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Novo mundo, novas formas!

Há décadas, a dura realidade que se apresentava nas dependências frias e obscuras dos hospitais psiquiátricos configurava a forma como as coisas deveriam ser levadas por ali. De tão peculiar o ambiente sombrio poderia facilmente ser reconstruído, de forma perfeccionista, nas telas do cinema. Prédios altos, geralmente implantados em cenário triste, saguão inóspito com mobília antiga, funcionários e médicos rudes, além de uma administração ignorante e ausente. O tratamento era prático e rotineiro, sem muitas novidades. Aliás, quando eventualmente algum usuário surgia com novidade comportamental, aí sim, havia tratamento “especial”. Aparentemente, cidadania era algo que ficava do portão para trás. Do portão para dentro, forte enclausuramento.

Mas esse molde de concreto duro e impenetrável começa a perder a forma e a resistência. Talvez, o novo pensamento fosse uma tentativa de tratamento mais humano e individualista, onde fossem percebidas demandas e inquietações dos pacientes, bem como a resolução dos mesmos. Um dos passos mais importantes que se deu em direção a esse novo modelo foi a eliminação, de forma gradual, da internação do paciente e, conseqüentemente, buscar o fim da exclusão social desses indivíduos.

O lema agora passa a ser a integração do doente mental na comunidade a qual pertence. Claro que atenção psicossocial não foi ignorada. Pelo contrário. Ela constitui hoje uma rede forte e consolidada, composta de centros de atenção psicossocial (CAPS), cooperativas de trabalho protegido, centro de convivência e cultura assistida, dentre outras atividades. Se antes a falta de atenção era sintoma clássico, hoje doentes mentais, em sua maioria, recebem zelo e cuidado essenciais a sua integração e sobrevivência.

Hoje, tudo isso se configura em uma nova forma, nova fase, nova vida. Como exemplo, rememoro o que presenciei no dia 23 de outubro de 2011, data em que a população de Paraíso do Tocantins, cidade localizada a 60 km de Palmas, comemorou sua emancipação política, os usuários do CAPS integraram o enorme desfile de orgulho e cidadania que percorreu a avenida principal. Diante desse contexto, questiono: As práticas de exclusão social não pertencem mais ao novo mundo da pós-modernidade?

Acredito que conquista como esta representa apenas o começo. No desfile da vida, esse foi apenas mais um passo dado. Ainda é preciso percorrer outros caminhos. Faz-se necessário acompanhamento médico especializado na atenção primária, estrutura capaz de atender a todos de maneira justa e igualitária, ampliação dos mecanismos de inclusão social, dentre outros.

Mas isso é apenas um ponto de vista de um acadêmico de Jornalismo que acredita e anseia por mudanças.