Loucura, loucura: o uso insano das paródias na dança eleitoral das cadeiras

Pegue e a camisa de força, ajeite o fone de ouvido: vem muita maluquice em ritmo de musiquinha…

Com a proximidade das eleições municipais e de todo quadro cômico que se desenha durante o processo, tenho me esforçado ao máximo numa preparação psicológica e emocional à espera dos fatídicos e irreparáveis materiais publicitários desenvolvidos durante a campanha, em alguns casos, pelos próprios candidatos. Pensando bem, irreparável é pouco, a coisa chega a ser irremediável, pois algumas peças são mesmo de morrer, padecem de uma doença crônica chamada amadorismo total, uma disritmia de tudo que deveria ser assertivo para o bom tom das propagandas eleitorais.

Logo, logo as ruas serão invadidas, tomadas por carros de som, equipes vermelhas, verdes, azuis, amarelas, quase tudo muito igual e parecido, porém, com um elemento diferenciador que chama atenção não pela ausência de qualidade, mas sim pela mediocridade emprestada em alto e bom som, tom. Algo que chega cantando. Vêm aí as famosas musiquinhas pessimamente adaptadas com rimas fáceis ou falta destas na tentativa alucinada de expor o nome, número e a legenda do candidato. Tudo no ritmo de axé, axé music, sertanejo, sertanejo universitário, brega, tecnobrega, o mesmo de sempre (percebem?) reinventado com uma moléstia a mais, que é sempre a batida atual do sucesso musical “inteligentemente” escolhido para transformar-se em paródia. Prepare-se para as novas versões de “Ai, se eu te pego” e “Eu quero Tchu, quero Tcha” para falar dos valores e pontos positivos de seus candidatos. É algo triste de se ouvir, pois foge ao conceito original de um verdadeiro jingle de campanha, com todas as suas emoções, funções e obrigações de criar um elo de particularidade entre a mensagem e o candidato. As tais musiquinhas não fazem isso, quando muito caem no ridículo.

Não escondo de ninguém o meu desdém pelas frágeis e tolas paródias. Possuem letras forçadas em versos e rimas que nada oferecem de “bacana” enquanto ferramenta de publicidade. Não sou totalmente contra paródias, mas é verdade que poucas conseguem qualidade e efeito inovador, elementos essenciais numa campanha política. Por isso não cumprem o papel de jingle, no máximo ganham a simpatia e o status de musiquinhas. Somos obrigados a ouvir versões insanas de um sucesso nacional que na maioria das vezes também já cansou em sua versão original. O resultado disso tudo não é saudável, faz um estrago emocional nas pessoas cujo comportamento oscila entre os sentimentos de amor, simpatia, ódio, aversão, aceitação, reprovação e até mesmo momentos de ansiedade. É a manipulação e controle das emoções humanas da forma mais sensacionalista e cruel. Exige do sujeito que ele cante a sua própria tristeza disfarçada de alegria. Nesse tipo de mensagem, peça, ferramenta, deveria vir ao final de cada uma o famoso alerta do tipo “o ministério da saúde adverte, musiquinha de campanha do tipo paródia é prejudicial ao voto, pois é um barulho do tipo que cega a gente de raiva!”. Se você ainda não identificou o problema, vou ser mais enfático sobre o que estou falando: ninguém convence o outro tentando empurrar sequências do tipo “ eu vou votar, eu vou votar, eu vou votar, tá, tá, tá, tá, tá” ao ritmo de “Tchu, Tcha, Tacha Tchu, Tchu Tcha”.  Mas é o que ouviremos, não tenha dúvida disso.

Paralelo às musiquinhas, um off à parte: receio que nesta eleição veremos crias do Siquerido. Já parou pra pensar nos mascotes, bonecos, personagens que surgirão tendo o Siquerido como fonte de inspiração e crença máxima de que tudo nesse sentido dá certo, funciona? É o tipo de coisa que sempre surge por parte daqueles que acreditam que “de médico, louco e publicitário todo mundo tem um pouco”. Eu mesmo tenho é medo. Temo pelos tipos de personagens, desenhos ou figura (angelical ou demoníaca) que possam nascer do cruzamento entre um Siquerido de sucesso e a imaginação limitada, repetitiva de quem assume o papel de pai da coisa. O Siquerido teve sua razão e emoção de ser, nasceu de uma necessidade e tinha uma identidade única com o sujeito o qual foi inspirado; cópias, adaptações, criações bizarras, tudo que possa parecer como criativo e inovador nesse sentido vai cair no ridículo. Para estes casos, defendo um controle sério e rígido de natalidade, ou seja, sou a favor do aborto prévio de todo tipo de ideia gratuita inspirada no Siquerido para que sua criatura não venha nos matar de desgosto.

Ligando o play novamente, sou a favor do jingle suave, que emociona, pode ser em qualquer ritmo, mas que seja original, que tenha sua própria cara, alma, perfil e identidade do candidato para empatia fácil e posicionamento único na memória do eleitor. Minha experiência enquanto eleitor e cidadão exige versões menos patéticas e menos poéticas para essas adaptações.  Não entregue sua campanha para o queridinho de casa, o certinho da família, o amigo saudável. Esse tipo de negócio exige gente profissional, que vê e faz as coisas sob outra óptica. Pra você, pode parecer tudo muito doido, maluco, diferente e é exatamente isso de que precisa sua campanha: de algo inovador, maluco e gente alucinada que sabe exatamente o que é preciso fazer na disputa frenética por votos. Então, que venham as eleições, suas pérolas e ideias mirabolantes, ambulantes. Eu vou ficar sentado à beira do caminho, à espera de ver o circo passar pra visualizar o que nos traz como espetáculo gratuito na busca pelo meu, o seu, o nosso voto e nossa preciosa e sensacionalista condição de eleitor.

Publicitário. Especialista em Comunicação Empresarial e Marketing; graduado em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Ribeirão Preto, SP. Coordenador de ações e estratégias na Ellum Saúde Integrada, Espaço Combinado de Especialidades.