A Saúde Mental é uma área complexa e é uma teia extensa de conceitos que se entrelaçam. Amarante (2011) afirma ser um campo com saberes complexos, plurais, intersetoriais e transversais. Visto que o saber da saúde mental não está apenas na área da psiquiatria, mas em um conjunto diverso de disciplinas.
Saúde mental não é apenas psicopatologia, semiologia… Ou seja, não pode ser reduzida ao estudo e tratamento das doenças mentais… Na complexa rede de saberes que se entrecruzam na temática da saúde mental estão, além da psiquiatria, a neurologia e as neurociências, a psicologia, a psicanálise (ou as psicanálises, pois são tantas!), a fisiologia, a filosofia, a antropologia, a filologia, a sociologia, a história, a geografia (esta última nos forneceu o conceito de território, de fundamental importância para as políticas públicas). (Amarante, 2011, p.16)
A terminologia da palavra complexus é ´´aquilo que é tecido junto“. Paulo de Tarso (2012, p. 70) diz que esta complexidade é tecida por vários saberes e estão entrelaçados “entre domínios imanentes a um dado corpo, corpo biológico, corpo social, corpo psíquico, corpo emocional, dentre outros corpos em interferência”. Diante disto, se torna evidente que a saúde mental é um campo multifacetado, plural e de inúmeras trocas de saberes.
Mas nem sempre a saúde mental se interligou com essa coletividade de saberes. Inicialmente, a prática continha condutas de isolamento, exclusão e intolerância com tudo que destoasse das normativas sociais. Há pouco tempo a saúde mental ainda era interligada ao objetivo de tratar a doença mental apenas em hospícios e manicômios. A definição de normal e anormal é o mesmo que definir um local ideal para cada um. E este pensamento ainda é presente nos dia de hoje, pois é permeado de cresças de difícil desconstrução. Amarante (2011, p. 19) postula: “Qualquer espécie de categorização é acompanhada do risco de um reducionismo e de um achatamento das possibilidades da existência humana e social”.
Assim como a sociedade é plástica, o campo da saúde mental também é caracterizado por uma constante desconstrução e construção. Franco Rotelli (2007, apud AMARANTE; CRUZ, 2008, p. 37), afirma: “O ato mais importante realizado por Franco Basaglia, a ação de maior coragem científica foi a de dizer eu não sei nada sobre a loucura, eu não sei nada sobre esse homem ou esta mulher que estão à minha frente…”. Diante da fala de Amarante, vale questionar se realmente sabemos algo sobre a loucura. Quando se trata de loucura, é importante que reconheçamos o nosso “não-saber”, dando lugar a reflexão e a constante busca de um modelo de atenção psicossocial mais humanizado possível. Paulo Amarante, em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (2011), declara:
Porque temos que pensar de forma dualista, antinômica, simplificada? A natureza do campo da saúde mental vem contribuindo para que comecemos a pensar de forma diferente, não mais como este paradigma da verdade única e definitiva, mas sim em termos de complexidade de saberes, de ‘construcionismo’, de reflexidade. (Spink,2004 apud Amarante,2011, p.17 e 18)
Ou seja, quando falamos em atenção psicossocial humanizada, não nos referimos apenas às mudanças nas práticas assistenciais, mas à quebra de paradigmas de toda uma lógica cultural de olhar e compreender a loucura.
Referências:
AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho. Saúde mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.
TARSO, Paulo De. Heterogênese, Saúde Mental e Transcomposições. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2012.