Profissão de Loucos?

Discurso proferido pela Professora MSc. Jocyelma Santana em homenagem aos formandos de Comunicação Social – Jornalismo do CEULP/ULBRA em 28 de fevereiro de 2012.


Boa noite a todos!

Peço licença para começar este discurso cantando um trechinho de uma música que talvez alguns não conheçam.

“Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz”

Na voz de Ney Matogrosso ou de Rita Lee, a Balada do Louco, composta por Arnaldo Batista e Rita Lee, dos Mutantes que acabei de cantarolar o trecho final, foi gravada no ano que eu nasci. Em 1972, Balada do Louco, encantou milhares de jovens há quase 40 anos. Época em que vocês, caros formandos desta noite, em especial, os de jornalismo, eram talvez apenas projetos – se é que já eram – na vida de seus pais.

Não, não é loucura ser feliz. E não é loucura ser feliz sendo jornalista. Isto é possível sim. E é pra falar de loucura, numa profissão de loucos, que eu quero dedicar alguns minutinhos destas palavras, como paraninfa, a este grupo de queridos: Marília, Katiuscia, Simone, Rodrigo e Jurbiléia.

A loucura é parte da nossa vida. Se a gente for retroceder ao instante da fecundação, é loucura pensar que só um entre milhões de espermatozóides, sobreviverá à batalha de encontro ao óvulo para se tornar você. É loucura pensar, que num país, de 170 milhões, menos de 15% desta população esteve ou terá acesso ao ensino superior. E são várias as loucuras que estão cotidianamente com a gente.

As referencias podem ser boas ou más. Paulo, o apóstolo dos gentios, responsável pela divulgação do evangelho para àqueles que inicialmente, não teriam acesso à Jesus Cristo, escreveu aos corintos: – “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias”.

Uai, professora, mas porque falar de loucura, no discurso da formatura? Até rimou, né mesmo?

Porque na atualidade é preciso ser louco, para encarar a vida. Louco no sentido de não se conformar com a realidade. Louco, no sentido de ser incapaz de manter-se indiferente às diferenças. De aceitar as maldades, as corrupções, as mazelas, de uma vida inteira, se reproduzindo sempre.

Eu separei alguns pensamentos sobre loucura, e gostaria de aplicá-los aos futuros jornalistas. Erasmo de Rotterdam, autor de Elogio da Loucura, monge e professor, escreveu que – “A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos.” Em jornalismo, há pouco espaço para o excesso de sensatez. Se houver rios de sensatez, como alguns escândalos que mudaram a legislação do país deixariam os porões da ditadura, dos palácios de governo, das prefeituras, das assembléias legislativas e câmaras municipais para serem conhecidos? Se não houvesse um destemido jornalista, como a prostituição de meninos e meninas nas periferias de pequenas e grandes cidades, nas rodovias federais deste país, se tornaria visível a todos. Se não houvesse loucos corajosos, para gritar, como estariam as cracolândias que imperam nos mais diversos modelos, em nossas cidades?

Outro que também passeou pela loucura, com suas polêmicas, foi o autor dramaturgo, contista, romancista e jornalista irlandês, George Bernard Shaw. Ele escreveu: “Que é a vida senão uma série de loucuras inspiradas.” Com inspiração, belíssimos textos, saíram da visão louca e alargada de nossos colegas de profissão. Daqueles que investigam Siafem, Portal de Transparências, processos judiciais que correm em segredo de justiça, contas sob auditoria secreta e muito mais.

E aí, eu me arrisco a mencionar, uma outra situação que também é motivada pelo amor, que só as mães compreendem. É loucura viver mais de quarenta anos à procura de alguém, né mesmo Rodrigo?. E você percebeu isso ao conversar com Hebe Bonafini, de 83 anos, a líder das mães da praça de maio, movimento argentino, formado por mulheres que buscam informações e respostas para o desaparecimento de seus filhos no período da cruel ditadura militar na Argentina.

E eu pergunto a vocês: sem inspiração, como viver? Que loucura inspira vocês, jovens formandos desta noite? Onde querem chegar, de quem querem falar, sobre o que querem perguntar, escrever, entrevistar, representar, fazer?

É esquizofrenia, atravessar 14 horas de trabalho, todos os dias, em busca de respostas? Se multiplicar em duas ou três jornadas de trabalho? É pais, é loucura. Mas é uma loucura que significa vida, para quem escolheu esta profissão.

Sabedoria, talvez, signifique para alguns escolher uma profissão que dá dinheiro, que não exige este corre-corre todo, que vai garantir uma pressão arterial de 12 por 8 sempre. Que impeça os cabelos de branquear antes do tempo.

Esta sabedoria, eu torço, para que vocês deixem de lado!!!

Sigam em frente, busquem na Comunicação – no Jornalismo – a satisfação de fazer o que gostam. Invistam na pesquisa, se isso significar mais pra vocês. Mestrado, doutorado. Se de outro lado, quiserem cantar, aproveitem os princípios da comunicação que aprenderam nas diversas aulas, fazer sempre o melhor. Se querem trabalhar em veículos de comunicação, portais de notícias, agencias de comunicação, vão! Mas façam sempre bem!

Compreendidos ou incompreendidos, aproveitem. A vida começa em outra esfera para vocês. E nós, de cá, simbolicamente, “loucos de carteirinha”, torceremos sempre pelo sucesso de vocês!

Parabéns, pais! Parabéns, meninos! “Eu juro que é melhor, não ser um normal!”

Balada do Louco

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal

Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz