As tensões fazem parte do processo evolutivo do ser humano, um componente inerente à vida. Todavia, uma vez que elas se tornam frequentes e intensas, podem levar o indivíduo a um processo de adoecimento totalmente contrário ao seu progresso. E, o ambiente universitário, é um local que gera maior índice de tensão nos indivíduos participantes, não é à toa, é amostra de grupo onde percebesse maior índice no desenvolvimento de transtornos mentais. Prova disso, a OMS (2015) revela que 10% da população mundial sofre de algum transtorno psíquico, porém, quando vemos essa amostragem com estudantes universitários, mais de 40% dos jovens acadêmicos possuem algum transtorno mental Gomes & col. (2020)
Esses índices levam à seguinte reflexão: quais grandes marcadores no ambiente universitário geram essa tensão nos acadêmicos e, ocasionalmente, desenvolvimento dos transtornos psíquicos? Oliveira e Duarte (2004) se atentam ao stress gerado nas apresentações dos trabalhos universitários, e percebem que esses momentos os tornam mais vulneráveis a essa tensão devido a exposição e avaliação rígida sobre o construto de seu trabalho acadêmico. Gerando nesses universitários índices mais elevados de ansiedade e sintomas ligados a ela, até porque, a atuação do acadêmico dentro desse contexto o faz refletir diretamente no seu futuro profissional e o torna mais sensível e crítico consigo mesmo.
Tendo isso em vista, nota-se a relevância na busca de ferramentas para diminuir o nível de estresse gerado nas apresentações orais dos trabalhos acadêmicos. Uma dessas ferramentas da psicologia que podem ser utilizadas para diminuir o nível de estresse são Mindfulness e teatroterapia. Conheça abaixo sobre cada uma delas e como elas podem te ajudar:
O QUE É MINDFULNESS
Também chamada de atenção plena, tem origem no budismo. Quem trouxe o mindfulness para o Ocidente e passou a estudá-lo foi o biólogo americano Jon Kabat-Zinn (2005, n.p) , em 1979. Ele iniciou na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, um programa de redução de estresse, batizado como Mindfulness-Based Stress Reduction. O programa de Jon Kabat-Zinn é o mais conhecido, porém existem diversos outros protocolos indicados por psicólogos, psiquiatras e demais profissionais da saúde mental. Hoje o mindfulness complementa o tratamento de transtornos mentais como ansiedade generalizada e depressão, por auxiliar no manejo de problemas do dia a dia.
Mindfulness é a prática de se estar no momento presente da maneira mais consciente possível. Para Jon Kabat-Zinn “a consciência surge quando prestamos atenção, com propósito, no momento presente e sem julgamentos”. Ou seja, focar sua atenção em cada movimento, situação, respiração, e deixar de lado as distrações, pensamentos externos e sentimentos anteriores, para intencionalmente sentir, ouvir, viver plenamente a situação presente, também se trabalha a disciplina da mente com o objetivo de aumentar o foco. Com isso, aprendemos a fazer escolhas mais conscientes e funcionais, influenciando positivamente na maneira como lidamos com os desafios cotidianos.
A prática para permanecer no estado mental de atenção plena é como uma atividade física, é preciso treinar e manter uma rotina para sentir os resultados, ela pode ser exercitada em atividades simples do dia a dia, como escovar os dentes, tomar banho ou comer, esse exercício exige dedicação e autorregulação por parte de cada pessoa para se alcançar os resultados.
O QUE É TEATROTERAPIA
Na teatroterapia, o psicólogo utiliza de recursos e técnicas teatrais com fins terapêuticos, geralmente com o objetivo de se trabalhar habilidades sociais. Ele permite ao participante exercitar novos papéis, promovendo diferentes vivências e formas de ação, desenvolvendo nele habilidades de autoexpressão, espontaneidade, relacionamentos interpessoais. Auxilia ainda na resolução de conflitos internos e na aquisição de uma linguagem expressiva própria (ROCHA, 2007, pág. 25).
