Segundo Saviani (2007), há no mundo contemporâneo uma tentativa de revincular trabalho e educação, que foram separados séculos atrás quando surgiram as sociedades de classes (classe que não trabalha mas estuda na escola para saber “falar bem” e classe que trabalha e não estuda na escola, mas aprende a profissão no processo de trabalho). Na sociedade capitalista, a indústria moderna introduziu o uso de máquinas para simplificar o trabalho. Isto levou a uma diminuição de necessidade de qualificação específica, mas impôs um mínimo de qualificação geral para o trabalho com máquinas. Para as funções específicas de manutenção, reparo, etc. as empresas tinham cursos profissionais. Essa qualificação geral era exigência para todo mundo da sociedade, para poder fazer parte dessa sociedade contratual. Aí surgiu a escola dominante e generalizada e organizaram-se sistemas nacionais de ensino.
No ensino fundamental, a educação é bem básica. Aprender a ler, escrever, etc. para poder se inserir na sociedade moderna. A sociedade é, então, uma referência para a organização do ensino fundamental. A relação entre trabalho e educação ali é implícita, porque não estuda sobre o processo de produção em si, mas sim sobre o mundo em qual vive e sobre a função do trabalho. No ensino médio, a relação entre trabalho e educação é explícita, no sentido que o conhecimento é relacionado ao processo de trabalho (prática). Os alunos aprendem como a ciência e seus princípios são aplicados ao processo produtivo. Não se quer formar técnicos especializados, mas politécnicos. Entende-se por politécnicos “os que dominam os fundamentos científicos das diferentes técnicas utilizadas na produção moderna” (SAVIANI, 2007, p. 161). Esse tipo de formação é necessária para todos porque é ela que faz a união entre escola e trabalho, entre instrução intelectual e trabalho produtivo. Pois ali os alunos aprendem (através de matérias como Física, Química, Desenho Técnico, etc.) não saberes separados que não têm finalidade, mas sim conhecimentos e práticas sobre o mundo de trabalho no qual todos serão inseridos. Depois do ensino médio, o jovem tem duas opções: ou entrar no mundo formal do trabalho ou buscar uma especialização universitária no ensino superior.
Para Saviani (2007), além da politecnia, há outro elemento importante para estabelecer um vínculo entre trabalho e educação, sendo a criação de organizações culturais. Aqui podem juntar-se estudantes universitários e trabalhadores para discutirem os problemas que afetam a sociedade. Um lugar onde trabalho intelectual e trabalho material podem se encontrar.
Eu acho que faz muito sentido o que Saviani defende sobre o ensino generalista e a politecnia, mas acho que não chegamos ali ainda. Não sei suficiente sobre o sistema educacional no Brasil, mas na Bélgica, meu país de origem, eu sei que é muito diferente ainda. Lá, quando entramos no ensino médio aos 12 anos (até 17 ou 18), já escolhe-se certa especialização para os seguintes 6 anos. Como eu escolhi “Latim & Línguas Modernas”, eu passei 6 anos estudando uma língua morta, que eu não uso para nada, enquanto estudei pouco sobre economia, a sociedade atual, etc. Acho uma pena isso, porque muitos que saem do ensino médio não sabem exercer uma profissão, somente os que escolheram certa profissão como opção de especialização no ensino médio. Somente agora surgiu uma proposta na Bélgica na qual se defende deixar os primeiros 2 anos de ensino médio de maneira generalista, para apenas depois escolher uma direção mais específica. Acho que é uma proposta boa, um passo para frente, e queria que tivesse mudado muito mais cedo, porque eu mesma percebo de vez em quando o tanto que fez falta essa educação generalista.
Saiba mais:
SAVIANI, D., Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista Brasileira de Educação v.12 n.34, [s.l.], jan./abr. 2007.