Com o advento da tecnologia, foi possível obter um grande número de informações com extrema facilidade e agilidade. A rapidez na qual uma pessoa recebe alguma notícia ou notificação é absurdamente grande comparada há alguns anos atrás. Essa velocidade exacerbada está transferida também nos relacionamentos, com o surgimento dos aplicativos de paquera. Em tese eles foram criados a fim de fomentar e induzir conexões com pessoas próximas umas das outras. Contudo, acaba sendo um reforço de estereótipos sociais e exclusão de corpos já marginalizados, como pessoas negras e mulheres gordas (GOSMÃO; SANTOS; SILVA, 2020).
Esses aplicativos oferecem um design que facilita as escolhas dos seus usuários no momento em que vai decidir se quer conhecer uma pessoa ou não. Muitas vezes o que se apresenta é várias fotos da pessoa, a sua localização e a idade. Essas características já são suficientes para sustentar o padrão social do que é esperado para cada gênero, cor, e classe social, se transformando no final das contas como um reforçador de estereótipos.
Grandes partes dos matches vão para pessoas brancas, com a fisionomia jovial e apresentando ser de uma classe social acima da média. Isso representa os valores sociais e culturais de uma comunidade ou sociedade e a nossa apresenta exatamente isso. A cor que é legitimada socialmente é a branca, e a classe social valorizada é a burguesia, ou seja, aqueles acima da média e a idade que todos valorizam não é a adulta e muito menos a infância e sim a juventude, na qual a pessoa tem a maturidade de suas escolhas assim como os desejos carnais mais sensíveis de serem realizados (SOUZA, 2016).
Dessa forma, tais ferramentas tecnológicas apresentam ao mesmo tempo as classes marginalizadas, que são muitas vezes pessoas negras e mulheres gordas, com menores números de matches. Isso representa o direcionamento da atenção social para aqueles que são aceitos e lidos como indivíduos dignos de amor, atenção, respeito e valores. Ou seja, a pessoa que se encontra fora do paradigma do branco, cis, hétero, cristão e burguês muitas vezes possui dificuldade de despertar interesse em alguém. O mesmo acontece sobre o gênero, pois muitas vezes as mulheres com um perfil magro e o mais branco possível recebem mais matches (GOSMÃO; SANTOS; SILVA, 2020).
Contudo, é importante frisar que, mesmo com o reforço de padrões sociais adoecedores, os seus consumidores muitas vezes não têm a consciência exata e plena de que eles estão sendo rejeitados quando estão fora do padrão, inclusive da cor. Esse aspecto, de certa forma, interfere diretamente não só na saúde mental dos usuários, mas também na avaliação de sua autoimagem, podendo ser tendenciosamente negativa. Além disso, os aplicativo oferecem aos usuários opções de matches como uma espécie de cardápio, pois o que se foca nas características são traços físicos, e não necessariamente aspectos internos, como habilidades sociais ou emocionais (SOUZA, 2016).
REFERÊNCIAS
GOSMÃO, R. A.; SANTOS, L. C. O.; SILVA, L. S. OS IMAGINÁRIOS SOCIODISCURSIVOS E O MODO ENUNCIATIVO NOS DIÁLOGOS DE UMA MULHER NO TINDER, v. 8 n. 1 (2020): Questões de Gênero: feminismos, sexualidades e suas interfaces.
SOUZA, A. L. F. Mas, afinal, o que é o Tinder? – Um estudo sobre a percepção que os usuários têm do aplicativo. Verso e Reverso (Unisinos. Online), v. 30, p. 186-195, 2016.