De acordo com Marcia Pontes Mendonça (2012), terapeuta organizacional colaboradora do site redehumanizasus.net, trata-se de uma estratégia terapêutica concebida em 1997 cuja elaboração foi baseada no Método Boal de Teatro e Terapia, no Teatro da Espontaneidade de Moreno, em princípios de Psicomotricidade e abordagens corporais como a bioenergética e o Sistema Rio Aberto, bases teórico-práticas da Terapia Ocupacional, além de ferramentas do teatro como a teatralidade, a espontaneidade e os jogos dramáticos”.(MENDONÇA, 2012, n.p)
Ainda de acordo com ela, a técnica teatral trabalha questões conflitivas presentes em desafios cotidianos, explorando as possibilidades de (re)vivências de eventos rotineiros e concedendo o poder de transformação através da (des)construção dele. Durante a terapia, “emoções emergentes são simbolicamente enfrentadas, para que sejam transpostas para a atuação na vida real” (MENDONÇA, 2012). Ou seja, o ambiente artístico de uma sala de ensaio permite que as habilidades socioemocionais sejam trabalhadas em um ambiente controlado, que não só imita a vida, mas busca relações reais entre seus participantes.
Em conclusão, aprender sobre as técnicas do psicodrama e entender a importância da teatroterapia serve como base para a futura atuação enquanto profissionais, tendo em vista os benefícios do uso das artes para a expressividade acadêmica e no contexto pessoal. A partir dos elementos supracitados é possível compreender que de modo geral a habilidade de se reconhecer enquanto pessoa e conseguir externalizar o seu “eu” real, antecede as práticas acadêmicas que exigem saber utilizar os conhecimentos adquiridos juntamente com tais habilidades, que servem como instrumento para o dia a dia, independente da sua área de atuação.
REFERÊNCIAS
GOMES, Carlos Fabiano Munir et al . Transtornos mentais comuns em estudantes universitários: abordagem epidemiológica sobre vulnerabilidades. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.), Ribeirão Preto , v. 16, n. 1, p. 1-8, mar. 2020 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762020000100009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 30 maio 2022.
ROCHA, A. Teatroterapia: O teatro como terapia social. Arquivo PDF, 2007. Disponível em: http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/T202148.pdf
MENDONÇA, M. TEATROTERAPIA RECURSO TERAPÊUTICO ALIADO À TRATAR CONFLITOS PESSOAIS E GRUPAIS. Rede Humanizasus, 2012. Disponível em: https://redehumanizasus.net/12711-teatroterapia-recurso-terapeutico-aliado-a-tratar-conflitos-pessoais-e-grupais/
Teatro, Autismo e desenvolvimento socioemocional. Clia Psicologia, [s.d]. Disponível em: https://cliapsicologia.com.br/piracicaba/teatro-terapeutico/#:~:text=Qual% 20%20 objetivo%20do%20 Teatro,nos%20 ajuda%20a%20a can%C3%A7%C3%A1%2 Dias.
CUNHA, L.; SILVA, R.; ALCÂNTARA, B. UM ESTUDO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA DINÂMICA DE GRUPO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM PROFESSORES. Revista Eletrônica, [s.d]. Disponível em: http://revistaeletronica1.hospedagemdesites.ws/revistaeletronicarh/pasta_upload/artigos/a33.pdf
BALDISSERA, O. O poder do mindfulness explicado pela neurociência. Pós Digital, 2021. Disponível em: https://posdigital.pucpr.br/blog/mindfulness-neurociencia
Pichon-Rivière: para psiquiatra e psicanalista argentino, aprender em grupo significa conviver com uma leitura criativa e crítica da realidade. Revista Educação, [s.l], Edição 243, online, 1 nov. 2017. Disponível em: https://revistaeducacao.com.br/2017/11/01/pichon-riviere-aprender-em-grupo/
MINAYO, M. C. et. al. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21. Petrópolis: Vozes, 2002. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/franciscovargas/files/2012/11/pesquisa-social.pdf
MARINHO, A. C.; TEIXEIRA, L. Medo de falar em público e timidez em universitários, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/35290#:~:text=O%20medo%20de%20falar%20em%20p%C3%BAblico%20foi%20associado%20com%20a,em%20p%C3%BAblico%20negativa%20ou%20positiva.
Autores: Ellen Chaves Silva, Gabriela da Silva Queiroz, Lucas do Nascimento da Silva, Melissa Fernandes Magalhães.