entre essas, o estabelecimento do nexo causal entre o trabalho e o adoecimento mental. Assim é possível utilizar-se dos diferentes campos de atuação e saberes da psicologia em prol de uma compressão do ser humano com suas complexas e diversas dimensões.
Nas palavras de Carlotto (2002), existem várias possibilidades de intervenção em diversos âmbitos. Para o autor as reflexões geradas devem visar a busca de alternativas para possíveis modificações, não só na esfera microssocial de seu trabalho e de suas relações interpessoais, mas também na ampla gama de fatores macroorganizacionais que determinam aspectos constituintes da cultura organizacional e social na qual o sujeito exerce sua atividade profissional.
REFERÊNCIAS
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CARLOTTO, Mary Sandra. Burnout e o Trabalho Docente: Considerações Sobre a Intervenção. Disponível em: http://www.saudeetrabalho.com.br/download_2/burnout-professor.pdf Acesso: 15/11/2014.
SILVA, Miryam Crisitna Mazieiro Vergueiro. Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho – Christophe Dejours. Disponível em: http://www.sampo-ipq.org/textos/curso3/aula3_2_3.pdf. Acesso em: 15/11/2014.
JACQUES, Maria da Graça. O nexo causal em saúde/doença mental no trabalho: uma demanda para a psicologia. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v19nspe/v19nspea15.pdfAcesso em: 15/11/2014.
SILVA, Alice Borges Humildes Cruz. O estresse na prática profissional do psicólogo em UTI: uma revisão de literatura. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582010000100004 Acesso em: 15/11/2014.
KRISTENSEN, Tage S. e KOMPIER, Michiel A. J. As intervenções em estresse organizacional: considerações teóricas, metodológicas e práticas. Disponível em: http://www.gestaoebt.com.br/blog/wp-content/files_mf/psicologia_stress_organizac_usp.pdfAcesso em: 15/11/2014.